A missão é nobre, e o trabalho sempre foi reconhecido como de
excelência. Mas a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Rio de
Janeiro (Apae-Rio), a primeira do Brasil, sediada na Tijuca, precisa de
tanta ajuda quanto aqueles para a qual foi criada. Sem convênio público
ou privado, a instituição, sob intervenção da Apae nacional, só conta
com doações, uma receita mensal que corresponde a apenas 15% dos R$ 150
mil necessários.
Faltam
recursos para manter a sede, na Rua Bom Pastor 41, e para o
atendimento, que foi reduzido. A unidade de assistência a 300 usuários,
em Benfica, periga fechar por falta de funcionários. E não há
especialistas para montar a equipe básica.
Atividades rentáveis acabaram
Os
recursos financeiros da Apae-RJ vêm minguando há pelo menos dez anos,
devido à suspensão de atividades geradoras de receitas e a más
administrações. Há seis meses, a situação ficou insustentável, sendo
necessária a intervenção administrativa das federações nacional e
estadual das Apaes.
A associação do município, que já deu
assistência a 1.200 pessoas, hoje só atende 350. E esse número pode ser
reduzido, pois 300 delas frequentam o Centro Integrado de Educação e
Trabalho (Cinet), uma unidade para jovens e adultos que não retomou as
atividades pós-férias, com volta prevista para 14 de fevereiro. Até a
semana passada, não havia definição a respeito. A manutenção do espaço e
a continuação do atendimento serão discutidas numa reunião marcada para
hoje.
Avó de um rapaz que frequenta o Cinet, Marília Marinho da Silva está preocupada com o possível fechamento da unidade de Benfica.
—
Eu nem posso imaginar isso, e tenho fé em Deus que não será fechado.
Meu neto tem 21 anos, mas se comporta como uma criança de 2, e está
muito ansioso para voltar. Ele se arruma todos os dias para ir à aula. É
muito importante para ele — diz.
A falta de profissionais é uma das dificuldades para manter o trabalho:
—
Temos três fisioterapeutas, um assistente social e um neurologista. Mas
a equipe básica deve ter também fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta
ocupacional e psiquiatra — diz o contador e administrador Alexandre
Miranda Ferreira, nomeado interventor pela Federação Nacional das Apaes,
que procura reerguer a instituição. — Estamos totalmente no vermelho.
Temos feito contato com órgãos públicos e com empresários, mas há muitos
problemas. São mais de cem ações trabalhistas na Justiça e não temos
dinheiro para negociar. Ainda temos funcionários com salários atrasados.
A
escassez de dinheiro é aparente no edifício-sede, na Rua Bom Pastor.
Dos sete andares, apenas os quatro primeiros são usados, pois os
elevadores estão parados. No sétimo, uma quadra de esporte se deteriora
sem uso.
Instituição nacional começou na Tijuca
Associação
privada sem fins lucrativos, a Apae começou na Tijuca, em 1954. Hoje,
são cerca de 2.200 no país. Tijucanos que conhecem a história da
instituição se entristecem, mas também contribuem de alguma forma.
O
casal Claudio e Cintia Maria Del Giudice transferiram a creche gratuita
que mantinham na Rua Goiânia, em Vila Isabel, para o prédio da Apae na
Rua Bom Pastor. Pagam aluguel e ajudam na inclusão de crianças atendidas
pela instituição.
— Trabalhei na Apae por 20 anos e fui até para o
exterior mostrar trabalhos que desenvolvíamos aqui. Por isso, quis
trazer a creche para cá e, de alguma forma, contribuir como parceira —
diz a fonoaudióloga Cintia.
A intervenção, segundo Alexandre
Ferreira, está de acordo com o que estabelece o estatuto das Apaes
quando são detectados problemas mais graves de gestão. O fechamento do
laboratório que realizava o teste do pezinho para o SUS, em 2011,
agravou a situação financeira.
— Foi a pedra derradeira, pois a Apae-Rio perdeu receita e os gastos continuaram — afirma Alexandre.
Fonte: O Globo/Tijuca
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