terça-feira, 25 de junho de 2013

Pesquisa clínica: Fator de Crescimento trata modelo de rato autismo


Growth factor : IGF-1, which is marketed as a growth hormone, may also treat certain forms of autism. O factor de crescimento: o IGF-1, que é comercializada como uma hormona de crescimento, podem também tratar certas formas de autismo.


Insulin-like growth factor 1 (IGF-1), a drug approved for use in children with short stature, reverses neurological deficits in mice with an autism-linked mutation in the SHANK3 gene, according to a study published 27 April in Molecular Autism 1 . Insulin-like growth factor 1 (IGF-1), uma droga aprovada para uso em crianças com baixa estatura, reverte déficits neurológicos em camundongos com uma mutação ligada ao autismo no SHANK3 gene, de acordo com um estudo publicado em 27 de abril, em Molecular Autism 1 .
 
Mutations in SHANK3 are present in as much as one percent of people with autism. Mutações no SHANK3 estão presentes na medida em que um por cento das pessoas com autismo. The gene is deleted in Phelan-McDermid syndrome, a disorder characterized by intellectual disability, seizures and, often, autism. O gene é eliminado na síndrome de Phelan-McDermid, uma doença caracterizada pela deficiência mental, convulsões e, muitas vezes, o autismo.
 
The results provide support for a small ongoing clinical trial testing the effect of IGF-1 on autism symptoms in children with Phelan-McDermid syndrome and autism. Os resultados fornecem suporte para um pequeno ensaio clínico em curso testando o efeito do IGF-1 sobre os sintomas do autismo em crianças com síndrome de Phelan-McDermid e autismo.
 
The researchers presented preliminary results from this study at the 2011 International Congress of Human Genetics in Montreal, Canada. Os pesquisadores apresentaram os resultados preliminares deste estudo no 2011 International Congress of Human Genetics em Montreal, no Canadá.
 
SHANK3 encodes a protein that stabilizes connections at neuronal junctions, or synapses . SHANK3 codifica uma proteína que estabilize as ligações nas junções neuronais, ou sinapses . There are as many as five different mutant SHANK3 strains, each lacking a different region of the gene . Each of these strains is characterized by distinct but overlapping symptoms. Existem tantos como cinco diferentes SHANK3 estirpes mutantes, cada falta de uma região diferente do gene . Cada uma destas estirpes é caracterizado por sintomas distintos, mas sobrepostos.
 
The new study focuses on a strain that lacks one copy of SHANK3. O novo estudo centra-se em uma linhagem que não tem uma cópia do SHANK3. These mice show impaired signaling at synapses , but only modest changes in behavior, including mild social deficits and problems with motor skills. Estes ratos mostram prejudicada sinalização nas sinapses , mas apenas pequenas mudanças no comportamento, incluindo déficits sociais leves e problemas com as habilidades motoras.
 
After 13- to 15-day-old mice are injected with IGF-1 daily for two weeks, the mice regain the ability to modify their synapses in response to experience. Depois de 13 - a ratos de 15 dias de idade, são injectados com o IGF-1 por dia durante duas semanas, os ratinhos recuperar a capacidade de modificar as suas sinapses, em resposta à experiência. This process, called long-term potentiation, underlies learning and memory. Este processo, conhecido como potenciação de longo prazo, subjacente aprendizagem e da memória. The mice also recover a type of signaling that activates neurons, which relies on a family of receptors called AMPA. Os ratos também recuperar um tipo de sinalização que ativa os neurônios, que se baseia em uma família de receptores chamados AMPA.
 
One of the limitations of the study is that this mouse model has few behavioral deficits in the first place, the researchers say. Uma das limitações do estudo é que este modelo de mouse tem poucas déficits comportamentais, em primeiro lugar, dizem os pesquisadores. However, the treated mice do regain the ability to balance on a rotating rod, which may indicate an improvement in the motor deficits seen in autism. No entanto, os ratos tratados não recuperar a capacidade de se equilibrar uma haste rotativa, o que pode indicar uma melhoria dos défices motores observados no autismo.
 
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Referências:

1: Bozdagi O. et al. 1: Bozdagi O. et ai. Mol. Mol. Autism 4 , 9 (2013) PubMed Autismo 4, 9 (2013), PubMed

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Ginástica artística transforma vida de crianças autistas

Ginástica para autistas: Gustavo e 'tio' Rodrigo se divertem nas argolas
Ginástica para autistas: Gustavo e 'tio' Rodrigo se divertem nas argolas -
Marcos Michael

 
Atividade aprimora comunicação e coordenação motora e ajuda famílias a adaptar jovens ao convívio social com autonomia.
 
 
Há menos de um ano, Luciana Nascimento da Silva Medeiros se queixava da falta de carinho do filho, Gustavo. Era difícil para ela, admite, entrar no universo da criança, que nunca deixava o que estava fazendo para dedicar atenção à mãe. Então com 2 anos de idade, ele não falava e parecia desconectado do mundo externo. Da família e dos amigos, Luciana ouvia que devia ter paciência, "pois cada criança tem seu tempo". Uma reportagem de TV escancarou a realidade. "A matéria mostrava crianças autistas. E eu vi que elas tinham as mesmas características do meu filho". A primeira reação foi trancar-se no quarto e chorar. Mas logo percebeu que precisaria reagir e ajudar o filho a enfrentar os desafios impostos pelo autismo - transtorno no neurodesenvolvimento que atinge uma em cada 88 pessoas no mundo.
 
A busca por formas de se aproximar de Gustavo levaram Luciana ao professor Rodrigo Brivio, que desde 2006 dá aulas de ginástica artística a crianças e adolescentes com autismo. Antes mesmo de completar 3 anos, Gustavo tornou-se um dos caçulas das turmas, que hoje tem cerca de 80 alunos. Foi um alento. "As principais mudanças são em comandos simples, aos quais ele não obedecia antes, como calçar o sapato", conta Luciana. A autonomia é um dos focos da aula do "tio" Rodrigo, como gosta de ser chamado pelas famílias dos alunos. "A aula começa antes de entrarmos no ginásio, quando a criança tira e guarda sozinha o sapato. Como a maioria, Gustavo só não fazia isso antes porque não era estimulado. Se você tem alguém que faça tudo, não vai se esforçar, seja criança ou adulto", diz o educador.
 
Durante a atividade, Gustavo sabe que depois de ouvir "um, dois, três", o "já" indica o momento de soltar as argolas para se jogar no colchão macio. Saber cumprir ordens também é importante. Veterana, a colega Helena, de 8 anos, anda pela barra de equilíbrio com a naturalidade de quem brinca nas costas do sofá de casa. Parece distraída. Mas quando chega ao final, aguarda a permissão para saltar. "Isso é uma superação. A ginástica é a atividade que me permite mostrar para todos: 'Olha como minha filha é capaz'", orgulha-se Valéria Mousinho Marques Fernandes, que leva a filha às aulas há três anos. Apesar das habilidades que a menina desenvolve, foi na comunicação verbal a maior mudança percebida pela família. "A primeira coisa que me impactou foi vê-la contar e pedir ajuda. Uma grande conquista."
 
