terça-feira, 23 de junho de 2015

Problemas para escovar os dentes de crianças com Autismo? Porque isso acontece e como ajudar

por Ana Leite

Você conhece alguma criança com Autismo que dá o maior trabalho para escovar os dentes? Não é incomum na hora da escovação essa criança estar chorando, gritando, apertando a boca para fechar ou virando a cabeça?  Se sim, nesse post algumas ideias e informações podem te ajudar.

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O primeiro passo nesta situação é entender o “Porque”…

Crianças com Autismo lidam melhor com uma situação quando entendem o todo e não apenas uma parte. Nesta tarefa a escovação é o “todo” e as partes são:  a escova de dentes, o creme dental, a pia, a torneira, a água,  abrir a boca…

A criança precisa entender como todas estas partes  “se encaixam” e resultam em “escovar os dentes “. Além disso,  pode não ser clara a ideia de “dentes limpos e sujos”, o que dificulta ainda mais.

As questões relacionadas com a sensação (a sensação da escova na boca, o gosto da pasta de dente também é outra causa provável para a dificuldade de escovação.

Primeiro passo para uma escovarão de sucesso no Autismo: prepare a criança.

Que tal ensinar as partes que formam o todo?  Você pode ter fotos dos objetos e colocá-las perto da pia, ajudando a criança a identificar cada objeto e como ele está ligado ao ato de escovar.

Seja o exemplo! Faça e deixe a criança assistindo. Mostre os objetos, os movimentos, vá descrevendo a atividade. Isso ajuda a criança a se sentir menos “ameaçada”.

Ter uma música ou uma história sobre a escovação (veja este exemplo com a contadora de histórias Carol Levy que canta sobre a escovação), a necessidade de escovar os dentes e processo de escovação. Use esses recursos enquanto escova os dentes e repita enquanto escovar os dentes da criança.

Outra forma lúdica de desmistificar a escovação é fazer a criança escovar os dentes de bonecos!

Outras estratégias:

– Explore as várias sensações relacionadas com a escovação. Use as mãos da criança para fazer pressão ao redor da boca, gengivas e dentes. Mastigar e comer alimentos de diferentes texturas também ajuda.

– Brinque com a criança fazendo caretas em frente ao espelho. Abrir a boca é fundamental para a escovação. Dica:  faça uma careta esfregando a língua sobre os dentes!!

– Permita que a criança escolha a cor e o tipo da escova (algumas podem ter as imagens de seus personagens favoritos), bem como o sabor do creme dental.

– Incentive a criança a provar o sabor de creme dental, colocando-o em seu dedo. Depois que a criança estiver acostumada com o sabor, coloque uma pequena quantidade na escova de dentes e incentive-o a colocar a escova na boca (ou quem sabe com o próprio dedo). A resposta mais comum é a criança sugar/mastigar as cerdas . Se a criança não mostra sinais de desconforto, avance e vá para a próxima fase, deixe-o esfregar e fazer movimentos com a escova dentro da boca.

– Conte enquanto você escova os dentes da criança, de modo que ela saiba quando a tarefa vai acabar. Da mesma forma escovação com músicas vai ajudar a criança a se lembrar se esqueceu de alguma parte da tarefa, por exemplo: se esqueceu de escovar os dentes inferiores. Isso também vai ajudar a lembrar a sequência da tarefa.

– Ensine o ato de cuspir e enxaguar a boca.

Recompense a criança para cada etapa concluída com êxito.

Para reduzir os problemas relacionados com a escova e a pasta:
Use escovas super macias. O fim cerdas deve ser arredondado. Escovas com cabos mais grossos permite que seu a criança pegue melhor. Também estão disponíveis escovas com cabeças inclinadas de modo que é mais fácil de atingir as partes mais profundas da boca.
Quanto ao creme dental, inicialmente utilize apenas uma quantidade do tamanho de ervilha, pois evita espuma excessiva na boca.

E por fim, crie uma rotina!! A criança vai cooperar melhor se a escovação é sempre feito em um tempo fixo e de uma forma especial. Crie uma rotina durante a escovação: comece sempre na mesma extremidade da boca e avance para o outro lado, os dentes inferiores primeiro seguido pelos dentes superiores.

