Duzentos anos atrás no Reino Unido, se você dissesse que iria a um
“clube de cavalheiro”, entenderiam que você iria a um estabelecimento
privado de alta classe onde você poderia relaxar, ler, jogar jogos de
salão, fazer uma refeição e tagarelar com outros de sua classe. Hoje,
nos EUA, se você dissesse que iria a um “clube de cavalheiro”,
entenderiam que você pagaria para ver um strip-tease em um bar com pouca luminosidade.
É isso que deveria realmente tipificar um “cavalheiro”?
Junto com outros negócios orientados para o sexo, a pornografia é com
freqüência classificada como entretenimento “adulto” – algo para
públicos “maduros”. Se isso significasse que esses tipos de
entretenimento não são “apropriados para crianças”, então poucos
levantariam alguma objeção.
Dito isto, seria estúpido usar isso como um argumento de que a
pornografia é própria para adultos. Heroína e metanfetaminas também não
são “apropriadas para crianças”, mas isso não significa, ipso facto, que elas sejam saudáveis para pessoas com mais de 18 anos.
Os defensores da pornografia gostam muito de dizer (“gostar muito” é
uma suavização – eles repetem isso como um mantra) que a pornografia é
um entretenimento sofisticado e maduro próprio para adultos
responsáveis. Eles tentarão fazer com que você acredite que a
pornografia é aquilo que verdadeiros cavalheiros apreciam – como queijo
azul, um bom uísque e Dostoievski. Como o infame Ron Jeremy está sempre
pronto para dizer: “A pornografia é sexo consensual entre adultos que
estão em consenso, para ser assistida consensualmente por adultos.”
O que nos leva à pergunta: O que exatamente constitui um
comportamento “adulto” ou “maduro”? Seria apenas um comentário a
respeito da idade do participante? Ou seria algo mais? Estipular
definições adequadas é complicado porque hoje esses termos são
freqüentemente usados como sinônimos de mídia erótica – que é o tópico
que estamos tentando dissecar.
Usamos o termo “maduro” quando falamos sobre atingir um estágio final
ou desejado. Falamos “vinho maduro” como o vinho que atingiu seu pico
de fermentação e está pronto para ser consumido. Também usamos a palavra
“maduro” para falar de alguém que “cresceu” em seus comportamentos ou
atitudes – essa pessoa não mostra a impetuosidade ou a ingenuidade da
juventude. É exatamente isto o que os patronos de clubes de strip-tease
estão fazendo ao chamarem esses estabelecimentos de “clubes de
cavalheiros”: estão insinuando que as atividades que ocorrem lá são
parte de comportamentos varonis e refinados.
A dopamina e o cérebro
Pergunte qualquer neurocientista como é um cérebro humano “maduro” e
ele ou ela provavelmente falará sobre uma região do cérebro conhecida
como córtex pré-frontal. Ela está localizada bem atrás da testa e serve
de centro administrativo do cérebro. Ela é responsável por nossa força
de vontade, pela regulação do nosso comportamento, e pela tomada de
decisões com base na sabedoria e em princípios. Quando as emoções,
impulsos e desejos surgem do mesencéfalo, os lóbulos do córtex
pré-frontal estão lá para exercerem “controle executivo” sobre eles. Por
volta dos 25 anos, essa região do cérebro atinge a maturidade, o que
quer dizer que o nosso raciocínio torna-se mais sofisticado e que
podemos regular nossas emoções mais facilmente.
Por que colocar a neurociência na equação? Porque estão sendo feitas
pesquisas fascinantes sobre o impacto da pornografia nessa região do
cérebro.
O cérebro foi projetado para responder ao estímulo sexual de
determinado modo. Ondas de dopamina são liberadas durante uma relação
sexual – e, sim, também quando se tem contato com pornografia -, dando à
pessoa um aguçado senso de foco e uma consciência do desejo sexual. A
dopamina ajuda a registrar memórias no cérebro, de modo que da próxima
vez que o homem ou a mulher sentem desejo sexual novamente o cérebro
lembra-se aonde deve retornar para experimentar o mesmo prazer: seja a
outra pessoa uma esposa amável ou um laptop no gabinete de trabalho.
