segunda-feira, 21 de abril de 2014

Empresas buscam autistas por suas habilidades únicas

menino está na frente de cubos, onde se lê: autismo, em inglês


Algumas empresas estão vendo o autismo cada vez mais como uma vantagem no trabalho, em vez de uma deficiência.
A empresa alemã de software SAP AG, por exemplo, tem procurado ativamente pessoas com autismo para certas posições, não como uma iniciativa de caridade, mas por acreditar que as características do autismo podem tornar algumas pessoas melhores para determinadas tarefas.
Segundo especialistas na deficiência, a iniciativa tem mérito: Estima-se que 85% dos adultos com autismo estejam desempregados. O programa, iniciado na Alemanha, Índia e Irlanda, também está sendo lançado em quatro escritórios da empresa na América do Norte.
A SAP pretende que, até 2020, 1% da sua mão-de-obra, de cerca de 650 pessoas, seja de pessoas com autismo, diz José Velasco, responsável pela iniciativa da SAP nos Estados Unidos.
Pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) — que têm como características um comportamento repetitivo e deficiência para interações sociais — tendem a prestar muita atenção a detalhes, o que pode torná-las muito indicadas para fazer testes de software e eliminar falhas, segundo Velasco, que tem dois filhos com a doença.
Além disso, essas pessoas trazem uma perspectiva diferente ao local de trabalho, o que pode contribuir para a eficiência e a criatividade, diz.
"Elas têm uma natureza muito estruturada" e apreciam resultados precisos e sem ambiguidade, diz. "Estamos olhando para esses pontos fortes e vendo onde eles teriam valor na organização."
Os funcionários autistas da SAP assumiram funções como a identificação de problemas de software e a distribuição de consultas feitas pelos clientes à central de atendimento, para membros da equipe responsável pela solução de problemas.
Um desses funcionários autistas trabalha em "marketing de talentos", enviando mensagens a outros empregados internamente. A empresa procura alguém para produzir vídeos e está considerando um candidato com autismo que tenha experiência em mídia.
A SAP também está cogitando oferecer outras funções para autistas, como a redação de manuais que deem a clientes instruções muito precisas sobre como instalar o software.
As pessoas com autismo podem se sobressair numa descrição passo a passo, por exemplo, sem omitir detalhes que outros podem deixar escapar, diz Velasco. 
O processo de compras, como a obtenção de notas fiscais ou a gestão da cadeia de suprimentos, é outra área em que um indivíduo com autismo pode se destacar, diz ele.
A SAP não é a única empresa a ter um programa desse tipo. Nos EUA, a agência de hipotecas Freddie Mac oferece estágios desde 2012, inclusive na área de TI, finanças e pesquisa.
A instituição contratou seu primeiro funcionário em tempo integral desse programa em janeiro, segundo uma porta-voz da Freddie Mac. 
Na área de TI, a empresa descobriu que os estagiários têm um bom desempenho em testes e modelagem de dados que exigem foco e grande atenção a detalhes, assim como uma maneira de ver as coisas que pode ter sido ignorada pelos desenvolvedores.
"Aproveitar as habilidades únicas de pessoas no espectro autista tem o potencial de fortalecer nosso negócio e nos tornar mais competitivos", diz a norma interna da Freddie Mac.
Assim como ocorre em qualquer grupo, pessoas com autismo têm uma gama de interesses e habilidades. A SAP está trabalhando com uma consultoria dinamarquesa de treinamento com foco no autismo, a Specialisterne.
A firma faz uma seleção cuidadosa de candidatos para encontrar profissionais adequados, antes de enviá-los para serem avaliados pela SAP.
Patrick Brophy, de 29 anos, é bacharel em ciência da computação e fez pós-graduação em sistemas de multimídia, que inclui o desenvolvimento de sites e edição. Brophy diz ter a síndrome de Asperger, termo comumente usado para descrever uma forma mais branda do transtorno do espectro autista.
Ele estava procurando um emprego integral há alguns anos, mas diz que, nas entrevistas pelas quais passou, acabava gaguejando ou interpretando mal as perguntas, o que ela acha que prejudicou seu resultado.
Mas quando chegou à SAP para a entrevista, ele tinha as qualificações técnicas e parecia ter a capacidade de trabalhar num ambiente corporativo, diz Peter Brabazon, gerente de programas da Specialisterne. Brophy foi contratado pelo departamento de garantia de qualidade em julho, onde identifica falhas em software que ainda vai ser vendido.
"Quatro semanas antes de entrar [na empresa], comecei a ficar mais nervoso", diz Brophy, que se preocupava com sua adaptação a um novo ambiente. "Em um mês, [o trabalho] se tornou natural. Eu me encontrei."
Para Brophy, o trabalho traz desafios, especialmente quando tem que mudar a forma com que faz uma determinada tarefa. Do ponto de vista social, foi fácil se integrar à equipe, diz Brophy e David Sweeney, colega designado para ser seu mentor.
Estima-se que 1% da população dos EUA, cerca de três milhões de pessoas, tenha uma síndrome do espectro autista. 
Os dados mais recentes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, divulgados na semana passada, mostram que 1 em cada 68 crianças foi diagnosticada com alguma espécie de autismo nos EUA.
No Brasil, o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo estimou, em 2007, que há um milhão de casos de autismo no Brasil. No dia 07/04, foi inaugurada em Itaboraí, RJ, a primeira clínica-escola para autistas do Brasil, que também funcionará como centro de capacitação profissional.
Fonte: The Wall Street Journal
 