Nada é forçado. As crianças aprendem de forma natural, como numa brincadeira. Não há vagas para novos alunos, simplesmente porque quem chega se recusa a sair – a faixa etária dos alunos hoje vai dos 2 aos 17 anos. Um dos motivos é a evolução progressiva, mas também a falta de profissionais especializados para trabalhar com autistas. "Não existem muitos Rodrigos por aí", lamenta Luciana. Marisa Furia Silva, presidente da Associação Brasileira de Autismo (Abra), concorda que a escassez de mão de obra é um problema e elogia iniciativas como a do professor carioca. "Tudo o que se faz com essas crianças é muito importante. E o esporte é fundamental para o desenvolvimento delas", observa a mãe de Renato, autista de 34 anos.
 
Paciência é essencial para esses profissionais. E amor. Quando recebeu a reportagem de VEJA, Rodrigo ainda exibia as marcas de arranhões no braço de um aluno do dia anterior. "Não adianta dizer que o trabalho é só maravilha. Não é. Mas gosto muito do que eu faço. Vejo que através do carinho, de um abraço, a gente consegue muita coisa", ressalta o educador. "Sem demagogia, trato todos como se fossem meus filhos. Tenho uma carga muito grande de responsabilidade com essas famílias", afirma. Uma de suas missões, acredita ele, é ajudar os pais a preparar filhos autistas para a vida adulta. "Minha filha precisa estar pronta para quando eu e o pai dela não estivermos mais aqui", diz a mãe de Helena. 
 
Fonte: Revista Veja

 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A importância da Avaliação Psicomotora na aquisição da Leitura e Escrita

por: Maria Cecília Mariano de Oliveira
O corpo é o ponto de partida para o conhecimento
O corpo é o ponto de partida para o conhecimento
Esta reflexão se deve a observação de algumas dificuldades de aprendizagem que muitas vezes estão associadas a elementos da motricidade humana. Dificuldades em relação ao equilíbrio, esquema corporal, a lateralidade, a aspectos perceptivos, entre outros, por vezes relacionados a aspectos como inversão ou troca de letras, textos mal escritos ou sem linha de raciocínio, dificuldade em relação à escrita e leitura, a fala, solução e resolução de problemas.

Quero focar a importância da avaliação motora como base para as aprendizagens escolares, no sentido de reforçar o caráter preventivo e a importância de sua existência nas instituições escolares visando o desenvolvimento integral dos alunos. Ressalto a importância de um trabalho integrado entre professores, orientadores, coordenadores e o profissional de Educação Física, para uma avaliação global do aluno, e contribuição na superação das dificuldades apresentadas, pois muitas vezes o professor de educação física fica à margem de decisões e avaliações importantes no âmbito escolar.

Quando avaliamos o desenvolvimento da motricidade, obtemos informações e subsídios importantes, capazes de favorecer o desenvolvimento das crianças e ampliação de seus conhecimentos em diferentes áreas do conhecimento. Esta reflexão aponta alguns distúrbios da motricidade que influenciam no processo de alfabetização e outras áreas do conhecimento, levando muitas vezes a um déficit de aprendizagem.

Com os estudos da linguística, sabe-se que a criança pode apresentar dificuldades na aquisição dos conhecimentos da leitura e da escrita por várias causas, tanto de ordem emocional quanto estrutural. Existem alguns pré-requisitos, do ponto de vista psicomotor para que uma criança aprenda a ler e escrever. É necessário que as crianças possuam maturidade suficiente para ser submetida ao processo de alfabetização. Elas devem demonstrar um conjunto de condições, capacidades e habilidades de modo a se tornar capaz de executar determinadas atividades e para isso a avaliação diagnóstica deve acontecer.



PRÉ-REQUISITOS DO PONTO DE VISTA PSICOMOTOR PARA QUE A CRIANÇA APRENDA A LER E ESCREVER


• Equilíbrio: reúne um conjunto de aptidões estáticas (sem movimento) e dinâmicas (com movimento), abrangendo o controle postural e o desenvolvimento das aquisições de locomoção.

• Lateralidade: traduz-se pelo estabelecimento da dominância lateral da mão, olho e pé, do mesmo lado do corpo. Não devemos confundir lateralidade (domínio de um lado em relação ao outro, em nível de força e da precisão) e o conceito esquerda-direita (domínio dos termos esquerda-direita). Possíveis dificuldades: é comum ocorrerem problemas na orientação espacial, dificuldade na discriminação e na diferenciação entre os lados do corpo e incapacidade de seguir a direção gráfica, como escrever da esquerda para direita e de cima para baixo.

• Esquema corporal: através do qual a criança toma consciência de seu corpo e das possibilidades de expressar-se por seu intermédio. Possíveis dificuldades: A criança que tenha esquema corporal mal trabalhado, não coordena bem seus movimentos e pode ter dificuldades na caligrafia e sentir fortes dores nos braços quando escreve.

• Estruturação Espacial: é capacidade que o indivíduo tem de perceber a posição de objetos no espaço em relação existentes entre eles ou em relação ao seu corpo. Possíveis dificuldades: Perceber as posições das letras, podendo, por exemplo, confundir b com d, p com q; Inverter as sílabas, palavras e números; Escrever em espelho; Dificuldade nas cópias. Em matemática: Noção de fileiras, colunas, agrupamentos, formas, ordem, dezena e unidades. Cometer erros de cálculos escritos, não percebendo a ordem das palavras; Não dispor os números em fileiras retas e os misturando-os. Noções que as crianças têm de direita, esquerda, frente, atrás, alto e baixo (espaço); (progressão/grandeza; classificação/seriação; orientação/cálculos).

• Estruturação temporal: Noções de tempo, duração, sucessão, periodicidade. Também conhecido como distúrbio do ritmo. A linguagem é inseparável do ritmo, as palavras constituem uma sequência sonora têmporo-espacial; as frases são uma sucessão de palavras obedecendo a uma ordem temporal. Possíveis dificuldades: Dificuldade na leitura e escrita não conseguindo discriminar sons semelhantes das letras; Não tendo ritmo na leitura nem entonação de voz correta na pontuação; Noções de tempo: antes, depois, ontem, hoje e amanhã.

• Praxia Global tem por definição a capacidade de realizar a movimentação voluntária pré-estabelecida com forma de alcança um objetivo. Possíveis dificuldades: Dificuldade em movimentar-se; Dificuldade no desenvolvimento da coordenação viso motora; Movimentos esteticamente “feios”; Movimentos bruscos; Dificuldade de relacionamento.

• Praxia Fina: compreende todas as tarefas motoras finas, onde associa a função de coordenação dos movimentos dos olhos durante a fixação da atenção e manipulação de objetos, além de abranger as funções das atividades preensivas e manipulativas mais finas e complexas. Possíveis dificuldades: Crianças que têm transtornos na coordenação dinâmica manual geralmente têm problemas visomotores, apresentando inúmeras dificuldades de desenhar, recortar, escrever, ou seja, em todos os movimentos que exijam precisão na coordenação olho/mão.

