por Ana Leite
Em geral, as crianças com Síndrome de Down, síndrome conhecida por um
distúrbio genético causado pela presença de um cromossomo a mais,
possuem habilidades linguísticas menos desenvolvidas, não acompanhando o
desenvolvimento das outras habilidades cognitivas, como a percepção, a
memória, o raciocínio. Nestes casos, a aquisição da fala e da linguagem é
um dos maiores desafios.
Em crianças com o desenvolvimento típico de linguagem, as primeiras
palavras surgem por volta dos 12 aos 18 meses. Nas crianças com Síndrome
de Down, as primeiras palavras podem surgir por volta dos dois ou três
anos. Em muitos casos, esse desenvolvimento pode ser ainda mais tardio,
podendo começar até aos cinco anos ou mais, havendo uma grande variação
das habilidades linguísticas numa mesma faixa etária.
Essas crianças apresentam uma grande dificuldade em planejar e/ou
executar os movimentos dos sons da fala. Estas dificuldades podem estar
relacionadas ao controle muscular, que é afetado pela hipotonicidade dos
músculos envolvidos na produção da fala, como lábios, língua e bochecha
ou ao planejamento motor desses movimentos.
Estudos mostram que as desordens no planejamento motor da fala afetam
o desenvolvimento da linguagem como um todo, alterando-o ou atrasando-o
consideravelmente.
Devido às dificuldades com a articulação da fala, é comum que elas
utilizem os gestos como meio de comunicação por mais tempo que as
crianças com desenvolvimento típico de linguagem. Sua compreensão verbal
geralmente se desenvolve melhor que a expressão.
Além disso, outra característica que pode comprometer o
desenvolvimento da linguagem em crianças com Síndrome de Down são os
problemas de audição, muito comuns principalmente na infância.
Apesar do atraso, estudos indicam que o desenvolvimento da linguagem
nessas crianças segue as mesmas sequências do desenvolvimento típico de
linguagem e que a maioria delas irá progredir até usar a fala como
principal sistema de comunicação.
Nesse contexto, nada melhor que promover a estimulação. Muitas
atividades cotidianas da criança podem ajudar a estimular o
desenvolvimento da fala e da linguagem.
No início da comunicação é importante incentivar as vocalizações da
criança, buscar compreender seus gestos e atitudes comunicativas.
Conversar respondendo aos sons que ela fizer como se fosse uma conversa,
relacionando essa conversa à rotina, como durante o banho, a
alimentação, um passeio, são atitudes bastante eficazes. Também é
preciso incentivá-la a prestar atenção aos sons, como os barulhos de
casa, a campainha, a porta, o telefone e os animais.
É necessário ainda interpretar os gestos e tentativas de comunicação
da criança, sempre “traduzindo” de forma verbal. Por exemplo, se seu
filho apontar que quer água, mostre que entendeu e dizendo: “ah, você
quer água, a mamãe já vai pegar!”. Aos poucos vá ajudando-o a pedir
verbalmente o que deseja, solicitando que fale “água”. Nos início ele
pode não conseguir dizer a palavra corretamente, mas se já for capaz de
vocalizar ao invés de usar apenas o gesto, será um progresso.
Além disso, ofereça alimentos de consistências, temperaturas e
sabores variados, respeitando cada fase, de forma a estimular a
sensibilidade e a força dessa musculatura. Vale ressaltar que a
musculatura que usamos para falar é a mesma que usamos durante a
alimentação.
Mesmo com a ajuda de profissionais e estimulação no ambiente
familiar, a criança com Síndrome de Down necessita de um período
bastante prolongado para se comunicar com um bom vocabulário e
articulação adequada das palavras. Por isso, é tão importante e
necessária a atuação de um fonoaudiólogo.
Dirlene Moreira
Fonoaudióloga – CRFª 6-7861
Fonoaudióloga – CRFª 6-7861
Dirlene Moreira é fonoaudióloga, especializando em linguagem. Atua
principalmente no atendimento a crianças com deficiência intelectual e
atraso no desenvolvimento da linguagem. | Contato: 31-8229-0290
imagem: Rich Johnson
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