Se não
podemos prever quando uma doença como essa atingirá um ente querido, devemos
encarar as dificuldades e, muitas vezes, aprender a conviver com elas.
O acidente
vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame, segundo
pesquisas, é tido como a segunda maior causa de morte no mundo. É a doença
neurológica que mais incapacita os adultos. E geralmente afeta a maioria da
população idosa. Porém atualmente, percebemos um aumento considerável no
percentual de casos de AVC’s em indivíduos abaixo dos 65 anos, devido ao stress
e ao excesso de trabalho ou aborrecimentos relacionado à dinâmica dos dias
atuais; e também em pessoas ainda muito jovens.
A causa mais
comum para este distúrbio são os AVEs (Acidente Vascular Encefálico) do tipo
isquêmico ou seja, quando há uma obstrução da artéria, impedindo a passagem de
oxigênio para as células cerebrais, que morrem - essa condição é chamada de
isquemia. A diferença do AVC isquêmico para o AVC hemorrágico é o que segundo
decorre do rompimento de um vaso, e não de seu entupimento. Além do que podem
ocorrer outros tipos de lesão como o Traumatismo Cranioencefálico(TCE). Um dos
principais conceitos atuais sobre o TCE é que o dano neurológico não ocorre
apenas no momento do impacto, mas progride ao longo de dias e horas (lesão
secundária).
É de suma
importância ressaltar que a necessidade de prestar socorro à vítima de AVC o
mais rápido possível. Na maioria dos casos, a chegada ao médico deve acontecer
em até três horas após o surgimento do início dos sintomas e em meio isso
diferentes medicamentos deverão ser administrados. Nessa corrida em favor da
vida, é possível dissolver o coágulo que obstruiu o vaso sanguíneo e permitir
assim que o sangue volte a circular normalmente. Essas primeiras atitudes
aumentam a chance de cura e diminuem a intensidade dos danos, em especial nos
casos de derrame isquêmico.
Caso o
atendimento seja tardio, a possibilidade de cura sem sequelas vai depender da
localização e do tamanho da área do cérebro que foi atingida.
As
incapacidades decorrentes do AVC afetam a vida do paciente e de seus familiares
mais próximos. Entre estas incapacidades está a Afasia, um distúrbio de
linguagem decorrente de uma disfunção cerebral que afeta circuitos neuronais
relacionados à produção/expressão e compreensão da fala.
Considerando
o alto comprometimento das funções neuromuscular, motora, sensorial, perceptiva
e cognitivo-comportamental, o fonoaudiólogo irá propiciar a reabilitação das
funções comprometidas parcialmente ou totalmente, dependendo do grau de
comprometimento da área afetada, pois, quando a lesão acontece, no caso, no
hemisfério esquerdo, onde estão localizados os principais centros de linguagem
(podendo ocasionar uma Hemiplegia Direita), ocorrem:
ð afasias;
ð apraxias ideomotoras e ideacionais;
ð alexia para números;
ð descriminação direita / esquerda e
lentidão em organização e desempenho;
ð alterações viso espacial;
ð autonegligência unilateral esquerda;
ð alteração da imagem corporal;
ð apraxia de vestuário;
ð apraxia de construção;
ð ilusões de abreviamento de tempo e
rápida organização;
ð desempenho entre outros.
O
funcionamento da linguagem envolve várias estruturas cerebrais. A presença de uma
lesão em áreas específicas do cérebro irá afetar o funcionamento destes
circuitos, gerando um distúrbio de linguagem em diferentes graus e formas, e o
tratamento fonoaudiológico irá auxiliar o paciente a superar suas dificuldades
de linguagem, através de atividades de reabilitação baseadas no conceito da
neuroplasticidade, que é a capacidade do sistema nervoso se modificar através
de estímulos externos e necessidades adaptativas.
Vale
ressaltar que o fonoaudiólogo na reabilitação de pacientes portadores de AVC
atua de forma multidisciplinar, garantindo uma melhor qualidade de vida do
paciente, uma vez que a respiração, a postura, a deglutição e as emoções possuem
uma relação direta nesta doença, necessitando assim de uma intervenção multidisciplinar.