• Percepção Visual: Um aparelho visual e auditivo íntegro é um pré-requisito muito importante para a aprendizagem da leitura e da escrita. Possíveis dificuldades: Trocar letras que diferem em pequenos detalhes: o e e, f e t, c e e, h e b, a e o. Algumas palavras podem ser sujeitas a confusões, por exemplo, preto em vez de prato. Essa confusão se dá porque a criança não percebe os detalhes internos das palavras.

• Percepção Tátil: É a capacidade de perceber a sensação através da pele. Possíveis dificuldades: Movimentos com pouca precisão; Má caligrafia; Dificuldades para desenhos gráficos; Caderno desorganizado; Demonstra má vontade em realizar atividades; Medo de errar.

• Percepção Auditiva: É de fundamental importância para a leitura e a escrita: quando falamos, emitimos sequências de sons que serão repetidos quando escritas. Possíveis dificuldades: Muitas crianças têm dificuldades de discriminação porque se esquecem do som que as letras representam: F por V; B ou J (foi por voi, ou joi); P por B (ponte por bonte); CH por J, ou V (chapa por japa); D por B, ou T (dado por bado ou tado); T por D (tatu por dadu); S por Z (sonho por zonho); C por G (cartaz por gartaz).

Algumas crianças apresentam dificuldades de aprendizagem por não realizarem movimentos adequados, não significando que a educação psicomotora deva se preocupar somente com os movimentos corretos de execução, em gestos automatizados. O interesse maior encontra-se no pensamento que está por trás destas ações. O corpo é o ponto de referência que o ser humano possui para conhecer e interagir com o mundo, servindo de base para o desenvolvimento cognitivo e para a aprendizagem de conceitos tão importantes para a alfabetização (PIAGET, 1968, citado por OLIVEIRA, 1996, p. 178). A criança precisa ter um corpo organizado. Esta organização é ponto de partida para que ela descubra suas diversas possibilidades de ação diante de novas situações e de situações problemas.

A avaliação diagnóstica e contínua do ensino e aprendizagem deve ser mais do que aplicar testes, levantar medidas, selecionar e classificar alunos. Primeiramente deve estar relacionado ao projeto pedagógico da escola em que está inserido, num processo inter-relacionado com as demais disciplinas (FREIRE, 1997, p. 104). O papel do professor é o de fazer com que ela sirva de apoio e análise em possíveis déficits de aprendizagem que as crianças possam apresentar. A avaliação não deve neutralizar mais sim possibilitar uma leitura crítica e a partir daí, ampliar e aprofundar a compreensão das condutas e posturas a serem empregadas.

Finalizo nossa reflexão com FREIRE, 1997, p.13 “o corpo parece ser um intruso que atrapalha a mente com seu movimento e barulho durante o processo de aquisição de conhecimento”, principalmente nos anos iniciais, onde a alfabetização acontece. As crianças se movimentam constantemente em busca de desafios e descobertas, assim sem o movimento a aprendizagem não acontece e sem o movimento nas avaliações o diagnóstico não se completa.


Fonte: Portal Educação
 
 
 
 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Suzana Herculano-Houzel no TEDGlobal 2013

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Photo: James Duncan Davidson

 
Durante décadas, os cientistas disseram que o cérebro humano contém 100 bilhões de neurônios. No entanto, quando a neurocientista Suzana Herculano-Houzel caçou a origem deste número, frequentemente citada, ela não pôde localizar um. Então, ela começou a contar... fazendo sopa do cérebro.
Ela traz um frasco de sopa de cérebro com ela no palco TEDGlobal 2013. Esta substância foi preparada por dissolução de cérebros doados, destruir as membranas das células, mas deixando os núcleos intactos. Isso fez com que uma mistura homogénea que lhe permitiu contar os neurônios em uma amostra.
Como se vê, o cérebro humano realmente tem 86 bilhões de neurônios.
Por que essa diferença de 14 bilhões de neurônios?
Ela responde a uma pergunta vital: o que faz, com que o cérebro humano seja diferente, permitindo-nos ficar juntos  pensando, enquanto os outros animais não?
Durante muito tempo, os cientistas dizem que todos os cérebros de mamíferos foram feitos do mesmo material. Mas se isso fosse verdade, então mamíferos com cérebros maiores, seriam o mais cognitivamente capaz. Isso simplesmente não é verdade. Além disso, os cérebros humanos revelam algumas curiosidades. Por exemplo, Suzana Herculano-Houzel diz, temos um córtex cerebral maior do que parece que devemos ter, dado o tamanho do nosso corpo. Enquanto isso, os cérebros humanos usam uma quantidade enorme de energia. Enquanto o cérebro  é de 2% do corpo, que utiliza 25% das calorias que necessitam para funcionar por dia.
Por que as regras da evolução se aplica aos seres humanos?
Isso nos traz de volta para a constatação de que o cérebro humano, na verdade, contém 86 bilhões de neurônios. A nova linha de base permitiu em seu laboratório, fazer comparações com outros cérebros de animais. E eles descobriram que os cérebros humanos são proporcionais em termos do número de neurônios e uso de energia para outros cérebros de primatas - eles são apenas maiores.
"É uma grande lembrança do nosso lugar na evolução", diz Suzana Herculano-Houzel.
Que ainda deixa a pergunta: Por que nós temos um cérebro maior do que um grande macaco que tem um corpo muito maior? A resposta se resume ao custo de energia extrema do cérebro dos primatas.
Parece haver algum tipo de evolutiva trade-off entre o tamanho do cérebro e do tamanho do corpo - há uma limitação metabólica, e primatas, pode apenas consumir calorias suficientes para suportar um ou outro.
Então, a próxima questão lógica é: o que nos permitiu ultrapassar esta limitação e apoiar este grande cérebro? Suzana Herculano-Houzel ressalta que nosso córtex cerebral é especialmente denso, com 16 bilhões de neurônios.
É preciso muita energia para suportar isso.

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Photo: James Duncan Davidson
 
A resposta é tão simples, é algo que você provavelmente nunca pensou. Suzana Herculano-Houzel afirma em duas palavras: Nós cozinhamos. Cozinhar é essencialmente o ato de usar o fogo para alimentos pré-digerir, e, assim, obter mais energia a partir da mesma quantidade de comida. Na verdade, cozinhar alimentos torna render cerca de três vezes mais calorias. Isto é o que permitiu que nossos cérebros ficassem maiores em um período relativamente curto de tempo, em relação ao cérebro dos primatas. Cozinhar também nos permitiu apoiar este grande córtex cerebral, que por sua vez apoia o pensamento complexo.
Envolvendo tudo, Suzana Herculano-Houzel conclui: "Eu dou uma olhada em minha cozinha, e eu curvar-me a ele."
Ela vai apenas talvez pular a sopa.


Fonte: TEDGlobal

Autistas encontram espaço no mercado de trabalho corporativo

Alguns chamam isso de diversidade neurológica, outros veem como uma revanche contra o preconceito que sempre cercou os autistas.
 