LEMBRE-SE: isso é um processo!! Não queira que em 1 ou 2 dias o problema já esteja resolvido!

fonte: autism and more  imagem: plind

8 brincadeiras para desenvolver a coordenação motora grossa em bebês – 12 a 36 meses


por Gustavo Brandão 
 

A coordenação motora grossa refere-se ao desenvolvimento dos grandes músculos do corpo. Sempre que usamos todo o corpo ou várias partes dele para realizar alguma atividade, estamos colocando nossa coordenação motora grossa à prova.

Quando um bebê senta, engatinha, anda, pula, ou corre, ele está utilizando a capacidade motora grossa, ou seja, esta trabalhando todas as partes do corpo em conjunto. Abaixo, seguem 8 exemplos de brincadeiras simples, mas que são fundamentais para um bom desenvolvimento motor.

8 brincadeiras para desenvolver a coordenação motora grossa em bebês – 12 a 36 meses.

1) Brincadeiras com bolas.
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Futebol, basquete, ou qualquer outra brincadeira que envolva chutar, correr em várias direções, agarrar ou arremessar  são excelentes para o desenvolvimento da coordenação grossa. Algo que eu fazia bastante com meu filho era brincar de jogar a bola um no outro. Ele corria atrás de mim e me acertava com a bola, depois era a minha vez de correr  atrás dele para acertá-lo. Com certeza das brincadeiras com bolas, essa foi a que mais gostávamos.


2) Imitar animais.
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Brincar de imitar animais é uma das brincadeiras que considero perfeitas, são tantas as possibilidades que é impossível enjoar. Quando o Caio[meu filho] tinha 1 indo para 2 anos, brincávamos muito de imitar macacos e leões. Engatinhar, rolar, pular,… Hoje ele tem 3 anos, e continuamos brincando muito de imitar animais, só que em um contexto de faz de conta. Agora eu costumo ser uma “minhoca gigante”, e ele o “homem de ferro que se transforma num tubarão azul”. [A imaginação de uma criança é algo espetacular mesmo.]


3) Dançar.
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Dançar dispensa comentários. Confesso que apesar de ser uma unanimidade nos aspectos positivos do desenvolvimento motor, brincar de dança nunca foi de grande interesse pelo Caio, e nem por mim. Mas fica a dica, caso goste, vá dançar.


4) Jogo do espelho.
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No jogo do espelho você fica de frente para o seu filho, como se fosse um espelho mesmo. Finja que você é o reflexo dele e imite cada movimento que ele fizer. Se ele deitar, deite também. Se ele pular, pule também. Sempre o mais igual possível. A beleza dessa brincadeira é que criança vai sozinha buscando movimentos mais complexos. Essa brincadeira foi uma experiência muito positiva para mim, era visível a ânsia do Caio em fazer movimentos mais complexos só para me desafiar, e ele nem tinha 2 anos ainda.


5) Caixas de papelão
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Essa é um verdadeiro clássico! Qual pai/mãe não comprou um eletrodoméstico, móvel ou brinquedo grande e deixou a criança curtir dentro da caixa de papelão do produto? Pode parecer simples, mas o processo de entrar e sair dela é bem complexo para eles.  Cansei de guardar caixas de papelão para brincar com o Caio. Hoje ele não dá a mínima, mas foi divertido enquanto essa fase durou.


6) Consciência corporal.
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Basicamente é uma brincadeira de identificação das partes do corpo. Você fala uma parte do corpo, e a criança terá que identificar e fazer algum movimento com essa parte. Por exemplo, você diz “braços”, e ela terá que balançar os braços. Essa é uma brincadeira que definitivamente não vingou entre o Caio e eu. De qualquer forma, fica a dica. Vai ver contigo funcione.

