Depois de uma pausa
maior em meus relatos nessa coluna por conta de muito trabalho, retorno para a
continuação da minha história. E quero contar como foi meu recomeço em
Santos, tanto em termos de escola, quanto em termos de trabalho.
Em fins de fevereiro
de 2014, eu e meus filhos saímos do Rio de Janeiro para São Paulo. Apesar do
ano letivo já ter começado e as crianças estarem estudando eu precisava dar o
ponta pé inicial para a nossa mudança definitiva e lá fomos nós para a casa da
minha mãe.
A ideia era ir para
Santos, atrás do professor de SURF adaptado, Cisco Aranã (eu o conheci através de
uma matéria do Fantástico, como já mencionei em outra coluna) e procurar
conhecer o que havia de novo / significativo em termos de tratamento para
pessoas com autismo. Além disso, também gostaria de saber qual o processo de
inclusão do município.
Inicialmente o meu
primeiro passo foi buscar vaga na escola municipal mais próxima de casa para
meus filhos e, em seguida, encontrar uma unidade básica de saúde (policlínica)
para acompanhamento dos mesmos. De pronto, eu me deparei com uma dificuldade já
esperada: ausência de vaga para Helena na pré-escola e para Tom na creche.
Seria a primeira de muitas...
Além de tudo eu
precisava trabalhar urgente. Apenas a pensão não supriria as necessidades das crianças
em sua totalidade, a saber: uso de fraldas para dormir, medicação diária, dieta
sem lactose dentre outras. Tudo custava muito caro e a maioria seria de uso
contínuo. Fora isso, trabalhar também me ajudaria a resgatar algumas coisas de que
abri mão para cuidar das crianças, por exemplo, autonomia e independência.
Ambas, ainda que mínimas, seriam importantes para o resgate da minha
autoestima, nesse momento quase anuladas.
Nada ‘foram flores’
ao chegar a Santos, nada mesmo! Não encontrei o professor Cisco e nem a vaga
escolar, mas encontrei uma cidade totalmente diferente de 12 anos antes, última
vez em que estive no local, fazendo um dos últimos trabalhos da minha faculdade
de Arquitetura. Neste momento, eu encontrei um município limpo, reestruturado
em sua urbanização, uma orla linda em toda sua extensão. E nesse momento, ainda
que existissem muitas ‘senões, eu tive a certeza de que, entre morar na
capital, ou morar em Santos, a segunda opção fora a melhor para nós. Para as
crianças, pelo menos, havia opções de lazer, muita natureza, melhor locomoção
etc. Tudo isso, com certeza, iria se refletir em qualidade de vida. Uma
qualidade que não teríamos na capital.
Em abril, eu
consegui, definitivamente, mudar para Santos. Coincidentemente era dia 02 de
abril, dia da Conscientização Mundial pelo Autismo, e estava acontecendo uma
solenidade em que o prefeito da época se pronunciaria quanto ao assunto. E lá
fui eu! Após a solenidade, eu me dirigi à Vara da Infância e Juventude no fórum
da cidade para buscar ajuda quanto à escola e aos esclarecimentos no processo
de inclusão. Eu desconhecia, naquele momento, que havia, no município, um setor
específico para orientações e acompanhamento escolar para pessoas com
deficiência.
No fórum, eu fui
muito bem recebida e atendida prontamente. Lá relatei todos os fatos relacionados
aos meus filhos e em quais condições nós nos encontrávamos. Eles me pediram que
tudo fosse registrado através de carta para que a promotoria encaminhasse ao
órgão competente, a Secretaria de Educação e aguardasse uma resposta.
Eu não podia, nesse
início de reorganização familiar e de vida, ter um emprego fixo ou que me
exigisse muitas horas de trabalho longe de casa e/ou de meus filhos. Logo, primeiramente
era preciso reorganizar a vidinha das crianças. Meu tempo era absorvido pelas
idas e vindas constantes à procura dos setores públicos responsáveis pela
inclusão efetiva dos meus filhos, por exemplo, em programas do estado /
município. E, com certeza, vocês sabem, o quanto tudo é isso pode ser burocrático
e lento; e o quão grande é a nossa demanda diária.
Minha família me dava
suporte emocional e financeiro, na medida do possível. Minha mãe vinha da
capital sempre que eu precisava. Mas, mesmo com o suporte da pensão, da minha
família, financeiramente ainda não era suficiente para vivermos. Então fui
fazer limpeza e organização em apartamentos, por um período pequeno. Eu fui ‘me
virando’. Eu precisava de flexibilidade de trabalhos, mesmo com toda minha
formação acadêmica e atuação profissional, dentro da construção civil. Nesse
processo, intimamente, eu fui percebendo que não era mais esse o meu caminho.
No Rio de Janeiro, desde
que Helena iniciou o tratamento, meu universo mudou, inclusive profissional.
Como já disse em outras colunas, eu passei a estudar e descobri que gostava
mais do pensamento, do desenvolvimento, do comportamento das crianças. Observar
e analisar tudo isso me encantava. Eu queria a formação clínica e, então,
fiquei em dúvidas se o caminho era a psicologia ou a pedagogia. Por fim, optei
pela pedagogia.
Voltando a Santos...
Enquanto a resposta
da Vara da Infância não chegava, a escola, a qual eu me dirigira no inicio da
busca por vaga para Helena, me apresentou a professora de Educação Especial que
atendia aos alunos na Sala de Recursos Multifuncional na mesma unidade. Uma
coisa me chamou atenção: ela atendia 08 crianças com laudo de TEA, ou seja,
todos os alunos que estavam incluídos naquela escola tinham a mesma deficiência
de meus filhos! Logicamente, tivemos muita afinidade.
Diante de tanta
experiência, eu contei a ela sobre o trabalho que eu fazia junto às escolas e famílias
carentes no Rio de Janeiro. E um tema nos aproximou mais ainda a PSICOMOTRICIDADE.
Nós passamos a trocar informações sobre o assunto e, um dia, após me apresentar
a diretora da escola, Simone Barbieri, ela me convidou para uma palestra informativa
sobre o assunto na escola. Neste momento, nós demos inicio a uma parceira que
nos rendeu muito aprendizado, admiração e respeito.
Enquanto isso se
passou 25 dias até a chamada da Secretaria de Educação: a vaga para creche de
Tom havia sido concedida; porém. a vaga para Helena, na escola a qual eu queria,
e mais próxima de casa, realmente, não tinha
vaga. Helena foi estudar em uma escola mais afastada. Mais tarde, eu
recebi, por correio, uma resposta sobre o processo de inclusão da cidade e como
funcionava tudo. Tudo parecia caminhar.
Eu matriculei as
crianças, adorei as escolas e seus gestores, ainda assim um item faltava: “a
mediadora escolar”. Havia uma demanda enorme e uma significativa falta de
professores dispostos a mediar. Em contrapartida, a professora de sala de
Helena, Profª. Cris, apropriou-se totalmente da inclusão de seus 03 alunos em
classe com deficiência com muita autonomia e competência. As coisas estavam
enfim se encaminhando e se reorganizando na vida dos meus filhos.
Quero contar
detalhadamente sobre essa inclusão na próxima coluna, juntamente com a questão
mais difícil e ainda não solucionada após 15 meses já na cidade, SAÚDE x
TRATAMENTO INTERDISCIPLINAR.
Aguardem!
Beijos e até a próxima!
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