Expressando a convicção de que "a inovação vem das bordas", a empresa alemã SAP, gigante na área de software, lançou no mês passado uma campanha de recrutamento dirigida para atrair pessoas com autismo a trabalhar como testadores de software.
Thinkstock/Getty Images
Muitos autistas são brilhantes, mas têm dificuldades de
socialização, o que pode ser difícil quando se trabalha
em uma corporação

Uma semana depois, a empresa americana de financiamento Freddie Mac anunciou uma segunda rodada de estágios remunerados, voltados especificamente para alunos autistas ou recém-formados com a mesma condição.
           
As duas multinacionais dizem que esperam aproveitar os talentos únicos das pessoas autistas, como também conceder a elas, anteriormente marginalizadas no mercado de trabalho, uma oportunidade para prosperar no emprego.
 
"Somente por meio da contratação de pessoas que pensam de forma diferente e desencadeiam a inovação, a SAP estará preparada para lidar com os desafios do século 21", disse Luisa Delgado, do departamento de Recursos Humanos da empresa.
 
Para Ari Ne'eman, presidente da Autistic Self Advocacy Network (ASAN), com sede em Washington (EUA), e membro do Conselho Nacional dos Estados Unidos sobre Deficiência, as mudanças são bem-vindas e bem atrasadas.
 
“Precisamos ver a diversidade neurológica da mesma forma como vimos, no passado, os esforços para a diversidade no local de trabalho, com base em raça, gênero e orientação sexual", disse ele.
 
Estima-se que os distúrbios do espectro autista, incluindo a síndrome de Asperger ou autismo de alto funcionamento, podem afetar cerca 1% da população mundial. Os distúrbios são causados ​​por uma combinação de fatores genéticos e ambientais e pode variar de retardo mental grave, com uma profunda incapacidade de se comunicar, a sintomas relativamente leves, combinados com alguns altos níveis de funcionamento, como aqueles observados em pessoas portadoras da síndrome de Asperger.
 
Entre as principais características do autismo estão habilidades de comunicação deficientes e dificuldades de interação social. No autismo de alto funcionamento, recursos como foco intenso ou obsessivo e atenção constante aos detalhes também são comuns.
 
Estas qualidades, dizem os especialistas, bem como uma capacidade de abordar um problema de uma maneira diferente – muitas vezes de uma forma criativa ou contraditória – fazem as pessoas autistas serem potencialmente atraentes como empregados em grandes corporações.
 
"Historicamente, parece haver uma certa percepção de que essa população é incapaz de realizar trabalhos de nível corporativo," disse à Reuters o gerente de diversidade da Freddie’ Mac’s.
 
"Na realidade, autistas oferecem muito a uma organização disposta a pensar fora da caixa e ver este quadro de talentos como um 'valor agregado'”.
 
Obsessão e sucesso
Joshua Kendall, autor do livro "Obsessivos da América", argumenta que alguns dos maiores negócios americanos da história – e também alguns líderes políticos – em parte tiveram sucesso por conta dos traços obsessivos de personalidade.
 
"Essas grandes empresas não estão fazendo por bondade no coração. Estão fazendo isso agora porque perceberam que estavam perdendo alguma coisa”, disse ele em uma entrevista por telefone.
 
Kendall disse que a questão crucial do recrutamento é provar o sucesso e a sustentabilidade dele. E também o  quanto a sociedade vai tentar acomodar pessoas que pensam diferentemente das outras.
"São pessoas que têm sido tradicionalmente rotuladas como deficientes. Então nós queremos tratá-las ou queremos permitir que elas sejam quem são e nos adaptarmos a elas?”
 
A empresa alemã SAP diz que sua campanha global de recrutamento de autistas, que visa empregar 650 pessoas – em torno de 1% de sua força de trabalho – até 2020, vem depois de projetos-piloto de sucesso na Índia e na Irlanda. É um projeto colaborativo com a Specialisterne, uma consultoria dinamarquesa que coloca pessoas com autismo em empregos onde elas possam brilhar.
           
Ne'eman diz que até agora a maioria das empresas que manifestaram interesse nos trabalhadores autistas tendem a ser nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia em matemática. No futuro, ele diz que espera que o sucesso deles incentivem outras a tomar conhecimento sobre o assunto.
 
"Muitos de nós podem e têm sucesso em uma grande variedade de profissões", disse ele.
 
"Eu, por exemplo, sou uma pessoa autista trabalhando em políticas públicas, o que certamente não é um campo estereotipado."
 
Na Grã-Bretanha, apenas 15% dos adultos com autismo têm um emprego em tempo integral, diz Carol Povey, diretora da Sociedade Nacional de Autistas da Grã-Bretanha – apenas uma fração daqueles que poderiam contribuir para o mercado de trabalho, acrescenta ela.
 
Nos Estados Unidos, de acordo com Ne'eman, não tem sido feito estudos sobre a vida profissional de pessoas autistas, por isso dados comparativos ​​não estão disponíveis.
 
"É ótimo ver as organizações não apenas fazendo responsabilidade social corporativa, mas, na verdade, reconhecendo que existe um bom negócio por trás de ter mais autistas no mercado de trabalho", disse Povey.
 
"Essas pessoas vão contribuir para a eficácia e o crescimento do negócio."
 
*Por Kate Kelland

segunda-feira, 10 de junho de 2013

INCLUIR 2013 | Rio de Janeiro




Mesa-Redonda: Direitos da Pessoa com Deficiência - Paulo Messina; Barbara Parente e Ulisses da Costa Batista;

Integração Sensorial como ferramenta da prática pedagógica - Bianca Fonseca;
Autismo e Gestalt-terapia - Marcio Giansante;

Qual o seu papel na Inclusão? Família, Escola e Sociedade - Emanoele Freitas

Mais informações e inscrições: (21) 25778691 | 32462904 |
www.creativeideias.com.br
 

Memória é tema de pesquisa de neuropsicóloga de 94 anos

Sob muitos aspectos, o plano recém-anunciado pelo governo Obama de mapear o cérebro humano tem origem no trabalho da neuropsicóloga Brenda Milner, que mostrou, com base em detalhadas observações de um paciente com amnésia na década de 1950, como a memória está atrelada a regiões específicas do cérebro.
 
