Orgulhosa, a mãe de Claudio sempre garantiu educação e saúde ao filho
(Foto: Luiza Carneiro/ G1)
Superação é rotina na vida de Claudio Luciano Dusik, 36 anos. Nascido em Esteio, na Região Metropolitana de Porto Alegrex,
foi diagnosticado ainda quando criança com uma doença degenerativa.
Passo a passo, venceu obstáculos até concluir com nota máxima, nesta
terça-feira (26), o mestrado em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sulx.
Em sua dissertação, mostrou como estudou e desenvolveu ao longo da
graduação um teclado virtual, o Mousekey, que auxilia pessoas com
limitação a escrever e se comunicar.
Claudio tem atrofia muscular espinhal (AME), doença que deforma o corpo
e limita os movimentos. As impossibilidades causadas pelo transtorno,
no entanto, nunca foram barreira para ele desistir. Desde cedo, a mãe
Elisa Arnoldo acreditou na capacidade do filho de vencer os obstáculos
e, praticamente, implorou para que escolas o aceitassem. “Com apenas
cinco anos entrei em uma classe de primeira série e consegui me
alfabetizar”, contou Claudio durante a banca, sentado em uma cadeira de
rodas adaptada.
Teclado usa movimentos do mouse para formar sílabas
e palavras (Foto: Thiago Cruz/UFRGS)
Sem acessibilidade, ele passava os intervalos sozinho na sala de aula,
pois estudava no primeiro andar e não conseguia descer as escadas para
se juntar aos colegas. Ele lembra que só começou a ser aceito e a
socializar com os estudantes na 3ª série. “Um professor criou um projeto
chamado ‘ajudante do dia’. Foi ali que comecei a ter contato com as
outras crianças. Eles me levavam para o pátio e adaptavam as
brincadeiras para mim”, lembra, com naturalidade. Na amarelinha, Claudio
ajudava a atirar as pedras. Já na corda, os amigos empurravam a cadeira
de rodas, assim como no pega-pega. “O pega-pega era a minha brincadeira
preferida. Eles me empurravam e muitas vezes caía. Não sabia se chorava
pelos machucados ou de felicidade”, disse, arrancando risos de mais de
50 pessoas, entre conhecidos e desconhecidos, que assistiam a sua
defesa.
Desenganado desde bebê, a previsão era de 14 anos de vida. As
impossibilidades aos poucos foram se transformando em possibilidades
para Claudio. Com o avanço da doença durante a graduação de psicologia e
a perda do movimento das mãos, sentiu a necessidade de desenvolver algo
onde pudesse continuar a escrever textos. Foi dali que surgiu a ideia
do Mousekey. “Nos intervalos das aulas, ia para a biblioteca estudar
informática”, relembrou. Com apoio da família, desenvolveu o teclado,
que funciona principalmente pelo movimento do mouse e cliques, detalha o
alfabeto, sílabas, pronomes e sílabas acentuadas.
Já no mestrado de educação, teve a oportunidade de estudar outros
recursos e conhecer pessoas que, assim como ele, também enfrentavam
dificuldades no aprendizado. Em um grupo de pesquisa com cinco
deficientes físicos garantiu o entendimento dos recursos necessários
para a melhoria do aplicativo. “A escrita vai além do contexto escolar.
Ela entra no contexto social da pessoa. Estes sujeitos querem também
participar da vida em comunidade e terem produtividade”, explicou. “Foi
emocionante conhecer estas pessoas. E não somente vi que estava
ajudando, mas também percebi que, por muito pouco, não estava ali
trancado também. Tenho um orgulho enorme”, emocionou-se.
Dusik tem doença generativa (Foto: Thiago Cruz/UFRGS)
Atualmente, atua como funcionário da Secretaria de Educação e, agora
mestre da área, quer continuar na carreira de professor. Na UFRGSx,
auxilia alunos no curso de Educação à Distância e divide a rotina entre
o trabalho e os estudos. Nos próximos meses irá apresentar a
dissertação em um congresso de acessibilidade no México, ao lado da
orientadora, a doutora em educação Lucila Maria Costi.
A mãe Elisa é só elogios. “Tenho seis filhos. Uma delas morreu no ano
passado e a outra tem a mesma doença que o Claudio. Estou muito
orgulhosa e sempre busquei todos os recursos para eles, seja na saúde ou
na educação”, disse ao G1.
Em Esteiox,
um grupo de amigos se reuniu para assistir ao vivo, em um telão, a
banca de Claudio. Para o futuro, planeja patentear o produto e
especializar-se ainda mais em um doutorado. “Quero escrever
p-o-s-s-í-v-e-l nas histórias de prováveis impossíveis”, finalizou a
apresentação garantindo aplausos, em pé, dos admiradores.
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