“Quando a intervenção é realizada em crianças menores de 3 anos, a
melhora é de 80%. Aos 5 anos cai para 70% e acima disso fica muito
prejudicada” – Fábio Barbirato, coordenador do Serviço de Atendimento e
Psiquiatria Infantil da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.
Doença atinge 70 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, são cerca de 2 milhões
Deiseone Matilde Verônica tem 34 anos e
há sete ganhou sua primeira e única filha, Thaiane Fernanda Verônica.
Quando a garotinha completou seis meses de vida, a mãe começou a
desconfiar que havia algo errado em seu desenvolvimento. O primeiro
temor era de que o bebê fosse surdo, já que Thaiane era muito parada e
quase não se mexia. O exame de audição não apontou problemas, mas por
outro lado os pais descobriram que a moleira da criança já estava
fechada e a pediatra pediu que a mãe esperasse para monitorar a evolução
da filha. Deiseone esperou até que ela completasse nove meses e voltou a
procurar especialistas. Quase com 2 anos, Thaiane deu os primeiros
passos. Mas só aos 3 foi encaminhada ao Sistema Único de Saúde (SUS),
onde um psiquiatra deu o diagnóstico: a menina sofria do transtorno do
espectro autista.
“O diagnóstico precoce foi muito bom para minha relação com Thaiane,
pois o contato físico e visual dela melhorou e acho que isso também
ajudou na socialização”, diz Deiseone. Ela conta que tem uma boa
comunicação com a filha. Ela me pede água, pede copo e anda normalmente.
Tento proporcionar um bom ambiente para minha filha. Vou com ela à
terapia comportamental-cognitiva, fonoterapia e terapia ocupacional.
Levo Thaiane na escola e, como é longe, fico lá esperando”, conta a dona
de casa, que vive em função da filha.
Tema constantemente debatido por
especialistas, o diagnóstico precoce do autismo – que, segundo
estimativas da Organização Mundial de Saúde, atinge 70 milhões de
pessoas no mundo e no Brasil cerca de 2 milhões –, ainda não é consenso
entre os profissionais da área médica. Vem ganhando força porém a tese
de que iniciar uma intervenção o quanto antes, quando a criança
apresenta os primeiros possíveis sintomas, ajuda os pais a ganhar um
tempo precioso para estimular o cérebro de seus filhos portadores do
problema. De acordo com Fábio Barbirato, psiquiatra da infância e da
adolescência e coordenador do Serviço de Atendimento e Psiquiatria
Infantil da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, hoje é
possível detectar o autismo numa criança entre 12 meses e 18 meses de
vida. Para isso, porém, é preciso profissionais treinados.
“Há 20 anos, quando comecei a conhecer a
psiquiatria da infância, não se falava em diagnósticos antes dos 5 anos
de vida”, lembra o psiquiatra. Segundo ele, há 10 anos, apenas uma
criança de até cinco anos era atendida por mês em seu consultório e no
serviço de saúde. Hoje são em média 20 crianças por semana no
consultório e outras 20 no serviço de saúde. Para Barbirato, isso ocorre
porque os pais estão perdendo o medo de encarar o problema e levando
seus filhos mais cedo ao consultório psiquiátrico.
Deiseone Matilde está sempre com Thaiane. Diagnóstico aos 3 anos, segundo a mãe, foi fundamental
para o desenvolvimento da filha.
O autismo, de fato, é uma doença de
diagnóstico difícil, que apresenta sinais raramente conclusivos. Quanto
antes os pais levarem seus filhos para avaliação médica, melhor. Uma
abordagem desse tipo adotada por pesquisadores do Davis Health System,
ligado à Universidade da Califórnia (EUA), vem, aparentemente,
eliminando sintomas e atrasos no desenvolvimento de crianças autistas
que receberam estímulos específicos a partir dos seis meses.
Publicado no Journal of Autism and
Developmental Disorders, o estudo aplicou a terapia chamada infant start
(início da infância) em sete crianças diagnosticadas com o transtorno.
De acordo com os pesquisadores, o programa busca alterar seis
comportamentos que podem ser observados nos primeiros meses de vida:
fixação visual em objetos, repetição anormal de movimentos, ausência de
atos intencionais de comunicação, desinteresse na interação social,
desenvolvimento da fala abaixo do esperado e baixa resposta a interações
afetivas pelo olhar e pela voz.
Para implementar a estratégia, os
médicos contaram com a participação de importantes aliados, os próprios
pais dos pequenos pacientes, que se transformaram em verdadeiros
terapeutas dos bebês que tinham entre seis e 10 meses quando começaram a
ser tratados. “A mãe e o pai estão ao lado das crianças todos os dias e
é nos pequenos momentos, como a troca de fraldas, a hora de comer, os
passeios e as brincadeiras, que eles influenciam no aprendizado dos
bebês”, explica Sally Rogres, uma das autoras do artigo.