7) Navio Humano.
 A criança deita de barriga para cima com os joelhos dobrados e segurando o tornozelo. Coloque alguns brinquedos na barriga dela e peça para começar a se balançar para frente e para trás, como se fosse um navio na água. Essa deu muito certo comigo, como muitas das nossas brincadeiras eram num contexto de faz de conta, imaginar que eu e ele éramos dois navios no mar foi bem divertido.

8) Circuito de obstáculos.

Essa é outro clássico. Faça um percurso de almofadas no chão da sala. Realize o percurso e peça para seu filho repetir.  Ainda brinco de obstáculos até hoje, só que a complexidade aumentou bastante.

Como desenvolver a fala em crianças com síndrome de down?

por Ana Leite
 
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Em geral, as crianças com Síndrome de Down, síndrome conhecida por um distúrbio genético causado pela presença de um cromossomo a mais, possuem habilidades linguísticas menos desenvolvidas, não acompanhando o desenvolvimento das outras habilidades cognitivas, como a percepção, a memória, o raciocínio. Nestes casos, a aquisição da fala e da linguagem é um dos maiores desafios.

Em crianças com o desenvolvimento típico de linguagem, as primeiras palavras surgem por volta dos 12 aos 18 meses. Nas crianças com Síndrome de Down, as primeiras palavras podem surgir por volta dos dois ou três anos. Em muitos casos, esse desenvolvimento pode ser ainda mais tardio, podendo começar até aos cinco anos ou mais, havendo uma grande variação das habilidades linguísticas numa mesma faixa etária.
Essas crianças apresentam uma grande dificuldade em planejar e/ou executar os movimentos dos sons da fala. Estas dificuldades podem estar relacionadas ao controle muscular, que é afetado pela hipotonicidade dos músculos envolvidos na produção da fala, como lábios, língua e bochecha ou ao planejamento motor desses movimentos.

Estudos mostram que as desordens no planejamento motor da fala afetam o desenvolvimento da linguagem como um todo, alterando-o ou atrasando-o consideravelmente.

Devido às dificuldades com a articulação da fala, é comum que elas utilizem os gestos como meio de comunicação por mais tempo que as crianças com desenvolvimento típico de linguagem. Sua compreensão verbal geralmente se desenvolve melhor que a expressão.

Além disso, outra característica que pode comprometer o desenvolvimento da linguagem em crianças com Síndrome de Down são os problemas de audição, muito comuns principalmente na infância.

Apesar do atraso, estudos indicam que o desenvolvimento da linguagem nessas crianças segue as mesmas sequências do desenvolvimento típico de linguagem e que a maioria delas irá progredir até usar a fala como principal sistema de comunicação.

Nesse contexto, nada melhor que promover a estimulação. Muitas atividades cotidianas da criança podem ajudar a estimular o desenvolvimento da fala e da linguagem.

No início da comunicação é importante incentivar as vocalizações da criança, buscar compreender seus gestos e atitudes comunicativas. Conversar respondendo aos sons que ela fizer como se fosse uma conversa, relacionando essa conversa à rotina, como durante o banho, a alimentação, um passeio, são atitudes bastante eficazes. Também é preciso incentivá-la a prestar atenção aos sons, como os barulhos de casa, a campainha, a porta, o telefone e os animais.

É necessário ainda interpretar os gestos e tentativas de comunicação da criança, sempre “traduzindo” de forma verbal. Por exemplo, se seu filho apontar que quer água, mostre que entendeu e dizendo: “ah, você quer água, a mamãe já vai pegar!”. Aos poucos vá ajudando-o a pedir verbalmente o que deseja, solicitando que fale “água”. Nos início ele pode não conseguir dizer a palavra corretamente, mas se já for capaz de vocalizar ao invés de usar apenas o gesto, será um progresso.

Além disso, ofereça alimentos de consistências, temperaturas e sabores variados, respeitando cada fase, de forma a estimular a sensibilidade e a força dessa musculatura. Vale ressaltar que a musculatura que usamos para falar é a mesma que usamos durante a alimentação.

Mesmo com a ajuda de profissionais e estimulação no ambiente familiar, a criança com Síndrome de Down necessita de um período bastante prolongado para se comunicar com um bom vocabulário e articulação adequada das palavras. Por isso, é tão importante e necessária a atuação de um fonoaudiólogo.

