sexta-feira, 24 de julho de 2015

COLUNA DO DIA: O acidente vascular cerebral e a atuação da fonoaudiologia nas alterações de fala e linguagem











Se não podemos prever quando uma doença como essa atingirá um ente querido, devemos encarar as dificuldades e, muitas vezes, aprender a conviver com elas.

O acidente vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame, segundo pesquisas, é tido como a segunda maior causa de morte no mundo. É a doença neurológica que mais incapacita os adultos. E geralmente afeta a maioria da população idosa. Porém atualmente, percebemos um aumento considerável no percentual de casos de AVC’s em indivíduos abaixo dos 65 anos, devido ao stress e ao excesso de trabalho ou aborrecimentos relacionado à dinâmica dos dias atuais; e também em pessoas ainda muito jovens.

A causa mais comum para este distúrbio são os AVEs (Acidente Vascular Encefálico) do tipo isquêmico ou seja, quando há uma obstrução da artéria, impedindo a passagem de oxigênio para as células cerebrais, que morrem - essa condição é chamada de isquemia. A diferença do AVC isquêmico para o AVC hemorrágico é o que segundo decorre do rompimento de um vaso, e não de seu entupimento. Além do que podem ocorrer outros tipos de lesão como o Traumatismo Cranioencefálico(TCE). Um dos principais conceitos atuais sobre o TCE é que o dano neurológico não ocorre apenas no momento do impacto, mas progride ao longo de dias e horas (lesão secundária).

É de suma importância ressaltar que a necessidade de prestar socorro à vítima de AVC o mais rápido possível. Na maioria dos casos, a chegada ao médico deve acontecer em até três horas após o surgimento do início dos sintomas e em meio isso diferentes medicamentos deverão ser administrados. Nessa corrida em favor da vida, é possível dissolver o coágulo que obstruiu o vaso sanguíneo e permitir assim que o sangue volte a circular normalmente. Essas primeiras atitudes aumentam a chance de cura e diminuem a intensidade dos danos, em especial nos casos de derrame isquêmico.

Caso o atendimento seja tardio, a possibilidade de cura sem sequelas vai depender da localização e do tamanho da área do cérebro que foi atingida.

As incapacidades decorrentes do AVC afetam a vida do paciente e de seus familiares mais próximos. Entre estas incapacidades está a Afasia, um distúrbio de linguagem decorrente de uma disfunção cerebral que afeta circuitos neuronais relacionados à produção/expressão e compreensão da fala.

Considerando o alto comprometimento das funções neuromuscular, motora, sensorial, perceptiva e cognitivo-comportamental, o fonoaudiólogo irá propiciar a reabilitação das funções comprometidas parcialmente ou totalmente, dependendo do grau de comprometimento da área afetada, pois, quando a lesão acontece, no caso, no hemisfério esquerdo, onde estão localizados os principais centros de linguagem (podendo ocasionar uma Hemiplegia Direita), ocorrem:
ð  afasias;
ð  apraxias ideomotoras e ideacionais;
ð  alexia para números;
ð  descriminação direita / esquerda e lentidão em organização e desempenho;
ð  alterações viso espacial;
ð  autonegligência unilateral esquerda;
ð  alteração da imagem corporal;
ð  apraxia de vestuário;
ð  apraxia de construção;
ð  ilusões de abreviamento de tempo e rápida organização;
ð  desempenho entre outros.

O funcionamento da linguagem envolve várias estruturas cerebrais. A presença de uma lesão em áreas específicas do cérebro irá afetar o funcionamento destes circuitos, gerando um distúrbio de linguagem em diferentes graus e formas, e o tratamento fonoaudiológico irá auxiliar o paciente a superar suas dificuldades de linguagem, através de atividades de reabilitação baseadas no conceito da neuroplasticidade, que é a capacidade do sistema nervoso se modificar através de estímulos externos e necessidades adaptativas.

