Thorkill Sonne é um caçador de talentos. Sua missão
é encontrar, treinar e apresentar ao mercado as melhores pessoas para
preencher vagas que nem sempre encontram candidatos à altura. São
especificamente funções na área de tecnologia da informação que demandam
profissionais com um grande poder de concentração e muita atenção aos
detalhes.
Na busca por esse perfil e mobilizado por um
drama pessoal, Sonne se deu conta de que um grupo normalmente relegado
às margens do mercado de trabalho – e, às vezes, até da sociedade – era
capaz de desempenhar essas atividades melhor do que ninguém: as pessoas
com autismo.
Ali, no que a maioria das pessoas via
desvantagem, Sonne percebeu uma oportunidade justa de crescimento e quer
alocar 1 milhão de profissionais no mercado de trabalho.
"Se alguém tem algum tipo de desordem, como autismo, as pessoas
simplesmente não esperam nada dela. Mas ela pode ser muito mais esperta
do que se pensa. Nós ajudamos pessoas, empresas e governos a pensar a
partir dessa perspectiva", diz Sonne, fundador da Specialisterne
(especialista em dinamarquês), uma empresa da área de TI que avalia,
capacita e forma consultores com autismo, oferecendo-lhes a
oportunidades de ter uma vida produtiva.
Entre as
atividades que os "especialistas" de Sonne são capacitados a fazer estão
desde a manipulação de dados, o teste da funcionalidade de aplicativos,
até a programação e a construção de algoritmos. Parte disso ocorre,
frisa ele, porque muitos autistas têm capacidades profissionais únicas.
"Muitas vezes, eles têm uma memória excelente, uma ótima habilidade de
perceber padrões e uma incrível capacidade de encontrar alegria ao
desempenhar funções que a maior parte das pessoas acharia chato",
enumera Sonne.
A ideia de fundar a Specialisterne teve
princípio em uma observação profissional. Sonne sempre se incomodou com
a falta de mão de obra especializada que a empresa onde trabalhava – e
viria a se tornar a sua primeira cliente – enfrentava rotineiramente.
Mas foi uma razão pessoal que fez Sonne perceber quem seriam as pessoas
ideais para preencher essa lacuna. Aos dois anos de idade, seu filho
Lars, hoje adolescente, foi diagnosticado com autismo.
Até então, Sonne e sua mulher nunca tinham tido contato com o assunto.
"Primeiro, não sabíamos o que fazer. Depois, começamos a ler livros,
conhecer pessoas", conta ele. Com o tempo, foram percebendo que Lars
tinha uma memória fora do comum e que, entre crianças e jovens autistas,
muitos tinham capacidades que poderiam ser aproveitadas no mercado de
trabalho, se bem trabalhadas.
Estava aí a chave da
mudança. Sonne pediu demissão, hipotecou a casa, elaborou uma
metodologia de trabalho e fundou a Specialisterne.
"Nós não ensinamos a eles como 'se comportar bem'. Eles não precisam se
adaptar às regras normais de um ambiente de trabalho", afirma Sonne.
Seus "especialistas" não são obrigados a serem bons em atividades que
vão contra a sua natureza, mas apenas desempenhar bem determinadas
funções para as quais têm destreza, o que lhes garante sustentabilidade
no emprego.
"Eles não precisam aprender a se adaptar
às regras normais de ambientes de trabalho, como ser bom em trabalho de
equipe, ser empático, lidar bem com o estresse ou ser flexível. Essas
não são características normais em pessoas com o autismo", diz a empresa
em seu site. Por isso, parte do trabalho da Specialisterne é também
preparar a empresa para receber seus especialistas em sua equipe.
Meta ousada
Quase uma década depois do início de sua atuação, Sonne não tem mais
apenas uma empresa na Dinamarca. Ele já atua em países como Noruega,
Áustria e Estados Unidos. Mais recentemente, além do trabalho direto com
as pessoas com autismo, ele lançou a Fundação Specialist People cujo
objetivo é falar para pessoas, organizações e governos sobre o assunto e
para fazer seu modelo replicável pelo mundo. "Faz parte da nossa
estratégia ter o nosso modelo copiado. A gente gosta quando isso
acontece", diz ele.
Com toda essa rede de apoios,
Sonne determinou uma meta ousada: colocar 1 milhão de pessoas com no
mercado de trabalho. Para chegar a esse número, Sonne fez uma conta
simples. Não há pesquisas inteiramente confiáveis, mas calcula-se que,
no mundo, cerca de 68 milhões de pessoas tenham autismo e outras tantas
tenham sido diagnosticadas com desordens similares. Todos eles são
"especialistas" em potencial.
"Ao colocar essas
pessoas no mercado de trabalho de maneira sustentável, criamos esperança
para milhares de pessoas. Vemos famílias felizes, pessoas com autismo
aparentemente tendo uma boa vida. É para isso que trabalhamos", afirma
Sonne.
Fonte: UOL
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