Dirlene Moreira
Fonoaudióloga – CRFª 6-7861
Dirlene Moreira é fonoaudióloga, especializando em linguagem. Atua principalmente no atendimento a crianças com deficiência intelectual e atraso no desenvolvimento da linguagem. | Contato: 31-8229-0290

imagem: Rich Johnson


 

sexta-feira, 19 de junho de 2015

O afeto corporal: uma união de expressão



       Aprender com o corpo, gerar afeto provê elementos para colocar o corpo em ação numa utilização consciente do ritmo. O ritmo por meio do movimento acerca das relações favorece o ensino e a expressão corporal, o que leva ao surgimento de várias abordagens por meio do movimento. Toda experiência leva a expressões através do movimento do corpo numa musicalidade, onde pouco a pouco, configura-se como prática de exercício de engajamento do corpo, mente e espírito em busca de todas as capacidades para atuar e desenvolver os aspectos cognitivos, afetivos e motores que se tornam presentes nas experiências. Essa abordagem realiza-se por meio do exercício corporal em todas as instâncias, das vivências, pela percepção cinestésica, numa vivência consciente entre o agir e o realizar ou experimentar, o que vai levar o sujeito ativo em relação às coisas, ao mundo.

          Os aspectos da cognição, afetividade e motricidade promovem aumento da atenção, capacidade primordial para começar aprender. Favorece e contribui para a construção de um conhecimento corporificado possibilitando a expressividade de cada sujeito criador. Esses aspectos levam a vinculação intrínseca ao corpo, por meio das emoções, da cognição e dos movimentos, criando organizações perceptivas e fazendo do movimento  um meio ideal para aprender por intermédio do movimento corporal e assim valorizando  a aprendizagem e apontando a possibilidade de se aprender de modo corporificado. A aprendizagem gera conhecimento corporificado que se fundamenta nas interações entre corpo, mente e ambiente, da experiência corporal, das capacidades sensório-motoras e das interações sócio-culturais que cada sujeito é levado a experimentar em atuações que serão muito importantes na formação dos conceitos de si mesmos.

          As emoções, os sentimentos, a imaginação, são capazes de oferecer ao sujeito, o raciocínio e à atenção, mostrando que o conhecimento está atrelado à cognição. Uma cisão entre à emoção e o corpo, a ciência, à razão e à mente. O afeto corporal faz o sujeito imaginar, apreciar, emocionar-se e sentir. Funções que levam à apreciação do belo, à construção de conhecimento e as funções cognitivas, como atenção, memória, raciocínio, preconizando um paralelismo entre o corpo e a mente. Este paralelismo conduz a uma compreensão adequada entre o pensar a realidade, ideias, a mente e o corpo, supondo uma integração dos estados corporais e mentais que tange aos afetos.  Afetos que sustentam pontos básicos de naturalização e racionalização do dualismo mente/ corpo, corpo/alma inerentes ao ser humano e que tem poder sobre as ações. Corpo e alma sustentados por Descartes como causas da paixão, paixão que para ele é ativada através dos movimentos. Paixões e afetos, uma proximidade que concebe corpo e mente que atribui uma relação de ideias claras e distintas numa construção da identidade e autonomia referendados ao progresso do conhecimento e das práticas de humanização que dignificam e levam a auto-imagem como a definição da própria identidade, no conhecimento e na valorização de si mesma.

          O corpo é perceptível e a percepção do corpo pela mente mostra a evolução do pensamento nas principais ações que tangem aos afetos, frutos de uma causalidade. A casualidade sem necessariamente procurar, já que o afeto constitui uma realização. Quando o corpo está no afeto é capaz de dialogar com pensamentos inovadores, transmutando a forma de enxergar o corpo e aquele que o habita. Sabemos que a essência de toda a ciência é compreender bem o seu objeto, demonstrando a subjetividade que o envolve, que pode ser um elemento paradigmático sobre a saúde humana, construído socialmente, perpassando ainda pelos aspectos culturais, econômicos e políticos, que levam a uma forma de conhecer os objetos e seus fenômenos, interligando modelos construídos pelo afeto, intervindo no equilíbrio físico, no psíquico, no social, no espiritual e que tomam por base o interesse pela união entre efetividade e afetividade. O corpo no afeto permite experiências em situações que vão permitir ganhar confiança nas próprias capacidades e que sejam vistas como pessoas com possibilidades que possam explorar novas situações endereçadas a um contexto comunicativo, afetuoso e respeitoso.