Vale ressaltar que o fonoaudiólogo na reabilitação de pacientes portadores de AVC atua de forma multidisciplinar, garantindo uma melhor qualidade de vida do paciente, uma vez que a respiração, a postura, a deglutição e as emoções possuem uma relação direta nesta doença, necessitando assim de uma intervenção multidisciplinar. Profissionais como médicos neurologistas, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos atuam intensamente em parceria com fonoaudiólogo, com o objetivo de adequar o mais breve as funções alteradas, buscando contribuir efetivamente para uma melhor qualidade de vida, autonomia e inserção social.

Muitas vezes a evolução do paciente portador de AVC é um processo lento que envolve a ajuda individual, familiar e social. Muitas pessoas continuam sua evolução por anos e alguns danos podem ser irreversíveis. Portanto, seguem algumas dicas importantíssimas que contribuirão para o seu melhor desenvolvimento do paciente que teve acidente vascular cerebral e ficou com uma afasia. Atenção:

ð  Busque informações quanto a todos os procedimentos indicados tais como remédio, cuidados físicos e de higiene que a pessoa precisará ter;
ð  Busque todos os serviços disponíveis para ajudá-lo a recuperar-se das possíveis lesões que possa ter, como acompanhamento profissional de fisioterapeutas, fonoaudiólogos etc.;
ð  Procure saber quais os cuidados alimentares que a pessoa precisará ter;
ð  Evite comentar com outras pessoas sobre as dificuldades de comunicação na sua presença, isso pode desmotivá-lo;
ð  Evite chamar a sua atenção para as dificuldades que apresenta (“Como não se lembra disso?” ou “Não consegue isso fazer isso?”);
ð  Converse com o ele sobre assuntos do dia a dia, sua rotina diária, o que será feito no dia e em quais horários deseja comer algo diferente;
ð  Fale de notícias de jornais, programas que esteja assistindo;
ð  Recorde fatos vividos, como viagens, aniversários, datas marcantes falando o nome dos familiares etc.;
ð  Fale de forma clara, pausada, ao se comunicar com ele, ou seja, fale uma pessoa de cada vez; e deixe que fale da maneira como for possível: não o interrompa, seja paciente, tenha calma e compreensão esforçando-se para compreender o que ele deseja dizer ajudando-o, mas sem “falar por ele” o tempo todo;
ð  Valorize suas pequenas conquistas (“Que bom! Já esta lembrando disso!” ou “já está  escrevendo isso, ou falando isso, ou lendo isso…”);
ð  Encoraje-o a participar das atividades de grupo em família, não o fazendo sentir-se isolado;
ð  Procure não privá-la  dos acontecimentos sociais devido a suas limitações.

Mas a principal dica é dar muito carinho e atenção. Embora a pessoa possa apresentar alguma diferença física ou psicológica devido às sequelas da doença, o importante é não olhar para ela com sentimento de pena. Lembre-se: ela é uma pessoa querida e, no momento, precisará de todo o seu apoio e cuidado.

No começo, a adaptação pode ser difícil, mas ao trabalharmos constantemente pelo bem- estar da pessoa, tudo isso deixará de ser algo pesado e passa a ser leve. Acima disso está o profundo carinho que se tem com ela, desta forma ela será eternamente grata por saber que existem pessoas que realmente a amam e a respeitam, apesar das suas incapacidades.

Por fim, lembre-se: cada paciente apresenta seu próprio limite de resposta ao tratamento, limite esse que deve ser respeitado pelo profissional em parceria com a família.

“Existem momentos na vida da gente, em que as palavras perdem o sentido ou parecem inúteis e, por mais que a gente pense numa forma de empregá-las, elas parecem não servir. Então a gente não diz, apenas sente.” SIGMUND FREUD

Até a próxima!

Maria Paula C. Raphael
CRFa 7364-RJ
Fonoaudióloga, Sociopsicomotricista Ramain-Thiers, Docente da AVM  Faculdade Integrada, cursos de pós graduação (UCAM), Eventos em Educação,  Supervisora na Formação em Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers, Palestrante em eventos de educação e saúde.


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