O paciente com amnésia, Henry Molaison (conhecido em vida apenas como H.M., para proteger sua privacidade), morreu em 2008, aos 82 anos, e está tendo seu cérebro dissecado e mapeado digitalmente.
Milner, 94, ainda passa dias inteiros estudando as diferenças entre os hemisférios cerebrais esquerdo e direito no Instituto e Hospital Neurológico de Montreal (conhecido como Neuro). Conversamos lá e na reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em Boston. Leia trechos das conversas:

Yannick Grandmont - 18.jan.2013/The New York Times
A neuropsicóloga Brenda Milner, 94, em Montreal, no início deste ano
A neuropsicóloga Brenda Milner, 94, em Montreal, no início deste ano

The New York Times - Como a sra. começou a trabalhar com H.M., talvez o mais famoso paciente da neurociência?
Brenda Milner - Em 1950, vim trabalhar aqui no Instituto Neurológico de Montreal para estudar os pacientes de Wilder Penfield. Ele havia criado o Neuro como um lugar para ser pioneiro no tratamento neurocirúrgico da epilepsia. Penfield havia desenvolvido um procedimento para pacientes que estavam tendo ataques epilépticos por causa de lesões cerebrais, no qual ele extirpava a parte lesada do cérebro.
Uma das coisas que eu fiz foi tentar ajudar Penfield a apontar de onde vinham os ataques. Era realmente um trabalho de detetive. Usei eletroencefalogramas e desenvolvi testes em parte baseados na pesquisa que eu estava fazendo.
Dois pacientes, P.B. e F.C., apresentaram algo que nunca havíamos visto. Depois da cirurgia, a capacidade deles de formar memórias de longo prazo havia desaparecido --embora a memória imediata e a inteligência continuassem intactas.
Penfield e eu desenvolvemos a hipótese de que havia dano em um lado do cérebro que nós poderíamos não ter visto e, quando ele extirpou o outro lado, ele privou esses pacientes da função da região. Então redigimos aquela teoria e a apresentamos em um sumário a uma reunião da Associação Neurológica Americana, em Chicago.
Isso a levou a conhecer H.M.?
William Scoville, um cirurgião em Hartford, telefonou-me e disse: "Estou vendo a mesma coisa em um paciente epilético em quem fiz uma operação". Scoville então me convidou para vir a Hartford estudar essa pessoa.
Como era H.M.?
Ele passou a ter ataques epilépticos depois de um acidente de bicicleta na infância. A cirurgia havia sido benéfica para isso. Mas a excisão lhe causava dificuldades em adquirir novas lembranças de longo prazo.
Havia coisas do passado das quais ele se lembrava, mas ele contava a mesma piada repetidamente.
Eu lhe dava um teste em que ele tinha de repetir um conjunto de números --cinco, oito e quatro. Ele conseguia fazer isso repetindo constantemente esses números para si ou montando fórmulas. Mas, se eu o distraísse --e a vida distrai constantemente--, ele não conseguia mais dizer a sequência.
Que tipo de teste a senhora fez com ele?
Um deles era um quebra-cabeça em que ele precisava encontrar a saída de um labirinto. Ele simplesmente não conseguia. Outro envolvia lhe dar uma estrela de cinco pontas e pedir que ele seguisse seus contornos olhando num espelho.
Parece fácil, mas não é. É realmente um teste de aprendizado da capacidade motora. Bom, H.M. conseguiu! À medida que H.M. tentava traçar a estrela --mais de 30 vezes em três dias-- ele mostrava uma linda curva de aprendizado. Ele não conseguia se lembrar de nenhuma das 30 tentativas, mas melhorava.
O que isso significou?
Que há diferentes tipos de aprendizado e que a memória autobiográfica, ou memória de longo prazo, não é a memória inteira.
A sra. tem 95 anos e ainda trabalha.
Tenho 94! E, sim, trabalho. Sempre me interessei em como os dois lados do cérebro funcionam. Agora, com as ressonâncias magnéticas funcionais, podemos ver muito mais.
Como está a sua memória?
Ah, está terrível. Você esquece coisas, como nomes. Mas, felizmente, descobri que há muita gente, não só pessoas da minha idade, que esquece nomes.

O olhar dos pais sobre o autismo

 (Janine Moraes/CB/D.A Press)
 
O autismo é classificado como um transtorno global do desenvolvimento, assim como outras síndromes, como a de Rett, a de Heller e a de Asperger, esta última considerada uma forma branda do distúrbio. A medicina considera hoje que a doença é uma combinação de fatores genéticos e ambientais — em uma proporção de 90% para herança genética de genes e de 10% para fatores ambientais

"Amar uma criança autista é uma conquista que se dá aos poucos — é a calmaria após o turbilhão — por detalhes, por pequenos detalhes, olhares de soslaio." A frase é do texto na contracapa do livro Poemas para uma criança autista, da pedagoga e psicóloga Marisa Cordeiro, hoje com 57 anos. Mesmo com o respaldo profissional, não é a Marisa professora, tampouco a psicóloga, quem assina o livro. A autora em questão é mãe.

Na época em que foi publicado, 1989, Marco Antônio, o primogênito de Marisa, tinha 9 anos e exibia nos retratos que permeiam as páginas do livro um sorriso travesso, como de qualquer criança da sua idade. Hoje, é um homem de 33 anos, alto, moreno, um porte que dificilmente passaria despercebido e já com os primeiros grisalhos no alto da cabeça. Por dentro, no entanto, preserva a mesma inocência do garoto retratado anos antes na obra da mãe. Marco Antônio foi diagnosticado autista ainda nos primeiros anos da infância. O livro é um apanhado de mensagens e desabafos de Marisa ao filho — ao qual ela carinhosamente se refere como "principezinho" nos seus poemas.

É uma segunda-feira à tarde e Marco Antônio está na AMA — Associação dos Amigos dos Autistas —, onde passa grande parte dos dias da semana em tratamento psicológico. Aqui no Distrito Federal, a associação faz atendimento apenas de adultos, o que não é regra para as outras filiais país afora. Seu aniversário foi há pouco e o dia é de bolo, refrigerante e pão de queijo na associação. Marco não parece ansioso e é difícil decifrar — pelo menos para as pessoas que não convivem com ele diariamente — se ele sabe o motivo de toda a movimentação ali. Tem o semblante calmo, sorridente e sereno, características raras entre a maioria dos homens da sua idade, quase todos bem mais sisudos e apressados entre uma e outra reunião. Provavelmente uma vantagem que a condição médica lhe deu, entre tantas outras dificuldades contra as quais ainda hoje luta de mãos dadas com a mãe e especialistas.

O diagnóstico de Marco Antônio veio da mesma forma como ocorre na maioria das famílias de crianças com autismo: após uma longa e exaustiva — física e emocionalmente — peregrinação por profissionais e consultórios, das mais variadas especialidades e linhas de conduta. Mas, ao contrário do processo comum, em que os pais só notam que há algo de errado com a criança quando ela começa a apresentar atraso na fala e em outros campos do desenvolvimento, como o andar, Marisa foi mais rápida em ligar o radar. "Desde criancinha, eu já notava que havia nele algo diferente. Ele era um bebê inquieto, muito agitado, chorão", lembra Marisa. Com o passar dos meses, as diferenças que separavam o mundo de Marco do da mãe ficaram ainda mais evidentes. Ele evitava contato visual mesmo com as pessoas mais próximas, passou a andar nas pontas dos pés e a fugir do contato físico.