          Em função disso, notamos dentre outros motivos, a importância das relações sociais na construção da noção do eu e do outro, levando a refletir diferentes dimensões do ser na relação com as etapas necessárias do desenvolvimento. O corpo no afeto compõe o cotidiano das relações que estabelecem princípios e valores que promovem a reciprocidade entre os sujeitos e a construção da autonomia, denotando o ponto de partida para o progresso moral, intelectual e afetivo e que permite aumentar e muitas vezes atingir a inteligência e coerência. É interessante que  todos estejam  preparados para conseguir valorizar os elementos subjetivos dos sujeitos, abordar vários fatores concernentes à afetividade e romper muitas vezes com o enfoque tecnicista para ensinar e aprender. O corpo é definido em geral por suas relações de forças, forças em relações com outras forças que se destacam para mostrar o sujeito como ser do mundo.


          O afeto corporal numa união de expressão dá sentido no entremeio das coisas destacando a existência humana acompanhada da consciência e de atos explícitos de pensamento, fazendo o corpo ocupar um lugar e aprender para ver, sentir e fazer.

               Beijos e até a próxima!


quinta-feira, 18 de junho de 2015

Coluna do dia: Neurociência e os desafios em sala de aula





“O que muda na mudança se tudo em volta é uma dança no trajeto da esperança, junto ao que nunca se alcança?” Carlos Drummond de Andrade.


Desde a década de 80 quando a informatização ganhou todos os setores de muitas sociedades, há uma geração evoluindo por dentro do ‘novo’ ambiente virtual. A evolução da maquinaria da Informática se deu em paralelo com o crescimento físico e mental da geração ‘nativa digital’ estabelecendo um ‘novo’ jogo cognitivo emocional surpreendente. E a escola não ficou isenta de tantas influências.

Quando se pensa na Neurociência participando deste mundo, pensa-se em oportunidades de revalorizar o mundo educacional, aproveitando os níveis (e tipos) de acesso às mais variadas tecnologias digitais e virtuais no contexto da mutabilidade neural; articulando novas práticas de ensino com a influência da ‘nova’ cognição de forma a estimular funções superiores como memória e linguagem; e gerenciando (e corticalizando) a ascensão (e solidificação) de diferentes comportamentos e emoções, advindas das ‘modernas’ maneiras de se construir relações educativas, sociais e pessoais.

Mas é preciso ter cuidados extras: ainda nos tempos de hoje, mais tecnológicos e velozes, parte dos aprendentes absorve o fluxo de informações com mais lentidão do que outros ou prioriza certos instrumentos em detrimento outros, dependendo das suas formas de contato ou necessidades. De acordo com Relvas (2012), os primeiros são os cérebros ‘lentiuns’; e os outros, os ‘pentiuns’, em uma analogia ‘afetiva’ aos processadores dos computadores. E o que isso quer dizer? Diante de um contexto educacional com a pretensão de gerar mudanças de comportamento cognitivo, ainda que muito tecnológico, os ritmos neurais e emocionais estão/são diferentes ou como afirma Baumann (2007, p.07) mais ‘líquidos’, ou seja, (...) mudando num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, e formas de agir, o que institui outras atenções, por exemplo, às novas formas de aprender.

