Ah que maravilha estar de volta e poder
dividir aqui com vocês mais esse texto!
E, diga-se de passagem, MUITO FELIZ. Feliz mesmo porque paro mais uma vez a
sequencia da minha história para relatar o mega susto vivido há 15 dias: susto que enfrentei junto a minha
família e minha filha mais velha,
Helena. Mas, para lhes contar o que houve, vou precisar contar um pouquinho
sobre um fato importante.
Eu fui
agraciada, em um sorteio, com um curso mensal em APERFEIÇOAMENTO SOBRE
AUTISMO, no Rio de Janeiro. Minha
participação só é/foi possível porque tenho a melhor mãe do mundo e os
melhores amigos também. Sabendo do meu
empenho em estudar e da minha dificuldade financeira, minha querida amiga,
conselheira, guru como carinhosamente a apelidei, Iana Lima, me presenteou com
as passagens aéreas durante todo o curso. Então
o que posso pensar e dizer sobre ser sorteada, ganhar as passagens, ter
hospedagem? DEUS e o UNIVERSO sempre
conspiram ao nosso favor no momento em que não vemos saída e precisamos muito!
Ao contrário de todos os meses que viajei
para fazer o curso, dessa vez foi diferente, sai de casa com um sentimento
estranho, com o desejo de voltar o quanto antes. Na sexta feira, dia 14 de maio
fui para aula mal, uma dor de cabeça fora do comum, angustiada, inquieta, dai resolvi ligar para casa e saber
como estavam as crianças. Minha mãe, ao atender ao telefone me disse que havia
levado Helena à pediatra, Dra. Flavia Strafacci (uma médica espetacular, de
muita competência e sensibilidade, um anjo em nossas vidas, atendendo minhas
crianças no Sistema Único de Saúde - SUS), pois tinha notado que ela estava
quieta demais, sem querer comer e com forte odor na urina. Dra Flavia a
examinou e pediu exames que seriam realizados apenas na segunda feira pelo SUS,
porém orientou que, se Helena tivesse febre, a levasse ao pronto-socorro mais
próximo. Nesse hora, eu já fiquei apreensiva, mas minha mãe me tranqüilizou
para que eu continuasse no curso e assim o fiz.
No sábado fui para a aula normalmente, passei
o dia monitorando minha filha e mãe por telefone, quando, já no fim da aula as
18h, Helena começou a ter febre. Sai da aula para a casa de Erica, minha grande
amiga (foi a primeira pessoa a saber que eu estava grávida de Helena, temos uma
ligação muito forte) onde sempre fico. Às 22h, minha mãe me liga dizendo que
minha princesa estava com 40 graus de febre, me bateu um desespero, e ligamos
para minha irmã e meu cunhado que é pediatra em São Paulo. Não houve dúvidas e
imediatamente foram para Santos. Ao chegarem minha irmã me ligou para saber se
eu estava de acordo em levar Helena para o Hospital onde meu cunhado trabalha,
pois provavelmente seria um caso de internação, embora aflita, me senti
aliviada, pois sabia que mais uma vez um dos meus filhos estaria nas melhores
mãos, afinal minha irmã já tinha acolhido e cuidado do Tom quando ficou na UTI
como contei na coluna anterior.
Embarquei para São Paulo no primeiro voo,
direto para o Hospital Municipal do Campo Limpo, encontrei minha mãe e Helena
no pronto-socorro pediátrico. Ela já estava
medicada e dormindo. Não contive o choro quando as vi, estava muito tensa,
com medo e assustada com todo o contexto. Naquele momento era o melhor que
tínhamos e o melhor que o hospital podia oferecer, diante da demanda gigante
que recebem de crianças diariamente e, principalmente, nessa época mais fria do
ano.
Enquanto isso eu só pensava qual era o real
estado de Helena, quanto tempo nós ficaríamos ali e como seria o comportamento
dela no decorrer da internação. Isso me preocupava muito: a agitação, a
medicação na veia, ficar deitada na cama etc. Como conseguiria tudo isso, com
minha filha dentro do Transtorno do Espectro do Autismo? Será que todo mundo
ali, pacientes, acompanhantes, enfermagem, sabiam o que era Autismo sem o
estereótipo daquela criança totalmente isolada em seu mundo ou ainda agressiva?
Bem minha mãe se foi e eu fiquei no hospital
com minha pequena. Esta, ao acordar, abriu um sorriso tão largo e um olhar tão
terno, que me tranquilizou. Ela estava realmente comigo e conectada, não tinha
aquele olhar perdido característico dela, ou por ter passado por alguma
situação traumática, ou porque não conseguiu dar conta de uma situação
inesperada. E as duas primeiras noites foram muito difíceis.
Nós estávamos com mais 03 ou 04 crianças, no
mesmo ambiente, o que desorganizou muito Helena. Houve crises de agitação, choro,
risada, ela ficou sem dormir e, consequentemente, as outras crianças também não
dormiam. Os acompanhantes, mães, pais, às vezes, vizinhos, tios(as), na
simplicidade de cada um, foram solícitos e acolhedores. Foram amáveis e
cuidadosos com Helena e, aos poucos, fomos formando um grupo e criando
vínculos, cada um contando um pouco da sua vida e eu, da minha. Eles queriam
entender melhor o que Helena tinha.