 

Tecnologia 'Kinect' ajuda a desenvolver habilidades sociais de autistas



Uma escola da Virginia, nos Estados Unidos, usa os games para ajudar crianças com autismo.

http://terratv.terra.com.br/trs/video/7350864

Veste robótica está ‘pronta para a Copa’

por Roberta Jansen e Maria Clara Serra

Prótese tem chips que identificam atividade elétrica no cérebro, que é traduzida em movimento
Foto: Reprodução
Prótese tem chips que identificam atividade elétrica no cérebro, que
é traduzida em movimento Reprodução
O jogador do futuro é brasileiro. Ele será apresentado ao mundo em 12 de junho de 2014, durante a abertura da Copa do Mundo — a primeira realizada no país desde 1950, quando o Brasil perdeu para o Uruguai na final, em pleno Maracanã. Na cerimônia, o atleta canarinho pretende marcar o maior gol da ciência nacional dos últimos anos: ser o primeiro paraplégico do mundo a chutar uma bola e correr para a torcida. Neurocientista e torcedor fanático de futebol, o brasileiro Miguel Nicolelis, da Universidade de Duke, nos EUA, conta que está tudo pronto para apresentação. Um paraplégico usando uma veste robótica (ou exoesqueleto) será capaz de dar o pontapé simbólico na festa de abertura da competição. Não se sabe ainda se será um homem ou uma mulher, mas será um brasileiro, na faixa dos 25 aos 35 anos, com paralisia total dos membros inferiores.

Esta pessoa não apenas será capaz de dar o pontapé inicial na cerimônia. Ela também sentirá - provavelmente pela primeira vez em muitos anos — a grama do campo sob seus pés. Uma pele artificial será colocada na sola do pé do jogador e emitirá sinais para o seu antebraço. Na realidade, a sensação de andar sobre a grama será no braço, mas, como a pessoa está, de fato, caminhando, ela “engana” o cérebro, que passa a incorporar as pernas virtuais como próprias, e “sente” a grama sob os pés.

- Eu mesmo testei, e é incrível - garante Nicolelis. - É uma ilusão muito poderosa, eu senti como se estivesse correndo pelo gramado.

O grupo de pesquisa de Nicolelis é um dos mais avançados do mundo num campo inovador de pesquisa, conhecido pelo pouco amigável nome de interface cérebro-máquina. O objetivo dessa linha de estudos é conseguir mover membros virtuais (externos ao corpo) apenas com a força da mente. 

Parece pura ficção científica, mas é tecnologia de ponta. O traje robótico, por exemplo, construído a partir de ligas leves e alimentado por um sistema hidráulico, foi elaborado por Gordon Cheng, da Universidade Técnica de Munique, e tem a função de trabalhar os músculos da perna paralisada. E, embora seja fruto de um complexo trabalho envolvendo centenas de cientistas ao longo de pelo menos dez anos, não é tão difícil de explicar como pode parecer.

Pessoas que não têm nenhuma lesão na medula se movimentam da seguinte forma: em primeiro lugar, elas imaginam o movimento que querem executar; por exemplo, chutar a bola que está a sua frente. Em seguida, o cérebro envia essa intenção de movimento à perna, por meio de células nervosas da coluna. Somente então, quando os sinais nervosos chegam aos membros inferiores, o movimento acontece. Claro que não nos damos conta de nada disso porque tudo acontece em frações de segundo, criando a ilusão de uma simultaneidade que, na verdade, não existe.