"Existe um sofrimento muito grande", desabafa Marisa. "Qual é a mãe que não sente se o filho não lhe olha nos olhos? Mas é tanta coisa que vem depois que isso acaba ficando pequeno", continua. A avidez por conhecimento que lhe acompanha desde a juventude e o diagnóstico de Marco Antônio fizeram dela uma especialista. Tanto que, no fim dos anos 1980, ajudou a fundar a hoje extinta Associação Terapêutica Educacional para Crianças Autistas (Asteca). As linhas terapêuticas — existem pelo menos quatro usadas frequentemente por psicólogos com autistas —, os sintomas, os mitos e verdades, tudo lhe sai naturalmente pela boca. Mas nem sempre foi tão fácil. Marisa precisou enfrentar preconceitos; ver a família se afastar — o marido, pai de Marco, inclusive —; aprender a se comunicar com o filho; ensiná-lo, como quem ensina um novo dialeto a um estrangeiro, a ter um pouco de independência; e vibrar com cada pequena conquista, como escovar os dentes e amarrar os sapatos.

Embora os primeiros sinais do autismo possam surgir ainda nos primeiros meses da criança — como a falta de contato visual no momento da amamentação, por exemplo —, raramente o diagnóstico é conclusivo antes dos 24 meses de vida. Alguns pais de autistas mais funcionais, das chamadas "cores claras" do espectro, só vão saber o motivo do comportamento "estranho" do filho na fase adulta.

 (Janine Moraes/CB/D.A Press)
Mesmo com o avanço dos estudos e o conhecimento cada vez maior em relação a causas e tratamentos, quase sempre o autismo é visto como mistério. Ele não dá sinais durante a gestação, não traz características físicas marcantes e não aparece em exames laboratoriais nem de imagem, embora esses sejam frequentemente requisitados por especialistas para que outras causas de atraso motor sejam descartadas. O diagnóstico vem da simples observação de que, por algum mecanismo neurológico atípico ainda pouco conhecido, o seu filho não se comporta como os outros. E é, geralmente, o ponto-chave que separa a vida idealizada pelos pais em relação ao rebento da que, de fato, virá pela frente.

Stella andou e falou no tempo esperado, interagia com outras crianças no parquinho e dava sinais de um desenvolvimento típico. Até que pouco antes de completar 2 anos, parou. "Foi como se ela tivesse perdido todo o vocabulário que tinha até ali. Ficou mudinha", lembra a mãe, Evellyn Diniz, 36 anos. Ao mesmo tempo, a menina começou a apresentar as chamadas estereotipias, comportamentos característicos do transtorno, mas que, na época, soavam quase como maluquice para a mãe da menina.

"Ela começou a chacoalhar as mãozinhas no ar, a andar na ponta dos pés, ficava horas mexendo os dedinhos da mão em frente dos olhos, se tremia toda, parecia que estava tendo um troço", lembra. Além disso, a menina, hoje com 6 anos, passou a apresentar sensibilidade auditiva e sensorial acima do normal, o que não é uma regra, mas é bastante comum em crianças com autismo. "Ela tinha a maior dificuldade de ficar de roupa. Às vezes, tirava tudo no meio da rua. E mesmo o menor dos ruídos a incomodava a ponto de ela enfiar quase a metade dos dedinhos no ouvido para se proteger."

Um dia à noite, enquanto fazia uma pesquisa para o trabalho, Evellyn jogou os sintomas da filha em um site de buscas da internet. Às 4h, acordou o marido: "Eu sei o que a nossa filha tem". É, a partir dessa primeira desconfiança, tem início a odisseia da família em busca do diagnóstico. Embora Evellyn tenha encontrado sozinha as primeiras respostas, interpretar os sinais de que existe algo de errado é mais difícil do que parece. Em geral, os pais só enxergam o problema quando alguém de fora o aponta. Um tio, um amigo, um professor. Alguém próximo o bastante para reparar na criança, mas não tão próximo que ache graça até mesmo nos seus comportamentos pouco convencionais.

"Falta incentivo a ideias originais na ciência no país", diz Suzana Herculano-Houzel