Profissionais como médicos neurologistas, fisioterapeutas, nutricionistas e
psicólogos atuam intensamente em parceria com fonoaudiólogo, com o objetivo de
adequar o mais breve as funções alteradas, buscando contribuir efetivamente
para uma melhor qualidade de vida, autonomia e inserção social.
Muitas vezes
a evolução do paciente portador de AVC é um processo lento que envolve a ajuda
individual, familiar e social. Muitas pessoas continuam sua evolução por anos e
alguns danos podem ser irreversíveis. Portanto, seguem algumas dicas importantíssimas
que contribuirão para o seu melhor desenvolvimento do paciente que teve
acidente vascular cerebral e ficou com uma afasia. Atenção:
ð Busque informações quanto a todos os
procedimentos indicados tais como remédio, cuidados físicos e de higiene que a
pessoa precisará ter;
ð Busque todos os serviços disponíveis
para ajudá-lo a recuperar-se das possíveis lesões que possa ter, como
acompanhamento profissional de fisioterapeutas, fonoaudiólogos etc.;
ð Procure saber quais os cuidados
alimentares que a pessoa precisará ter;
ð Evite comentar com outras pessoas
sobre as dificuldades de comunicação na sua presença, isso pode desmotivá-lo;
ð Evite chamar a sua atenção para as
dificuldades que apresenta (“Como não se lembra disso?” ou “Não consegue isso
fazer isso?”);
ð Converse com o ele sobre assuntos do
dia a dia, sua rotina diária, o que será feito no dia e em quais horários deseja
comer algo diferente;
ð Fale de notícias de jornais, programas
que esteja assistindo;
ð Recorde fatos vividos, como viagens,
aniversários, datas marcantes falando o nome dos familiares etc.;
ð Fale de forma clara, pausada, ao se
comunicar com ele, ou seja, fale uma pessoa de cada vez; e deixe que fale da
maneira como for possível: não o interrompa, seja paciente, tenha calma e
compreensão esforçando-se para compreender o que ele deseja dizer ajudando-o,
mas sem “falar por ele” o tempo todo;
ð Valorize suas pequenas conquistas (“Que
bom! Já esta lembrando disso!” ou “já está escrevendo isso, ou falando isso, ou lendo
isso…”);
ð Encoraje-o a participar das atividades
de grupo em família, não o fazendo sentir-se isolado;
ð Procure não privá-la dos
acontecimentos sociais devido a suas limitações.
Mas a
principal dica é dar muito carinho e atenção. Embora a pessoa possa apresentar
alguma diferença física ou psicológica devido às sequelas da doença, o
importante é não olhar para ela com sentimento de pena. Lembre-se: ela é uma
pessoa querida e, no momento, precisará de todo o seu apoio e cuidado.
No começo, a
adaptação pode ser difícil, mas ao trabalharmos constantemente pelo bem- estar
da pessoa, tudo isso deixará de ser algo pesado e passa a ser leve. Acima disso
está o profundo carinho que se tem com ela, desta forma ela será eternamente
grata por saber que existem pessoas que realmente a amam e a respeitam, apesar
das suas incapacidades.
Por fim,
lembre-se: cada paciente apresenta seu próprio limite de resposta ao
tratamento, limite esse que deve ser respeitado pelo profissional em parceria
com a família.
“Existem
momentos na vida da gente, em que as palavras perdem o sentido ou parecem
inúteis e, por mais que a gente pense numa forma de empregá-las, elas parecem
não servir. Então a gente não diz, apenas sente.” SIGMUND FREUD
Até a próxima!
Maria Paula C. Raphael
CRFa 7364-RJ
Fonoaudióloga, Sociopsicomotricista
Ramain-Thiers, Docente da AVM Faculdade Integrada, cursos de pós
graduação (UCAM), Eventos em Educação, Supervisora na Formação em
Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers, Palestrante em eventos de educação e
saúde.
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