Chips decodificam intenção de movimento
Em pessoas paraplégicas, no entanto, isso não ocorre. O sinal enviado pelo cérebro, indicando o movimento, não chega aos membros inferiores por conta da lesão na medula, que bloqueia o caminho dos sinais nervosos. O que o grupo de pesquisadores liderados por Nicolelis descobriu foi uma forma de driblar tal interrupção.

Isso é possível por meio de chips acoplados a uma touca, capazes de decodificar a atividade elétrica gerada no cérebro pela intenção do movimento. Esta intenção, por sua vez, será traduzida na forma de comandos digitais por um computador levado nas costas do jogador, em uma mochila. São esses comandos, por fim, que vão gerar movimento nos membros externos do exoesqueleto.

A pessoa que dará o pontapé inicial da Copa do Mundo estará vestida com o protótipo do que o grupo do cientista chama de prótese inteligente - uma estrutura metálica articulada em pontos-chaves dos membros paralisados.

- É como um aparelho de reabilitação, uma prótese de corpo inteiro, que permitirá ao paciente realizar os movimentos - revela Nicolelis. - Enquanto a pessoa usá-lo, voltará a ter autonomia.

O protótipo ficou pronto em novembro passado e, desde dezembro, um grupo de oito pessoas (seis homens e duas mulheres) com lesões nos membros inferiores está treinando o uso da prótese, como parte do projeto Andar de Novo. Todas elas são candidatas a se tornarem o jogador do futuro, mas o nome de quem vai adentrar o gramado, segundo o neurocientista, ainda não foi revelado. Seu uniforme tampouco foi apresentado - é uma surpresa guardada para o dia da festa - mas, certamente, será verde e amarelo.

O grupo de cientistas já até levou o protótipo para um teste em um estádio de futebol. Havia o temor que, num local aberto, repleto dos mais diversos sinais eletrônicos, pudesse haver interferências no equipamento. Mas, conta o neurocientista, deu tudo certo. Embora Nicolelis tenha feito boa parte de sua carreira nos EUA, o treinamento para a Copa do Mundo está sendo realizado em São Paulo, no Laboratório de Neurorobótica da Associação Alberto Santos Dumont, em parceria com a Associação de Assistência à Criança Defeituosa.

- Tudo está caminhando como o planejado - conta Nicolelis. - Toda a tecnologia foi desenvolvida, os pacientes já são capazes de controlar os movimentos e interpretar o feedback tátil.

Novo capítulo nas terapias de reabilitação
Ao fim, explica o neurocientista, quem estiver mais bem preparado dará o pontapé simbólico, será uma escolha circunstancial.

- Mas estão todos muito engajados e todos continuarão trabalhando. E haverá outras demonstrações. As pessoas estão achando que é o fim do projeto (a demonstração na Copa do Mundo), mas, na verdade, é apenas o começo.

Para o cientista, sua audaciosa engenhoca abre um novo capítulo nas terapias de reabilitação, não só de paraplégicos.

- A técnica poderá ser usada para treinamento e reabilitação de pessoas que tenham limitações, como idosos com dificuldade de andar - explica. - Poderá dar autonomia a paraplégicos e, quando adicionarmos braços, poderá ser usada também por tetraplégicos.

Nicolelis diz não ter o cálculo final do custo do protótipo, mas admite que é muito caro ainda.

- Com a popularização, o preço vai cair e se tornar acessível. É como o primeiro carro de Henry Ford ou o primeiro avião de Santos Dumont - compara, deixando de lado a modéstia.- Vamos difundir para o mundo todo algo extremamente útil para milhões de pacientes e, ao mesmo tempo, galvanizar o interesse pela ciência num evento esportivo, passando uma imagem do Brasil que poucas pessoas têm em mente.

De fato, se conseguir fazer um paraplégico dar o pontapé inicial da Copa, Nicolelis se credenciará ao cobiçado Prêmio Nobel (seria o primeiro do país) e o Brasil mudará de patamar na ciência mundial. Um gol decisivo numa Copa do Mundo em território nacional.