Inicialmente,
a
infecção nos rins se confirmou com o exame clinico que meu cunhado, Dr. Gustavo,
realizou em Helena. Nas 48 horas seguintes, com os exames de urina e sangue, o
próximo passo eram exames para investigar a bactéria que se instalou e torcer
para que o antibiótico fosse eficaz no tratamento. Era preciso não deixá-la desidratar e mantê-la o mais tranquila
possível.
Duas situações me surpreenderam muito:
- a primeira situação foi uma junta de residentes, entre eles, um psiquiatra, dois
pediatras, dois psicólogos, uma assistente social, uma fisioterapeuta,uma fonoaudióloga
no terceiro dia de internação, ainda no PS Infantil, coordenados por uma médica
pediatra, me solicitou contar minha experiência com o Autismo. Todos ouviram
atentamente e fiquei admirada pela iniciativa da equipe;
- a segunda situação, e mais emocionante para mim,
foi a coragem e força com que Helena enfrentou toda a situação. Em um dia, ela
arrancou dois acessos (procedimento feito para que a medicação seja feita na
veia sem que se tenha que perfurar o
corpo toda vez do paciente, então é feito uma única vez e este fica preso
ao braço, antebraço, mão etc), no auge de sua agitação. E a cada vez que o
acesso precisava ser refeito, ela não chorava, mas me pedia socorro com seus
olhos. Seu olhar era sempre de espanto, seu corpinho se contorcia todo e ela
não tirava os olhos dos meus olhos. Nossa, como isso me doía! Mas, ao mesmo
tempo, eu me orgulhava de ver minha garotinha tão corajosa. Talvez por causa da
questão da baixa do tônus muscular (hipotonia), ela fosse mais resistente a
dor.
O Coordenador da pediatria, Dr. Paulo, foi
muito atencioso, respeitando todas as necessidades de Helena quanto ao
ambiente, alimentação (restrição a lactose) e a medicação a qual ela faz uso. Um
dia após nossa conversa conseguimos um leito na ala da pediatria e saímos do
pronto-socorro (PS). Fomos para um quarto, no 6ª andar, com apenas mais uma
criança (um bebê também com infecção nos rins), ficamos melhor acomodadas e, no
andar, tinha brinquedoteca, cineminha, música e atividades até para as
acompanhantes, tudo sobre a coordenação de uma profissional incrível, Ester,
que é pedagoga, psicóloga e responsável por estampar sorrisos nos rotinhos
daquelas crianças internadas, além da presença assídua dos Doutores da Alegria.
Em resumo, o hospital público, o qual eu estava muito apreensiva, tinha / tem
uma estrutura fantástica como poucos que conheci.
Nossa companheira de quarto, Clara que
acompanhava seu filhinho THIAGO de 48 dias, foi excelente e, quando
conseguíamos conversar, pois os cuidados com nossos pequenos eram intensos e
não dava para desgrudar os olhos, dávamos algumas boas risadas juntas. No
quarto não havia televisão e livro não dava para ler, pois eu tinha que
monitorar o tempo todo o acesso de Helena, a alimentação que, ao 5ª dia, ela
aceitava melhor.
Às vezes, conseguíamos que ela fosse retirada
do soro para que pudéssemos dar uma voltinha no corredor e brincar um pouco. Eu
a distraia nesses dias com historias. Ela adora livrinhos (não sabe ler) com
figuras simples, com canetinhas, lápis de cor, desenhos, carinho e mimo. Para
conter os momentos de euforia, momentos em que ela ria sem parar ou chorava, o
que é comum, sempre por volta da 19h, eu era ajudada, de forma intensa, por
Clara. Nestas horas, explicava a ela que precisaria de silêncio e não ter visitas
até passar a crise e esta não durava 10 minutos. Ambientes barulhentos e com
entra e sai reforçavam as crises de riso e choro. Ambientes silenciosos e sem
entra e sai a acalmavam.
No meio desse
processo, Helena pegou uma gripe que dificultou o sono, pois evoluiu para
um chiado nos pulmões, necessitando de mais medicação para o quadro que se
apresentava de uma possível bronquite.
Enfim, foram 10 dias de internação, um susto
tremendo, que Graças a Deus, e o apoio total da minha família, as orações e
carinho dos amigos (as) que mesmo longe se fizeram presentes diariamente,
através de uma mensagem, um telefonema, nos deram força!
Embora tenha tido alta com todo o tratamento
concluído, a infecção zerada, as recomendações médicas foram firmes quanto ao acompanhamento
com um nefrologista, para saber a fundo com estavam os rins de Helena, já que
ela não bebe água, e quando bebe é bem pouco, um gole apenas, com insistência.
Era preciso prevenir qualquer infecção de repetição. A bactéria identificada é
referente as fezes. Helena teve uma disfunção gastrointestinal no dia das mães.
Estávamos na rua e a limpamos em um shopping. Não havia lugar para lavá-la, que
é o correto e o que sempre faço em casa. Esta pode ter sido uma das causas, mas
isso só saberemos após as consultas e exames.
Saímos do hospital com encaminhamentos para
todos especialistas, inclusive um a gastro-infantil, um nefrologista e um
pneumologista. Tudo já encaminhado aqui em Santos, após a consulta na ultima
quinta feira com a pediatra dela Dra. Flavia.
Agora me despeço, agradecendo muito, muito e
muito por passamos por mais essa firmes e fortes!!! E dizendo que, com tudo
isso, eu me sinto, claro, cansada, mas muito feliz em estar com Helena e Tom em
casa. Obrigada meu DEUS!!!
Beijos em todos e até a próxima coluna,
retornando a nossa história.
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