A aquisição e o desenvolvimento da
linguagem não-verbal, desde muito cedo já pode ser observada, tais como; as variações
do tônus, contração e descontração muscular entre a mãe e o bebê, o olhar ao
alimentá-la, as expressões faciais, os tipos de choro que claramente podem ser
identificados e diferenciados, tais como dor, fome, sono, etc.
Esta é a maior prova de que a Comunicação humana não resume-se apenas a fala e a escrita, (linguagem
verbal ) mas também, aos sons que formam seus significados quando há uma função
comunicativa inserida em um contexto adequado de comunicação.
O apontar por volta dos
11 meses é um marco, podendo inicialmente ter a intenção apenas de
"mandar", apontar para algo que quer, e depois pode ter a intenção de compartilhar a atenção com alguém e
apontar para que outra pessoa possa acompanhar aquele momento.
Uma criança em condições de estímulo normal começa a se
comunicar verbalmente a partir de 1 ano e meio a 2 anos de idade , porém
iniciam este treinamento a partir dos balbucios que surgem nos primeiros meses
de vida do bebê e posteriormente conseguem transformar esses pequenos sons em
com uma única palavra e mais
tarde conseguem juntar intencionalmente duas
palavras com significado; formando assim as frases telegráficas; ex: “Duda
papa”. Posteriormente as frases vão se
alongando, passando cada vez mais a ter elementos, ex; “Dudu brinca bola.
Entre os 9 e os 13 meses
assiste-se a uma alteração significativa no domínio do processamento auditivo da fala,
manifestada na capacidade de compreensão do significado de sequências
fonológicas em contexto.
Entre os 10 e os 24
meses, a criança reconhece muito
mais palavras e portanto, há um aumento do poder discriminatório de
sons. Neste período o bebê é capaz de associar objetos a sílabas sem sentido, o
que revela um aperfeiçoamento no processo de discriminação. As expressões de tempo e espaço passam a fazer parte do discurso,
possibilitando narrar situações que não estão presentes. Ex “Dudu, foi ao parque.” “Parque grande bonito.
As frases mais complexas que exigem mais conteúdo como as
orações com pronomes do tipo
"que" são possíveis a partir dos 3 anos. estando assim, apta
a falar frases completes. Ex “Eu fui ao parque, e é grande e bonito.
Até atingir a capacidade de estabelecer um diálogo, a criança
passa por fases em que depende
do adulto para que o mesmo aconteça. Os adultos tentam adivinhar o que significam as produções pouco
compreensíveis da criança ( especularidade
). Esta acontece quando a criança começa a emitir sons e sílabas que podem ser compreendidas como palavras
que vão aumentando a e os adultos podem complementá-las (complementaridade), é quando aparecem as primeiras combinações de
palavras, juntando uma ou duas palavrinhas,
somente depois a criança poderá iniciar e manter um diálogo sem um auxílio tão
direto (reciprocidade). Essa primeira estruturação da conversa
em diálogo é gradual e, até o final dos 2 anos, a criança consegue desenvolver
bem a troca dialógica destas três etapas.
Estas etapas nos fazem refletir o papel, extremamente relevante,
do cognitivo e psicológico pelo qual a criança passa nestas etapas; a criança aprende mais dos zero aos seis anos
do que um adulto ao longo de toda a sua vida; portanto torna-se extremamente importante o estímulo e a
atenção a possíveis alterações manifestadas nesta fase, podendo levar ao comprometimento do desempenho da
criança, não apenas escolar, mas também social e familiar.
Podemos dizer que um distúrbio da comunicação ocorre quando um
indivíduo não consegue compreender ou expressar suas ideias, seja pelo meio
verbal e/ou não verbal, e as alterações podem ocorrer por causas variadas,
sendo elas hereditárias (ex: perdas auditivas ou gagueira), adquiridas com o
desenvolvimento (ex: trocas ou distorções nos sons da fala) ou de início súbito
ou tardio (ex: Afasia por sequelas de AVC ou traumatismo craniano).
Como podemos perceber a alteração no desenvolvimento de
linguagem pode se manifestar desde muito cedo na vida do bebê, quando
demonstram atraso nas etapas citadas anteriormente, e na sua grande maioria, as
crianças começam a desenvolver a linguagem verbal entre um e dois anos de
idade, porém algumas apesar de já estarem por volta de dois anos ou mesmo tendo
ultrapassado tal idade, ainda não adquiriram a linguagem oral ou estão
apresentando um desenvolvimento lento, a criança pode também apresentar
dificuldade em compreender frases ou conceitos. Porém muitas vezes passam desapercebidas
pelos familiares, notando alguma alteração quando ingressam na escolar e
percebem a ausência da oralidade ou diferenças entre os colegas de classe.