A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, 40, dedicou-se nos últimos anos a entender como o cérebro humano se tornou o que é. Seu trabalho a levou a ser a primeira brasileira convidada a falar no TED Global, famoso evento anual de conferências de curta duração que reúne convidados de várias áreas do conhecimento.
Herculano apresentará em sua fala de 15 minutos, nesta quarta, os resultados de suas pesquisas sobre como o cérebro humano chegou ao número incrivelmente alto de 86 bilhões de neurônios: o consumo de alimentos cozidos. "Entre os primatas, temos o maior cérebro sem sermos os maiores. Grandes primatas, com a sua dieta de comida crua, não possuem energia suficiente para sustentar um corpo enorme e um cérebro grande."
Na entrevista, concedida por telefone, a professora do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) dispara críticas à cultura brasileira de pesquisa científica, "que não incentiva a originalidade e a diversidade de pensamento", à pós graduação nacional, "muito fraca", e ao programa de bolsas Ciência Sem Fronteiras, "do jeito que está, parece demagogia" e defende a profissionalização da carreira de cientista.
Luciana Whitaker/Folhapress
A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, que irá falar no TED Global, em seu laboratório na UFRJ
A neurocientista Suzana Herculano-Houzel,
que irá falar no TED Global, em seu laboratório
na UFRJ
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Folha - Sobre o que a sra. vai falar na palestra no TED?
Suzana Herculano-Houzel - Vou apresentar o resultado do trabalho realizado no nosso laboratório, que mostra que o ser humano não é especial, nosso desenvolvimento cerebral não foge às regras que se aplicam aos outros primatas. Temos o maior cérebro primata sem sermos os maiores primatas. Como o tamanho do cérebro acompanha o tamanho do corpo, em geral, primatas maiores do que nós, como gorilas e orangotangos, deveriam ter um cérebro maior que o nosso e, no entanto, o gorila é duas a três vezes maior do que nós e nós temos um cérebro três vezes maior que o dos gorilas. Descobrimos que há uma explicação de origem metabólica para isso: quando calculamos a quantidade de energia que um primata obtém com a sua dieta de comida crua e quanto custa manter o corpo e o cérebro funcionando, descobrimos que os primatas não têm energia suficiente para sustentar um corpo enorme e um cérebro grande, com muitos neurônios. Também deveríamos obedecer à mesma regra, então nossos ancestrais conseguiram burlar essa limitação energética. Esse jeito, muito provavelmente, foi a invenção da cozinha, que transformou a maneira como aproveitamos as calorias, tornando os alimentos mais fáceis de serem mastigados e digeridos e, portanto, permitindo obter mais calorias em menos tempo.
Com a invenção da cozinha, ter um cérebro grande deixa de ser um risco e passa a ser uma vantagem, ao mesmo tempo que nos libera para fazer coisas mais interessantes com o nosso cérebro. Poderíamos pensar que isso nos faz especiais, mas se você olhar a evolução do cérebro dos primatas, é possível perceber que há muito tempo existe uma tendência de aumento do tamanho do cérebro, mas nos nossos ancestrais e nos grandes primatas isso tinha encontrado essa barreira metabólica.
Minha mensagem na palestra é que o que nos torna notáveis é o número alto de neurônios no córtex cerebral e conseguimos chegar a isso fazendo algo que nenhum outro animal faz que é cozinhar os alimentos.
Recentemente dois grandes projetos ligados à compreensão do cérebro foram anunciados. Na Europa, um investimento de 1 bilhão de euros será destinado a uma simulação em computador do cérebro funcionando e, nos EUA, um consórcio de cientistas vai mapear o cérebro. Como essas iniciativas se inserem no atual quadro de pesquisa da neurociência?
São desdobramentos do que já vinha sendo feito. Se você olhar para a história da pesquisa em neurociência, começamos tentando entender o que cada parte do cérebro faz, para que serve cada estrutura, e isso teve uma explosão extraordinária entre os anos 1990 e 2000 com as técnicas de ressonância magnética e tomografia computadorizada, que nos permitiram construir um mapa do que faz cada pedaço do cérebro. Nos últimos cinco anos, começou uma busca pela compreensão de como partes diferentes do cérebro interagem, colaboram e trocam informações. Nesse processo emerge a consciência, o autoconhecimento. Essa é a fronteira final nesse momento.
A sua pesquisa se relaciona de alguma forma com esses projetos?
De certa forma sim. Uma das coisas que estamos estudando e que faz parte de um artigo que acabamos de terminar é entender como os neurônios se distribuem ao longo do córtex humano [camada mais externa e sofisticada do cérebro], entre as diferentes áreas. Começamos uma pesquisa para saber qual é a relação entre a distribuição do número de neurônios e do número de sinapses, tentando entender as regras de construção do cérebro e como se dá a relação entre a distribuição de neurônios e as funções de cada área.
As iniciativas americana e europeia de compreender o cérebro e os experimentos de interface cérebro-máquina, como do brasileiro Miguel Nicolelis, receberam bastante atenção da mídia. A senhora acha que o não cumprimento dos objetivos pode gerar alguma frustração na sociedade e até descrédito para a neurociência?
Tudo depende de como as coisas são apresentadas. A maneira como eu entendo essa iniciativa do consórcio americano é compreender como o cérebro funciona como um todo. Mas, para vender isso para mídia, eles têm que colocar o propósito da cura do alzheimer, porque é um nome que as pessoas reconhecem e pensam "ah, isso é importante". Mas é importante que a mídia dê valor a esses assuntos, para que as pessoas passem a dar mais valor à pesquisa pelo conhecimento que geramos, e não só porque vamos curar doenças. Até porque se o público aprender a reconhecer o valor da ciência pela ciência, não tem por que ter frustração. Toda pesquisa bem feita traz, no mínimo, novas perguntas. Se a pesquisa é bem feita, não existe fracasso.
A senhora se divide entre a pesquisa e a divulgação de ciência, algo raro na nossa academia. Você acha que há uma falha de comunicação entre os cientistas e a sociedade?
Infelizmente a divulgação científica não é muito valorizada nem bem vista pelos cientistas. O CNPq [órgão federal de fomento à pesquisa], por exemplo, não considera a divulgação científica na conta da produtividade do cientista. Mas isso é compreensível. Dada a sobrecarga de ensino e pesquisa dos nossos cientistas, é difícil que eles ainda queiram fazer divulgação sem que isso lhes dê algum tipo de reconhecimento pelos seus esforços. Não sei se estaria fazendo divulgação se eu não tivesse voltado para o Brasil para fazer justamente isso. Depois é que eu voltei a fazer pesquisa.
Quais são os principais problemas na maneira como se faz pesquisa científica no Brasil?
Originalidade zero. Não existe incentivo à originalidade e à diversidade de pensamento. Quando eu cheguei nos EUA [para fazer o mestrado, em 1992], fiquei chocada ao descobrir que as pessoas não param cinco anos no mesmo lugar. Eles têm essa cultura de se mudar constantemente, o que favorece a diversidade de ideias. Aqui, a tradição é entrar na iniciação científica em um laboratório e continuar nele durante o mestrado, o doutorado e o pós-doutorado. E a tendência é a pessoa se aprofundar cada vez mais em um único assunto. Com isso, formamos jovens cientistas bitolados, tudo o que eles sabem é pensar em detalhes daquele único assunto que vêm desenvolvendo desde a iniciação científica. Além disso, a política de contratação nas universidades privilegia os ex-alunos. Criam-se colônias sem diversidade. Colônias em que você tem o fundador original, o chefe do laboratório, e as crias todas vão se espalhando ao seu redor, estudando a mesma coisa.
Como a senhora vê o atual estado da pós-graduação no Brasil?
O nível de exigência aqui é baixíssimo. Nos EUA e na Europa, após um ou dois anos no doutorado, você tem que apresentar o seu projeto de pesquisa original e, antes disso, precisa apresentar outro projeto de pesquisa sobre um tema que não seja da sua área só para provar a capacidade de raciocínio autônomo e original, de reconhecer um problema da ciência e propor um tratamento científico a ele. Aqui, temos um exame de conhecimentos, em que você precisa provar que domina um determinado assunto, mas com isso incentiva-se a repetir e não a gerar algo novo. No fundo, o aluno de doutorado aqui é uma pessoa que trabalha nas linhas de pesquisa de um determinando laboratório sem nenhuma exigência de que tenha contribuído de forma original para a ciência.
A formação dada pela nossa pós-graduação é ruim, então?