Porém, cientistas estão percebendo agora que a exposição contínua à
pornografia causa no cérebro uma euforia artificial – algo que ele
literalmente não pode suportar – e eventualmente o cérebro se exaure. O
professor de anatomia e fisiologia Gary Wilson observa que esse é o
mesmo padrão identificado quando há abuso de drogas: o cérebro fica
dessensibilizado. Mais doses da droga ou drogas mais pesadas são
necessárias para atingir a mesma euforia, e a espiral descendente
começa. Wilson afirma que isso provoca mudanças significativas no
cérebro – tanto para os viciados em droga quanto para os usuários de
pornografia.
Uma dessas mudanças é a erosão do córtex pré-frontal – aquele
importantíssimo centro de controle executivo. Quando essa região do
cérebro enfraquece, quando o desejo por pornografia aparece, há pouca
força de vontade presente para regular o desejo. Os neurocientistas
chamam esse problema de hipofrontalidade, quando a pessoa perde lentamente o controle sobre os impulsos e o domínio sobre suas paixões.
O ponto é o seguinte: Aquilo que, no cérebro, é a marca da idade
adulta e da maturidade é a coisa que é destruída quando vemos mais
pornografia. É como se o cérebro estivesse retrocedendo, tornando-se
mais infantil. O entretenimento “adulto”, na verdade, nos torna mais
infantis.
A brilhante mentira de Hugh Hefner
A tentativa de transformar o desvio sexual em algo cavalheiresco me
parece nada mais do que a tentativa de enfraquecer os homens para
justificar um comportamento indecente. Desde que o primeiro número da Playboy
chegou às bancas de jornal em 1953, a estratégia de Hugh Hefner teve
duas dimensões: para os distribuidores, ele vendeu a revista como
pornografia leve, mas para o público alvo ele a vendeu como uma “revista
sobre estilo de vida” masculino para homens em ascensão. O sociólogo
Gail Dines explica como a Playboy fez seu próprio marketing, dando início então à mudança da imagem pública da pornografia:
“Quando os editores se dirigiam ao leitor, as imagens eram apenas uma das muitas atrações, e não a atração.
O leitor era convidado não a se masturbar diante da fotografia central,
mas antes a entrar no mundo da elite cultural, a discutir filosofia e
consumir comidas associadas à classe média alta. As marcas de uma vida
de classe abastada, que aparecem causalmente como reflexões (coquetéis, hors d’oeurvre e Picasso), foram colocados deliberadamente para mascarar a revista com uma aura de respeitabilidade de classe média alta.”
Assim como certamente a Playboy teria morrido sem as
mulheres nuas enchendo suas páginas, a revista também teria morrido sem
seus artigos e propagandas, que deram permissão ao homem norte-americano
auto-definido como classe média a viciar-se em pornografia.
Por que as lojas para adultos têm entradas pelos fundos? Seria porque
sua clientela é composta por revolucionários incompreendidos que estão
tramando o fim de sociedade sexualmente reprimida? Ou será que é algo
muito mais simples que isso? Não seria porque eles sabem que tal
comportamento é errado?
Quando alguém considera as opções, qual atividade soa mais “madura” e
adulta: ter uma vida conjugal por toda a vida com uma mulher de carne e
osso a quem você está ansioso para servir e estimar, apesar de todos os
seus erros e defeitos (e apesar dos seus próprios), ou fugir à noite
para navegar na internet, trocando de mulher a cada momento, de um vídeo
de 30 segundos a outro, ininterruptamente, buscando o prazer enquanto
você se vincula a pixels numa tela?
Não, mergulhar na pornografia e em outras formas de sexo comercial
dificilmente merecem o adjetivo “adulto”. Ações falam mais do que
palavras – mesmo quando essas palavras têm 1,5 metros de altura, são
feitas de neon e apresentam a frase “clube de cavalheiros”.
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