Arthur Kummer, psiquiatra de crianças e
adolescentes e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
explica que “o conceito de autismo vem sendo lapidado. A definição
atual ressalta que a principal alteração provocada pelo autismo é na
habilidade comunicativa. Essa observação vem permitindo a definição de
diagnósticos com mais frequência e de casos mais leves.”
Alteração da habilidade comunicativa é um dos principais sintomas que
ajudam a definir os casos, segundo o psiquiatra Arthur Kummer.
Comportamento
Pesquisa do governo americano mostra que o número de casos de autismo em 2010 (últimos dados disponíveis) aumentou quase 30% em relação aos dados anteriores (de 2008), quando se apontava que havia um caso para cada 88 crianças e quase 60% em comparação com 2006, quando foi registrado um caso para 110 crianças normais. A maioria das crianças foi diagnosticada após os 4 anos. Em 2010, essa relação subiu para uma em cada 68 crianças com 8 anos de idade. Os números são do CDC (Center of Diseases Control and Prevention), órgão máximo do governo americano para a saúde. Segundo Barbirato, o espectro autista tem basicamente duas características: na socialização e na comunicação (a criança não fala, nem aponta o que quer, ou fala mas não tem reciprocidade social; algumas podem melhorar a linguagem, mas não conseguem manter um diálogo) e as alterações de comportamento. Entre elas, pode haver uma inflexibilidade com mudanças na rotina, movimentos estereotipados (repetitivos com as mãos ou mexer o corpo de forma anormal), e um interesse não usual na intensidade ou no foco (por exemplo, ficar aficcionado por palitos de picolé). “Quando a intervenção é realizada em crianças menores de 3 anos, a melhora é de 80%. Aos 5 anos, cai para 70%, e acima disso fica muito prejudicada”, observa.
Pesquisa do governo americano mostra que o número de casos de autismo em 2010 (últimos dados disponíveis) aumentou quase 30% em relação aos dados anteriores (de 2008), quando se apontava que havia um caso para cada 88 crianças e quase 60% em comparação com 2006, quando foi registrado um caso para 110 crianças normais. A maioria das crianças foi diagnosticada após os 4 anos. Em 2010, essa relação subiu para uma em cada 68 crianças com 8 anos de idade. Os números são do CDC (Center of Diseases Control and Prevention), órgão máximo do governo americano para a saúde. Segundo Barbirato, o espectro autista tem basicamente duas características: na socialização e na comunicação (a criança não fala, nem aponta o que quer, ou fala mas não tem reciprocidade social; algumas podem melhorar a linguagem, mas não conseguem manter um diálogo) e as alterações de comportamento. Entre elas, pode haver uma inflexibilidade com mudanças na rotina, movimentos estereotipados (repetitivos com as mãos ou mexer o corpo de forma anormal), e um interesse não usual na intensidade ou no foco (por exemplo, ficar aficcionado por palitos de picolé). “Quando a intervenção é realizada em crianças menores de 3 anos, a melhora é de 80%. Aos 5 anos, cai para 70%, e acima disso fica muito prejudicada”, observa.
Risperidona
Na última sexta-feira, o Ministério da Saúde anunciou que vai disponibilizar, pela primeira vez no Sistema Único de Saúde (SUS), o medicamento risperidona. A substância age na irritabilidade e agressividade, sintomas comuns no autismo. O ministério estima que a medida será capaz de beneficiar 19 mil pacientes ao ano. Saiba mais.
Na última sexta-feira, o Ministério da Saúde anunciou que vai disponibilizar, pela primeira vez no Sistema Único de Saúde (SUS), o medicamento risperidona. A substância age na irritabilidade e agressividade, sintomas comuns no autismo. O ministério estima que a medida será capaz de beneficiar 19 mil pacientes ao ano. Saiba mais.
Mitos e verdades
» Mito – O problema é causado pela relação mãe e filho.
» Verdade – Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento de forte base genética.
» Verdade – Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento de forte base genética.
» Mito – A criança não aceita afeto ou beijos.
» Verdade – Sim, pode aceitar.
» Verdade – Sim, pode aceitar.
» Mito – Ou a criança é superinteligente ou tem grave défict intelectual.
» Verdade – Pode haver uma supercapacidade de memória, mas o autista se concentra num interesse só.
» Verdade – Pode haver uma supercapacidade de memória, mas o autista se concentra num interesse só.
» Mito – Dietas podem controlar o autismo.
» Verdade – Não existe comprovação científica sobre isso
» Verdade – Não existe comprovação científica sobre isso
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