Há, em sala de aula, diálogos de tempos muito diferentes sempre, hoje, recrudescidos pela ampliação do número de informações (e práticas) as quais os aprendentes são expostos antes (e mesmo durante) do processo de formação ‘humana’. Em sala, digladiam-se valores, desejos, emoções, informações e aprendizados de tempos diversos. Muitas vezes, por isso, há uma desarmonia, por exemplo, nas construções afetivas, hoje, entendidas, pelo estudo neurocientífico, como pontas de lança ao processo de desenvolvimento da aprendizagem significativa. É na percepção da diversidade que se pode empreender desafios contextualizados e estimular, tanto as curiosidades, quanto as criatividades, dentro e fora da sala de aula.

Cada vez mais a abordagem neurocientífica do aprendizado é entendida como um sistema de referência teórico para práticas educacionais para além das ciências biológicas e está decisivamente construindo olhares (alicerces) mais focados nas formas de aprender dos aprendentes, principalmente porque, hoje em dia, ao mesmo tempo em que se percebem modificações no circuito cognitivo e da memória, já se entende que o aprendizado varia de acordo com a perspectiva de quem o descreve. Temos que valorizar, de pronto, as experiências dos aprendentes porque estas fundamentam as memórias tão importantes ao processo intelectual e afetivo.

Neste sentido, duas reflexões são importantes: a ‘neurociência do aprendizado’ é entendida como o processo cerebral em que o cérebro reage a um estímulo, o que envolve percepção, processamento e integração da informação; e o olhar dos educadores que consideram o mesmo aprendizado, é um processo ativo que leva à aquisição de conhecimento, o que por sua vez acarreta mudanças duradouras, mensuráveis e específicas de comportamento.

Mesmo assim, não se pode descartar a ideia de que, no século XXI, os aprendentes estão se comportando diferente. Mesmo em seu dia a dia fora da escola, os aprendentes assimilaram outras características por causa de suas intensas imersões conectivas no mundo virtual e isso não pode ser banalizado ou esquecido. Há peculiaridades cognitivas, emocionais, sociais e culturais acontecendo a olho nu e isto precisa ser identificado, discutido e modificado pelos responsáveis pelo ensino e aprendizagem porque há uma geração se sentindo muito livre, muito autônoma, muito ‘senhora de si’ tendo em vista as posturas tomadas diante, por exemplo, de seu excessivo tempo em frente à tela de um computador. 

No campo educacional, o ‘ensinar’ tradicional começa a cair em desuso (porque visa formação heterogênea) e precisa ser repensado quase urgentemente. De acordo com Relvas, (...) se existem várias maneiras de aprender pelos circuitos neurais, têm-se diferentes maneiras de ensinar (2012, p. 55). E na relação com os aprendentes, estas outras maneiras de ensinar iniciam-se pelo sentir e perceber os pontos pelos quais o educador deve incidir suas propostas educacionais e suas mediações de aprendizagem.

Professores hoje são estimuladores e cultivadores de potencialidades e de inteligências sejam elas quais forem. Então a ideia é entender melhor como se dá o desenvolvimento biopsicossocial dos aprendentes e para isso estabelecer aproximações afetivas mais constantes, mudar um pouco o próprio comportamento pessoal e adquirir estratégias de mais acolhimento e focadas nos desafios.

Neste ínterim, o conteúdo começa a ser visto simplesmente como ponta do iceberg educacional. Questões como ‘como o aprendente aprende?’ ou ‘de que forma ele aprende?’ passam a ter grande importância à criação das práticas de ensino porque principiam o estabelecimento do afeto, da confiança, da amistosidade e da sinceridade entre todos, suas necessidades e desejos, futuros ou presentes.

Mas, pelo que se percebe (e é voz recorrente), o aprendente parece não ter vontade de aprender. Na maioria dos casos, ele tem tudo, tudo é fácil, rápido. É a era do “tudo ao mesmo tempo agora”; ou como diz Relvas (2012), é a era do ‘fast food’ em que tudo pode em nome da tranquilidade e do pouco trabalho, tanto na família, quanto na escola; ou ainda, é a era do “cérebro de recompensa”, em que tudo que é solicitado ao aprendente precisa de um retorno, um lucro, algo material ou físico que estimule à vontade de realizar, de fazer, não apenas de aprender. E é preciso refletir sobre isso também diante das tantas demandas impostas a este educador no cotidiano de sua profissão.

