Um dos primeiros relatos que temos sobre a educação com um olhar mais
global se dá através das Paideias, na Grécia. As mesmas eram
constituídas a partir da concepção de que a comunidade e o indivíduo são
responsáveis uns pelos outros e, dessa forma, vão se transformando,
integrando-se e evoluindo. O indivíduo era percebido sobre seus diversos
aspectos e fazia parte de uma cadeia social. Cada um era importante.
Cada um tinha contribuições para a evolução daquele contexto social.
Entretanto, as concepções mudaram e a educação “abandonou” a
percepção individual e integral do sujeito para outro aspecto muito
diferenciado: o indivíduo valia o quanto ele produzia; em outras
palavras, o melhor aluno era aquele que conseguia acumular mais
conhecimento. Mas até aqui a escola ainda não era para todos. Apenas
alguns privilegiados estudavam.
Conforme Tracey Espinosa, mesmo tendo os direitos assegurados pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos, é somente na década de 1980
que a educação em massa começa a fazer parte do cenário educacional e,
através dessa maior diversidade, percebeu-se que o sistema educacional
necessitava de muitas melhorias.
Todo o conhecimento que se tinha em educação, aprendizagem e
comportamento humano ainda era fruto de pesquisas anteriores ao
escaneamento cerebral. As grandes mudanças começam a ocorrer com o
surgimento da neurociência, responsável pelo estudo metódico do sistema
nervoso.
A psicologia, uma das áreas que sempre auxiliou a educação, ao
agregar os conhecimentos da neurociência, começou a trazer abordagens
diferenciadas para o contexto educacional e, dessa forma, a pedagogia
pautada na educação e aprendizagem percebeu que se fazia necessário um
novo olhar educacional, voltar às origens da Paideia e encarar o ser
humano como um ser global. Todas as áreas que até então eram
“especializadas em” modificam-se e começam a atuar de modo
interdisciplinar agregando a nomenclatura de Neuroeducação.
A Neuroeducação não é uma nova área do conhecimento. Ela trata da
junção dos conhecimentos da psicologia, educação e neurociência.
A Neuroeducação nos traz uma abordagem diferenciada do que é
aprendizagem. Anteriormente, em uma visão mais tradicional se diria que
“aprender é a aquisição de novos conhecimentos”. A mesma Neuroeducação
nos mostra agora que “aprender é modificar comportamentos”.
Quando pensamos uma educação inclusiva o significado de aprender
dentro destas concepções tem outro valor. Porque se o sujeito é somente
avaliado pelo viés do conhecimento adquirido dentro do contexto escolar,
certamente a educação não estará sendo inclusiva; mas, se ela consegue
perceber o educando como alguém que modificou seu comportamento inicial,
seja ele, psicomotor, cognitivo ou emocional, desse modo sim, estamos
diante de uma educação inclusiva, que prima pelos direitos humanos.
Percebemos indivíduos Downs atuando na sociedade como repórteres,
cineastas, professores, e outras tantas profissões e temos o
entendimento do quão importante é a interação com o meio. Mais ainda, do
quão importante é o trabalho de um profissional que tem o entendimento
do funcionamento do sistema nervoso.
O neuroeducador, profissional da Neuroeducação, resgata a práxis das
Paideias. Ele observa o indivíduo em seus aspectos que precisam ser
melhorados e em suas potencialidades e, através disso, constrói um
planejamento individualizado para cada educando. Porém, em última
instância, todos aprendem, pois há modificação de comportamento tanto
para o neuroeducador quanto para os educandos. Ambos necessitam sair de
suas zonas de conforto e, dessa forma, alcançar patamares mais elevados.
Resgata-se assim um valor primordial que os gregos já conheciam: a
cooperação. A sociedade se constitui pelo entendimento da
responsabilidade que temos uns com os outros e só podemos mudá-la se
mudarmos nossos comportamentos.
Esta reportagem foi publicada na edição de lançamento da Revista Meucerebro. Confira!
Autora: Ana Lúcia Hennemann; especialista em
Alfabetização, Educação Inclusiva e Neuropsicopedagogia. Pós-graduanda
em Neuroaprendizagem.
Fonte: TOKUHAMA – ESPINOSA, Tracey. Why Mind, Brain, and Education Scienceis the “New” Brain-Based Education. Disponível online em migre.me/lXgK3
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