É fraca, muito fraca. Não porque faltem bons pesquisadores ou professores, mas porque não há cobrança, não se oferecem cursos com o professor ensinando na lousa, apenas seminários, como que dizendo: "O aluno que busque o conhecimento sozinho".
Como a senhora vê o investimento do governo no programa de bolsas Ciência sem Fronteiras?
Francamente, eu não entendo esse programa. Do jeito que está parece demagogia. Quando se começou a falar em Ciência sem Fronteiras, parecia um negócio extraordinário. Eu havia entendido que abriríamos as fronteiras nos dois sentidos, iríamos mandar jovens cientistas para fora e abrir as nossas fronteiras para os estrangeiros que quisessem vir trabalhar aqui. Poderíamos, quem sabe, acabar com o complexo de vira-lata da gente, de que só os outros que prestam, ao atrair pesquisadores de outros países. Não vemos isso acontecendo. O que se vê é uma porcentagem baixíssima de aprovação de projetos para trazer gente de fora. Pouquíssimas bolsas para enviar jovens para fazerem doutorado e pós-doutorado fora e uma massa enorme de dinheiro usada para mandar alunos de graduação para o estrangeiro, o que me choca pois, na minha avaliação, a graduação no Brasil é muito boa. Fiz graduação aqui na UFRJ e, quando cheguei aos EUA para fazer o mestrado, os professores achavam que eu era uma aluna extraordinária, pois já sabia coisas que eram dadas na pós-graduação de lá. Onde ficamos muito para trás é na pós-graduação.
Apesar de diversos estudos mostrando o malefício das drogas ao cérebro, a senhora tem se posicionado a favor da legalização. Por quê?
O problema maior das drogas é para aqueles que não têm nada a ver com a história e ficam presos no tiroteio, literalmente, que é a violência financiada pelo tráfico. No mundo ideal, gostaria que ninguém pudesse comprar drogas porque elas fazem mal e ponto. Mas também entendo que, por um lado, as pessoas deveriam ter liberdade para fritar o próprio cérebro em paz sem colocar as outras em risco. Vamos tornar as drogas acessíveis em farmácias, controladas pelo governo, para acabar com o tráfico. Mas sou contra a descriminalização, que só tranquiliza o usuário, que pode comprar a droga tranquilo, sem medo de ser preso. Sou a favor da legalização.
Há uma discussão hoje em torno da diminuição da maioridade penal. Do ponto de vista da neurociência, é possível dizer que alguns desses jovens que recentemente cometeram crimes bárbaros não sabiam o que estavam fazendo?
A adolescência é um processo que leva em torno de dez anos, as vezes até mais, e é um processo de transformação do cérebro, em que várias habilidades mudam, melhoram e a última delas é a de se colocar no lugar do outro e de ter um raciocínio consequente, entender os desdobramentos dos seus atos. Em torno de 17, 18 anos, em geral, essas habilidades de raciocínio consequente já existem e funcionam bem o suficiente para você caracterizar a pessoa como um adulto, mas é um processo. Qualquer idade que seja estabelecida vai ser arbitrária. A questão é se a idade que você escolhe como idade arbitrária é bastante segura ou não para você considerar em princípio que todos os jovens que já têm essa idade devem ter a capacidade de avaliar as consequências dos seus atos.
Dezoito anos, então, é uma idade razoável para ser usada como marco?
Acho perfeitamente razoável, talvez pudesse ser 19, ou 17 e meio, mas é importante reconhecer que essa idade é arbitrária. Além do mais, esses crimes hediondos cometidos por jovens não são cometidos porque a pessoa tinha 17 anos e cinco meses e, portanto, não tinha a capacidade de entender que quando ela estava jogando gasolina na dentista ela ia morrer se o fósforo fosse aceso. Uma criança tem essa capacidade. Nesse caso estamos falando de uma coisa diferente. Boa parte desses jovens que cometem crimes bárbaros, hediondos, é sociopata. Há a ideia de que a pobreza é culpa da classe média, de que o bandido é culpa da sociedade que não deu oportunidade. E é nesse tipo de sociedade que o sociopata floresce, uma pessoa perfeitamente sã, racional e capaz, por isso, de manipular os outros. Sociopata é um predador, causando problemas para todo mundo ao redor. Ele faz isso tanto melhor quanto mais as pessoas pensarem "pobrezinho, não é culpa dele, ele não fez nada de errado, ele não tem de ser punido". As pessoas nascem sociopatas e a sociedade tem de se saber como lidar com isso.
Como identificar esse jovem?
Psiquiatras bem treinados sabem fazer essa avaliação. Há sociopatas que jamais vão chegar a matar uma pessoa, mas ainda assim ele pode criar um monte de problemas para as pessoas ao redor dele. Mas considerando apenas os sociopatas que cometem crimes hediondos, eles devem ser reconhecidos e tratados como de fato de são, como uma pessoa cuja taxa de recuperação e de reinserção na sociedade é praticamente zero. E cuja taxa de reincidência é altíssima, não importa a idade. É isso que tem de ser levado em conta. No fundo, não importa a idade da maioridade penal.
A sra. vem defendendo a profissionalização do cientista. O que é isso?
Minha proposta é que o jovem que faz ciência tenha esse trabalho reconhecido, que seja considerado um cientista de fato. Um dos problemas do jovem que trabalha com ciência é que a própria família acha que eles estão de vagabundagem. O trabalho de pesquisa que um jovem faz sob a alcunha de estudante de pós-graduação é de verdade. Terminado o período da pós-graduação, esse jovem continua não tendo a possibilidade de ser contratado como cientista. São raros os institutos de pesquisa que contratam pesquisadores de fato no Brasil. Na grande maioria dos lugares, esse jovem vai ser contratado como professor. O primeiro problema é reconhecer que a pessoa que faz ciência tem um trabalho: ela se chama cientista. Hoje, eu não posso preencher uma ficha de dados e declarar como minha profissão cientista. Essa profissão não existe. E isso contribui para desvirtuar a pós-graduação, pois como o jovem que se forma não pode ser contratado como um pesquisador, a única maneira de ele continuar fazendo pesquisa é ele entrar para a pós-graduação. E ela então vira uma tábua de salvação, como a única maneira de continuar trabalhando no laboratório. E eles são a verdadeira mão de obra da pesquisa no Brasil. O número de publicação de artigos no país vem crescendo de mãos dados com o aumento no número de alunos de doutorado. Quem faz a pesquisa no Brasil são esses "alunos" da pós-graduação que, para mim, são cientistas, são trabalhadores, que deveriam ser reconhecidos como tais, com os direitos e deveres que todo trabalhador tem.
E o que a sra. propõe para melhorar esse quadro?
Proponho que se crie a profissão de cientista e que, para o jovem exercer a função de pesquisador, ele tenha de ser contratado. Se ele vai ou não fazer a pós-graduação também, isso passa a ser uma coisa à parte. A pós poderia passar a ser reservada, como deveria ser, àqueles alunos que demonstrem capacidade de raciocínio original, de propor novas ideias. A profissionalização do cientista não só resolveria o problema de o jovem recém-formado não ter o status de trabalhador com férias, décimo terceiro e tudo o mais, mas também ajudaria a resolver o problema da pós-graduação ser hoje uma tábua de salvação para os nosso jovens e não ser valorizada como ela deveria ser.
Como tem sido a repercussão dessas ideias dentro da universidade?
Críticas só de longe, por e-mail, sem mostrar a cara. Recebo muito apoio de alunos, que querem ter o seu trabalho reconhecido. Eu não entendo muito bem porque a ideia de profissionalizar a ciência incomoda tanto algumas pessoas. Mas as pessoas que se incomodam são as que estão lá no alto, são os diretores de institutos etc. Fica a impressão ruim de que eles não querem perder a mão de obra quase de graça. É muito comum ouvir: "Você está ganhando dinheiro para estudar". Esse é o tipo de mentalidade que mata a ciência. Isso é uma herança do século 18, pois os primeiros cientistas eram diletantes de famílias ricas, que não precisavam de dinheiro para fazer pesquisa. Hoje a realidade é outra, mas faltou mudar essa parte da pesquisa ser reconhecida como trabalho que é.
Quais são os próximos passos da sua pesquisa?
Estamos trabalhando com animais de cérebro enorme. Será o teste da nossa hipótese de que é o número de neurônios que importa e não simplesmente o tamanho do cérebro ou a relação com o tamanho do corpo. Estamos terminando agora de estudar um cérebro de elefante, depois baleias e estamos começando a trabalhar com pássaros para entender a diversidade de maneiras com o cérebro é construído e a relação que isso tem com as capacidades cognitivas e comportamentais dos diferentes animais. Mais adiante, vamos estudar a relação entre a construção do cérebro, o metabolismo e o sono. Por que animais de grupos diferentes têm necessidades diferentes de sono? E como isso está relacionado com o metabolismo do cérebro e o número de neurônios.

Fonte: Folha