Fonte: Jornal O Globo

Comissão aprova lei para desconto em torpedos enviados por pessoas com deficiência auditiva

Celular com imagem de carta na tela
A Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática aprovou projeto (PL 3554/12, do Senado) que assegura desconto nos planos de mensagem de texto por celular para pessoas com deficiência de audição ou fala. 
Hoje, as operadoras já são obrigadas a oferecer esses planos especiais, mas a determinação é feita por meio de resolução da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O projeto torna essa medida expressa em lei.
O relator do projeto na comissão, deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), disse que a resolução não tem garantido o direito para essa população. 
 "As pessoas que têm procurado esse tipo de atendimento, não conseguem. Por lei, aí sim, [as operadoras] teriam que obrigatoriamente atender a essas pessoas."
O parlamentar modificou o texto original do projeto para determinar que o custo desse desconto seja coberto por recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). Ele afirmou que, com isso, ficará garantido o financiamento do benefício.
 
Comunicação
 
A deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) chamou a atenção para a importância que o serviço de torpedos tem para os deficientes de fala e audição, que só podem se comunicar a distância por escrito. Ela também defendeu que seja facilitado o acesso dessa parcela da população à internet.
O sindicato que reúne as operadoras de celular informa que já são oferecidos planos especiais às pessoas com deficiência de audição ou fala, desde que sejam apresentados um exame audiométrico ou a carteirinha de uma associação de surdos.
 
Tramitação
 
A proposta tramita em caráter conclusivo e foi aprovada pela Comissão de Ciência e Tecnologia em março passado. O projeto já passou pela Comissão de Seguridade Social e Família e ainda precisa ser votado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Se for aprovado o texto modificado pela Câmara dos Deputados, o projeto volta ao Senado para nova análise.
 

Espaço Itaú de Cinema oferece tecnologia de acessibilidade a partir de smartphones e tablets

Logotipo do Whatscine
O Whatscine, que está sendo usado pela primeira vez no Brasil, ficará disponível somente no complexo Frei Caneca, na exibição do filme “Hoje eu Quero Voltar Sozinho”, de Daniel Ribeiro, que estreou na quinta, dia 10 de abril.
 
O aplicativo é gratuito e transmite recursos de audiodescrição, interpretação em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e subtitulação – conteúdo acessível produzido pela OSCIP Mais Diferenças.
Em parceria com a OSCIP Mais Diferenças, o Espaço Itaú de Cinema e a Vitrine Filmes lançam no cinema o Whatscine: aplicativo que transmite recursos de audiodescrição, interpretação em LIBRAS e subtitulação a smartphones e tablets, permitindo a inclusão de pessoas com deficiência
O programa tem estreia exclusiva no cinema brasileiro com o filme Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, do diretor Daniel Ribeiro. O aplicativo estará disponível gratuitamente, a partir da próxima quinta-feira, 10 de abril, no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca, em São Paulo.
O Whatscine, tecnologia desenvolvida pela Universidad Carlos III, de Madri, oferece acessibilidade a pessoas com deficiência em smartphones e tablets. 
Isso é possível graças aos recursos de (a) audiodescrição via fones de ouvidos; (b) imagens nas telas dos dispositivos de intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS); (c) e subtítulos também nos visores. 
Sua utilização não gera desconforto aos espectadores sem deficiência, pois possui baixa luminosidade e o áudio não é transmitido por alto falante. O aplicativo oferece ainda opções de interatividade e publicidade aos espectadores, trazendo novas opções de entretenimento.
O objetivo do Espaço Itaú de Cinema e do Whatscine é promover a inclusão, o lazer compartilhado e o acesso à cultura para todos, equiparando oportunidades e incorporando novo público ao cinema. 
O Whatscine foi lançado recentemente na Europa,e sua introdução no Brasil mostra a importância do nosso país no cenário de inclusão das pessoas com deficiência”, comenta Luis Mauch, um dos idealizadores da iniciativa.
 
Sobre Recursos de Acessibilidade
 
Audiodescrição: A audiodescrição, informação falada de imagens, é um recurso de acessibilidade que possibilita ao cego captar o que é visual numa cena. É um detalhamento do que está na imagem. A audiodescrição consiste em descrever cenários, personagens, posições, formas, cores, situações e detalhes para que as pessoas com deficiência visual tenham acesso aos bens e produtos culturais.
 
Interpretação em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS): Tradução do conteúdo e do contexto do texto falado. É um recurso de acessibilidade que possibilita que as pessoas com deficiência auditiva ou surdas tenham acesso às informações sonoras através da interpretação na Língua Brasileira de Sinais.
 