É uma complexidade de fatores dentro da complexidade humana, logo é preciso estudar continuamente. Ao reconhecer as regiões o cérebro em que estão envolvidas as funções cognitivas como, por exemplo, a leitura e o cálculo; entender a importância do reconhecimento dos mecanismos cerebrais que subjazem as habilidades que os aprendentes devem adquirir efetivamente; e, principalmente, compreender as razões biológicas dos comportamentos, mesmo dos chamados ‘desvios de conduta’; o professor desenvolver metodologias diferenciadas; ter flexibilidade em suas maneiras de avaliar; e criar vínculos mais positivos e de interesse com seus aprendentes.

Atividades lúdicas (diferentes), dinâmicas de grupos temáticas, projetos interdisciplinares, visitas técnicas etc., estimulam conexões sinápticas diversas e a mutabilidade cerebral; estimulam mais humanidades (menos violência) entre muitos e solidariedade entre todos; estimulam mais autonomia, participação e autoestima; estimulam, enfim, mudança de comportamento e fortalecimento dos desempenhos pertinentes ao convívio em sociedade.

Profª Claudia Nunes

Referências:
BAUMAN, Zygmunt. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2007.
RELVAS, Marta Pires. Neurociência na prática pedagógica. Rio de Janeiro: WAK editora, 2012.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Coluna do dia: Um breve histórico das classes/escolas hospitalares




O atendimento pedagógico hospitalar surgiu em meados do século XX na França mais especificamente após a Segunda Guerra Mundial, no qual inúmeras crianças e adolescentes em idade escolar foram mutiladas e feridas, o que motivou a permanência delas em hospitais por longos períodos.

 Diante dessa realidade surge então, a classe hospitalar em 1935 em Paris, criada por Henri Sellier, no intuito de tentar amenizar as consequências da guerra e que oportunizasse a essas crianças, enquanto alunas, de prosseguir em seus estudos ali mesmo no hospital. E assim com incentivo de médicos, religiosos e voluntários, a classe hospitalar foi conquistando um espaço na sociedade, sendo difundida para vários países, entre os quais se pode citar a Alemanha e os Estados Unidos que aderiram à criação de Classe hospitalar com o objetivo de beneficiar crianças tuberculosas que na época eram isoladas do convívio social e impossibilitadas de frequentar a escola.

 Em 1935, Na capital Guanabara, foi inaugurado o Hospital Geral Jesus pelo então prefeito do Distrito Federal Dr. Pedro Ernesto.  “O primeiro time de médicos e cirurgiões, deram os primeiros passos no atendimento diferenciado às crianças hospitalizadas no Estado do Rio de Janeiro”, principalmente no tratamento das crianças com poliomielite. De acordo com o acervo histórico disponível no Centro de Estudos do Hospital Municipal Jesus há registro de que em 14 de Agosto de 1950 através da Portaria nº 634 foi implementado o trabalho da Classe Hospitalar Jesus no então Hospital Geral Jesus, com a finalidade de dar assistência às crianças internadas.  Essa Classe Hospitalar funciona até hoje, vinculada a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.

Beijos e até a próxima!


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Coluna do dia: MINHA VIDA E O AUTISMO – O Processo de Mudança, decisão dolorosa!





Olá leitor que me acompanha quinzenalmente nesta coluna. Voltando à nossa história com o TEA, digo: uma separação nunca é fácil. Sim, uma separação e duas crianças com deficiência (quase não uso o termo “especiais” afinal, ao meu olhar, todas as crianças são especiais) é algo inimaginável e duro de viver. Passei por isso, e uma mudança radical aconteceu em nossas vidas. Então é sobre isso que vou falar / lembrar, resumidamente: uma tarefa difícil ainda!

Quando realmente comecei a repensar minha vida depois do Autismo, e reavaliar a nossa estrutura familiar, cheguei a triste conclusão que não adiantava nada meus filhos terem as melhores equipes terapêuticas, a melhor escola, o melhor professor de esporte e o nosso lar estar desestruturado, não por falta de amor, ou tentativas de superação, mas por desentendimentos constantes.