O Atraso Simples é
encontrado em crianças que apresentam defasagem no desenvolvimento da
linguagem; essas crianças demoram a
falar e parecem imaturas. Seu
padrão de linguagem é compatível com crianças mais novas (menor idade cronológica), mas seguindo
a mesma ordem de aquisição.
Algumas crianças podem recuperar o atraso inicial com orientação adequada.
Porém
existem fatores muito importantes a serem avaliados, pois
aparentemente, esse atraso pode ser ocasionado por problemas tais como:
·
dores de ouvido (otites frequentes)
· surdez ou
diminuição auditiva.
·
complicações respiratórias no período
de aquisição da linguagem.
·
falta de estímulo ou estimulação inadequada da fala,
•
superproteção ou
abandono,
•
alterações neurológicas,
•
alterações nos órgãos fonoarticulatórios como fissuras labiais,
fendas palatinas, anomalias faciais,
•
déficit motor,entre outras.
A criança poderá assim comportar-se com os seguintes padrões;
•
Usa o adulto como instrumento para conseguir o que deseja, no
lugar de se manifestar verbalmente ou por gestos ou expressões faciais;
apontando o que deseja.
•
pouca intenção de iniciar
ou manter um diálogo;
•
mesmo que se expresse bem, a troca de idéias é restrita (não há
reciprocidade na comunicação);
•
mais facilidade para listar palavras ou situações do que para
contar histórias;
•
dificuldade com a linguagem figurada, incluindo a compreensão de
metáforas e/ou piadas;
•
ingenuidade em situações sociais, com dificuldade em se colocar
no ponto de vista dos outros;
•
tendência a superfocar em objetos ou assuntos em particular, em
detrimento de uma visão mais global sobre a situação ou assunto.
•
Pouca memória para uma sequência de sons, por isso tendem a
falar em um primeiro momento basicamente monossílabos;
•
Dificuldade no planejamento motor da produção dos fonemas;
•
Frases desestruturadas e/ou construídas na ordem inversa;
•
Vocabulário reduzido;
•
Trocas na fala;
•
Dificuldades na compreensão (ou não)
O desenvolvimento da linguagem implica na aquisição plena do
sistema linguístico que nos possibilita a inserção no meio social, a
possibilidade de assumir a nossa identidade, além do desenvolvimento dos
aspectos cognitivos já discriminados acima.
Dentre todas as questões complexas que envolvem esse processo, o
atraso "simples" na aquisição da linguagem dificulta o amadurecimento
e a experimentação da linguagem necessária para a aquisição formal da
leitura/escrita. Sua imaturidade linguística irá refletir no vocabulário
reduzido e no conhecimento de mundo restrito. Tal fato trará repercussões na
interpretação de textos e também na elaboração de histórias escritas.
Falhas na aquisição e no desenvolvimento fonológico, como
problemas na produção dos sons da fala ou discriminação dos mesmos, podem
refletir na leitura e/ou na escrita. Então podem levar a criança, por exemplo,
a trocar, omitir ou transpor fonemas ou grafemas. A criança demoraria a
adquirir a autonomia dos processos de leitura e escrita ou podem culminar com
problemas maiores.
De maneira geral, pediatras e professores são os primeiros profissionais solicitados
a opinar e orientar, por serem mais presentes no acompanhamento do desenvolvimento
infantil. Mas tal intervenção só ocorrerá em bom nível técnico com a presença
direta ou indireta de um fonoaudiólogo.
O fonoaudiólogo é
o profissional habilitado para identificar, diagnosticar e tratar indivíduos
com distúrbios da comunicação oral e
escrita, voz e audição. Entretanto, nesse processo, é fundamental a
participação de outros profissionais que acompanham o desenvolvimento infantil,
como pediatras, educadores, psicólogos, pedagogos, neurologistas, terapeutas
ocupacionais, agentes comunitários de saúde, entre outros.
Normalmente
a base da terapia é a orientação de
pais ou pessoas que ficam diariamente com a criança objetivando estimular adequadamente a fala e
a linguagem da criança, favorecendo assim um bom desenvolvimento da
linguagem.
Maria Paula Costa Raphael
Fonoaudióloga e Sociopsicomotricista Ramain-Thiers
CRFa 7364-RJ
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