Subitulação: Legendas escritas que apresentam, além dos diálogos, os elementos narrativos não verbais, como sons, músicas, efeitos sonoros e indicação de personagens. Este recurso de acessibilidade é destinado aos espectadores com deficiência auditiva ou surdez, promovendo o acesso a informações que auxiliam no entendimento da obra
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HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO 
Origem: Brasil, 2013
Duração:96 min 
Censura: 12 anos   
Direção: Daniel Ribeiro   
Elenco: Ghilherme Lobo, Tess Amorim, Fabio Audi   
Sinopse: Leonardo é um adolescente cego em busca de sua independência. Seu cotidiano, a relação com a melhor amiga, Giovana e a sua forma de ver o mundo ganham novos contornos com a chegada de Gabriel um menino que vai fazê-lo descobrir coisas que ele nem imagina.  
Distribuição: Vitrine
Fonte: Portal de Tecnologia Assistiva
 
 

Um tabu impede que se discuta a maldade infantil. Mas ela existe. E pode esconder transtornos graves.

por Martha Mendonça
Aos 7 anos, T. convenceu seus pais, profissionais liberais de Belo Horizonte, a demitir duas empregadas domésticas. O motivo alegado: elas batiam nele. As duas negaram as agressões, mas o menino chegou a apresentar uma marca roxa no braço. Um ano depois, nova queixa sobre outra empregada. Revoltado, o casal decidiu colocar câmeras escondidas. O que viram foi uma surpresa: T. era o agressor, com pontapés e atirando brinquedos. No fim de uma semana, perguntaram se a empregada havia batido nele novamente. Choroso, T. respondeu que havia sido surrado na cozinha – onde as imagens não mostravam nada. Diante das sucessivas mentiras, foi castigado. 

Três anos depois, reincidiu. Com os pais já separados, adquiriu o costume de tirar dinheiro da carteira dos dois, dizendo ao pai que era a mesada da mãe, e vice-versa. Os pais só descobriram a farsa durante uma discussão sobre dinheiro. Pouco antes, uma empregada fora mandada embora da casa da mãe depois do sumiço de R$ 50. T. disse que a vira pegar a nota. Diante disso, os pais concluíram que o menino precisava de tratamento. Poucas sessões depois, o diagnóstico foi duro: ele apresentava o chamado transtorno de conduta, nome formal para a velha “índole ruim”. 

“Não é fácil a sociedade aceitar a maldade infantil, mas ela existe”, diz Fábio Barbirato, chefe da Psiquiatria Infantil da Santa Casa, no Rio de Janeiro. Ele explica que a criança ou adolescente que tem essa patologia pode se transformar, na vida adulta, em alguém com a personalidade antissocial – o termo usado hoje em dia para o que era chamado de psicopatia. “Essas crianças não têm empatia, isto é, não se importam com os sentimentos dos outros e não apresentam sofrimento psíquico pelo que fazem. Manipulam, mentem e podem até matar sem culpa”, diz Barbirato. Por volta da década de 70 do século passado, teorias sociais e psicanalíticas tentaram vincular esse comportamento perverso à educação e à sociedade. Nos últimos anos, porém, os avanços da neurologia sugerem a existência de um fenômeno físico: imagens mostram que, nas pessoas com personalidade antissocial, o sistema límbico, parte do cérebro responsável pela empatia e pela solidariedade, está desconectado do resto. 

Um obstáculo para o tratamento de crianças com sinais de transtorno de conduta é o próprio tabu da maldade infantil. O senso comum afirma que as crianças são inocentes – uma crença que resulta da evolução histórica da família. Até o século XVII as crianças eram consideradas pequenos adultos e muitas nem sequer eram criadas pelos pais. No século XVIII, isso mudou. A família burguesa fechou-se em si mesma, dentro de casa. O lar virou um santuário e a criança o centro dos cuidados e das atenções. Foi o nascimento do sentimento de infância, dentro de um grupo que agora tinha como laços o afeto e o prazer da convivência. Se a criança é o eixo do sentimento moderno de família, ela não pode ser má. Eis o tabu. 