Um dos pontos mais difíceis da minha decisão foi deixar o Rio de Janeiro, lugar onde meus filhos tinham muita estrutura em relação à saúde principalmente. Mas ficar era insustentável emocionalmente para mim, já que eu não dava mais conta dos desgastes vividos na relação conjugal. Eu precisava sair, partir e voltar. Estava tudo muito confuso, eu sentia uma responsabilidade enorme e uma sensação de fracasso também, afinal minhas tentativas não tiveram sucesso e o casamento tinha acabado!

Antes e durante todas tentativas sofri como qualquer mulher que já amou, idealizou e sonhou com um casamento: um homem para o resto da vida, envelhecer juntos, compartilhar alegrias e tristezas, afinal eu tinha 26 anos quando nos conhecemos e fazia parte dos meus sonhos tudo isso.

Gostaria de deixar claro que o casamento não acabou por conta do Autismo, não! Ao contrário, a estrutura que adquirimos para cuidar de nossos filhos nos manteve juntos e protelou a separação.

Uma amiga querida e muito conhecida da comunidade azul, eu a chamo carinhosamente de minha MÃE AZUL, em um encontro para um café da tarde, me disse assim: “Você caminha de mãos dadas com o seu amor até a beira do abismo e se, mesmo assim, ele insistir em se jogar, você solta as mãos dele e volta, seus filhos precisam de você!” E foi o que eu fiz. Deixei de pensar muito e agi, pois não estávamos felizes!

Antes de tomar definitivamente essa decisão, estava em um domingo assistindo o programa Fantástico, aguardando ansiosa por uma matéria que mostraria a reabilitação de um garoto com paralisia cerebral através do Surf. Ao ver a matéria fiquei entusiasmada, vi uma possibilidade, já que um dos estímulos para Helena, na reabilitação motora, sensorial, emocional, se dava através de esporte (fazia ginástica artística e natação), e, claro, também seria benéfico para Tom que apresentava melhor desenvolvimento.

Enquanto estivemos juntos, o pai de meus filhos contribuiu como pode e do jeito que foi ensinado a demonstrar afeto para sustentar emocionalmente nossa família. Esforçava-se para que eu pudesse estar em todos os cursos, congressos, simpósios etc. Minha mãe ficava com as crianças (ela vivia na ponte área Rio/São Paulo) com a ajuda de “Manu” que colaborava com os cuidados diários em nossa casa e, claro também tinha muito carinho e cuidado com Helena e Tom.

Muitas vezes o meu tempo era só para pegá-los na escola, entrar em casa, dar banho, almoço e correr para as terapias; e nisso Manu era o anjo nas nossas vidas, eu não precisava me preocupar, ela deixava tudo pronto e preparava as crianças, o que me possibilitava retornar um telefonema, um email para cliente (eu dava suporte no escritório que tínhamos) e almoçar também.

Tudo isso pesava em minha relação. Tudo isso pesou no momento de me separar! Mas não teve jeito e, num ato de muita CORAGEM, segundo Nelson Mandela: “Coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele” e RAZÃO,  peguei as crianças e parti para casa da minha mãe em São Paulo, de onde só sai para buscar minha mudança muitos dias depois. Ainda sem a ‘ficha ter caído’ sobre a realidade do fim de um casamento, agora eu precisava agir e recomeçar! Não havia tempo para chorar mais.

E como foi esse RECOMEÇAR? Eu conto na próxima coluna, lembrando que dia 18 de junho, próxima quinta feira, é o DIA DO ORGULHO AUTISTA! É o momento em que mães e pais demonstram mais AMOR, força, luta, coragem e fé por seus filhos. Não que dia 18 seja apenas para este fim, pois somos isso o tempo todo, mas sim é MAIS um momento para que cobremos das autoridades, políticas públicas relacionadas à construção de CENTROS DE REFERENCIA em tratamento para pessoas com Autismo!

EU LUTO PELA CLINICA ESCOLA DO AUTISTA e você?

Muitos Abraços AZUIS a todos!