Foto: Renato Rocha Miranda/Divulgação TV Globo
NÃO PODE
A atriz mirim Klara Castanho como Rafaela, a criança manipuladora de 
Viver a vida. A justiça não quer que ela seja má


Desde que a novela das 9 da TV Globo, Viver a vida, foi ao ar, em 2009, o Ministério Público do Rio de Janeiro acompanhou de perto a personagem Rafaela. A menina, vivida pela atriz mirim Klara Castanho, de 9 anos, desagradou à Justiça. O autor, Manoel Carlos, foi notificado. No documento, um pedido para que ele tenha “cuidado ao elaborar a personalidade de personagens cujos atores são menores de idade”. Na trama, Rafaela é uma menina mimada, que, para defender seus interesses, faz chantagem com uma amiga de sua mãe. Rafaela não pratica a maldade sem motivações concretas ou demonstra curiosidade mórbida. Ainda assim, o Ministério Público considera a personagem pouco adequada. Criança, aparentemente, não pode ser vilã. 

As escolas, porém, desmentem isso: elas costumam ser o palco diário das maldades das crianças com transtorno de conduta. A psiquiatra carioca Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do best-seller Mentes perigosas, diz que crianças e adolescentes com esse distúrbio costumam estar por trás dos casos mais graves de bullying. Em maio, ela lançará Bullying – Mentes perigosas nas escolas, com foco na maldade infantil. “É típico do jovem com transtorno de conduta saber mentir e manipular para que os outros levem a culpa”, afirma. Barbirato faz uma ressalva. “Pequenas maldades e mentiras são absolutamente comuns na infância. De cada 100, cerca de 97 têm comportamento normal e, ao amadurecer, saberão diferenciar o certo do errado e desenvolverão a empatia”, diz. 

Mas, e os 3% que faltam? Serão obrigatoriamente personalidades antissociais na vida adulta, seres sem empatia? Os especialistas são taxativos ao afirmar que não se cura transtorno de conduta. Ele será, no máximo, amenizado se tratado a tempo e houver sempre algum tipo de vigilância. Na maior parte dos casos, porém, isso não acontece. E o resultado de ninguém ter notado esses sinais durante a infância aparece de forma trágica. “Essa criança poderá ser um político corrupto, um fraudador, até um torturador físico ou emocional, chegando a um assassino em série”, diz Ana Beatriz. 

Os especialistas afirmam que não se cura transtorno de conduta, mas ele pode ser amenizado
No último domingo, um exemplo extremo ocorreu na Pensilvânia, Estados Unidos. Jordan Brown, de apenas 11 anos, deu um tiro na nuca da namorada do pai, grávida de oito meses. O menino chegou a conseguir enganar a polícia dizendo que uma caminhonete preta havia entrado na propriedade da família. Mas a arma foi encontrada em seu quarto. A polícia não entendeu a motivação do crime. “Há casos em que a explicação é simplesmente uma curiosidade mórbida”, afirma Ana Beatriz. “Todos nós, quando pequenos, temos essa curiosidade. Mas, por volta de 4 ou 5 anos, começamos a ter a percepção do outro. O que não acontece com quem tem o transtorno de conduta.” A falta de tratamento dessas crianças é, muitas vezes, consequência da ignorância ou da falta de recursos. Mas não só. A estrutura familiar de hoje, com pais trabalhando fora o dia todo e com tendência a dar poucos limites aos filhos, favorece o desenvolvimento do transtorno de conduta. Qualquer criança que não é repreendida pelo pais sobre seus erros tende a crescer pouco civilizada. Se ela tem uma tendência antissocial, não haverá amarras para esse comportamento. 

O relato de um psiquiatra do Rio Grande do Sul mostra quanto é difícil pais assumirem a necessidade de tratamento dos filhos. Em 2008, ele teve como paciente R., de 11 anos. A menina colocara fogo na mochila de uma colega de turma. Repreendida por professores e pais, teve como reação apenas rir. No ano anterior, fizera o mesmo com o rabo do cachorro de uma prima. Questionada, disse apenas que a prima não merecia ter um cachorro. Durante o tratamento, R. afirmou ao psiquiatra que não nutria nenhum sentimento especial em relação aos pais.“Ela tinha um olhar frio e uma ironia extremamente precoce para sua idade. Não sentia culpa. R. me tratava como um empregado”, diz o psiquiatra. Depois de um ano de tratamento, os pais acharam que ela estava melhor e poderia interromper as sessões. “Ela os manipulou – e disse a mim, explicitamente, que fingiria estar melhor e conteria seus atos. Contei a eles, mas não acreditaram em mim”, afirma. R. jamais voltou a seu consultório. 

Fonte: Revista Época

II Seminário Internacional sobre Transtornos e Distúrbios de Aprendizagem


 
 
II Seminário Internacional sobre
Transtornos e Distúrbios de Aprendizagem



Dia: 24/05/2014
Horário: 08h às 18h
Local: Estácio - Avenida Nossa Senhora de Sabará, 765 - Chácara Flora, São Paulo - SP (estacionamento gratuito no local)
E-mail: contato@creativeideias.com.br
Telefone: (21) 2577 8691 | (21) 3025 2345 | (21) 98832 6047 (oi) | (21) 98189 1109 (Tim)
Carga Horária do certificado de participação: 10 horas.

PÚBLICO ALVO:
Professores, Psicólogos, Psicopedagogos, Fonoaudiólogos, Pedagogos, Terapeuta Ocupacional, Familiares, Mediadores (Estagiários, Monitores e/ou Facilitadores) e Estudantes de Graduação e/ou Pós e demais interessados no assunto, além de profissionais das áreas de saúde e educação.


CRONOGRAMA (sujeito a alterações):

8h às 9h - Credenciamento
9h às 10h30 - Palestra
10h30 às 10h40 - Intervalo
10h40 às 12h20 - Palestra
12h20 às 14h - Almoço Livre
14h às 15h40 - Palestra
15h40 às 16h - Intervalo
16h às 18h - Palestra
18h - Encerramento com entrega de certificado


PALESTRANTE:

Avaliação Neuropsicopedagógica em Crianças com Dificuldades de Aprendizagem
Fabíola Dobrillovich - Neuropsicopedagoga clínica com especialização em saúde mental e educação inclusiva; Pós graduada em Psicopedagogia clínica, com graduação em Pedagogia pela Universidade São Marcos; Atualização profissional em Neuropsicologia Infantil pela Escola Paulista de medicina(UNIFESP); Especialista em Psicomotricidade.




Adequações Curriculares para pessoas com autismo
Andrea Lungwitz Cleto - Pedagoga; Pós graduada em Saúde Mental com ênfase em TEA - Transtornos do Espectro Autista; Especialista em Educação Especial; Coordenadora Pedagógica da APAE de Sorocaba.


A Psicomotricidade no processo de Aprendizagem
Fátima Alves - Fonoaudióloga (CRFa. 1547 RJ). Socioterapeuta Ramain-Thiers. Psicomotricista titulada pela SBP. Mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente. Docente da Pós-Graduação presencial e da Licenciatura a distância em Pedagogia da AVM Faculdade Integrada. Professora convidada dos cursos de pós-graduação em Psicopedagogia e Educação Inclusiva da FAMESP. Experiência na área de Educação, com ênfase em Psicomotricidade, atuando principalmente nos temas de educação, Psicomotricidade, inclusão e síndrome de Down. Autora dos livros: “Psicomotricidade: corpo, ação e emoção”; “Inclusão: muitos olhares, vários caminhos e um grande desafio”; “Como aplicar a Psicomotricidade: uma atividade multidisciplinar com Amor e União”; e “Para Entender a Síndrome de Down”, todos publicados pela Wak Editora. Participante de eventos nacionais e internacionais, ministrando palestras, cursos e workshops. Autora, coordenadora, tutora e professora do Curso Para Entender a Síndrome de Down da GPEC – Educação a Distância – Formação e Aperfeiçoamento.




Discalculia
Rafael Silva Pereira - Especialista em Dislexia e Dificuldades de Aprendizagem; Professor; Doutor em: Novos Contextos de Intervenção Psicológica em Educação, Saúde e Qualidade de Vida. A sua formação de base é Bacharel do 1º Ciclo do Ensino Básico pela Escola Superior de Educação de Santarém. Licenciou-se em 1998 pela Escola Superior de Educação Almeida Garret em 2º Ciclo do Ensino Básico na variante de Português, História e Ciências Sociais. No ano de 2004, concluiu o Mestrado em Didática das Línguas na vertente de Língua Não Materna, pela Universidade de Aveiro. Concluiu sua Tese de Doutoramento na Universidade da Extremadura, na Espanha.



INVESTIMENTO:

• ATÉ 09/05/2014 - de R$ 120,00 por:
R$ 90,00 - individual (cartão)
R$ 80,00 - individual (depósito)
R$ 70,00 - por inscrito (depósito) - grupo a partir de 4 pessoas

INSCRIÇÕES: www.creativeideias.com.br