O tempo está
diferente. Nossa dimensão de realidade está acelerada. A sensação de rápida
fluidez dos dias é crescente: essa é a experiência consensual em que vivemos
nós, a sociedade contemporânea. Com isso, nossa maturidade biopsicológica, ou
surge antes do tempo e há inconsequências assustadoras (na faixa etária), ou se
estabelece como superficial, apesar do tempo, e há tensões incompreensíveis (para
faixa etária também). Crianças, jovens, adultos e idosos são moléculas soltas
no vento das mudanças destemperadas dos dias / do cotidiano atual. E precisamos
nos atender, nos pensar, urgentemente.
Na loucura desse
tempo, os conceitos de aprendizagem, de colaboração e de maturidade, por
exemplo, parecem não ter convergência natural no tempo e isto torna o próprio
tempo um grande e elástico tempo de experiência sem tempo de aprofundamento. Nós
continuamos crescendo, mas criar duradouras ‘colas’ sociais e profissionais
tornou-se bem difícil. Como disse Caetano Veloso, ‘tempo, tempo, tempo’, eis o
nosso maior infortúnio e ponto de insegurança: e não há tempo para nada e nem
para ninguém.
Em torno deste fio
desequilibrante recorre-se a religações divinas ou energéticas: para o tal ‘pé
no chão’ incluímos, outra vez, um percurso e uma aceitação religiosa. Nós nos
voltamos para um ‘religare’ em que reprogramamos cautelosamente cérebro, mente
e corpo. Há uma recordação intensa das mitologias e dos rituais mais antigos:
se não há tempo, há estranhamentos e, logo, o desejo de explicações e harmonias
de outros tempos. A vida, no mundo, é uma sequencia de ocupações mentais
tornando o cérebro, um profissional dos recondicionamentos mnemônicos e afetivos.
Ainda amamos viver!
Não há aqui descartes
ou desacatos às necessidades e emoções de cada um; há um levantamento real de
que cada vez mais pessoas se investem em técnicas / tecnologias alternativas
para o reencontro com elas mesmas envolvendo-se com a perspectiva da presença /
existência de outras dimensões de realidade ou de processos de reorganização da
chamada ‘paz interior’. O inconsciente coletivo entra em efusão de saberes ao
toque ritmado das amígdalas, ínsulas e glândula pituitária: surge uma sensação
de equilíbrio, paciência e grandes energias positivas.
Segundo a revista Scientific American Brasil (Dez, 2014),
intitulada ‘A Neurociência da Meditação’, “a
difusão do radio, depois da televisão, mesmo a influência do cinema e,
recentemente, da internet, que forjou um novo padrão de comunicação em escala
global, preencheram com conteúdos um tempo que, antes disso, era dominado pelos
ciclos da Natureza: o nascer e o pôr do sol, além das estações do ano”. Ou
seja, nós, eternos ‘aprendizes de feiticeiros’, nos ocupamos com mais atividades
/ trabalhos e perdemos o ‘junto’, o ‘olhar’, o ‘escutar’, principalmente, de
nossos corpos e necessidades com o outro e conosco. Parece que estamos em areia
movediça da razão, mas com relógios biológicos plenamente ativos e
eletromagnéticos: a questão da gravidade está em torno de tudo e nos força a
dificultar quaisquer movimentos a divagação interior. Nós trabalhamos tempo
demais!
Mesmo assim, de
forma crescente, as pessoas vêm procurando espaços / momentos de contemplação
de si mesmas, suas idiossincrasias e seus objetivos de vida; e uma das técnicas
mais requisitadas / revisitadas tem sido a MEDITAÇÃO.
Estamos, de novo, favorecendo o cérebro humano a realizar sua neuroplasticidade
com outras origens, agora em colaboração com a neuroquímica da necessidade e do
desejo de ser feliz ou de se envolver com a paz interior, através de uma
prática emocional alternativa. Ênfase no jorro de neurotransmissores como a
serotonina (humor), a dopamina (prazer), a noradrenalina (concentração) e a acetilcolina
(aprendizado). Em jogo, hoje, portanto, uma certeza: o aceleramento do tempo
trouxe não só a certeza da obsolescência, mas também a possibilidade de
resiliência, em meio a comportamentos contrários ao esperado: silenciar,
respirar, pensar e se equilibrar corporal e emocionalmente. Através da
meditação, há uma contemplação de si dentro de si e para si, criando estados
positivos internos, com um gosto positivo de satisfação.
A opção pela
meditação é uma estratégia de se conquistar, por ferramentas inatas, bem estar
e tranquilidade. E tudo isso, com o propósito de se manter uma convivência no
‘novo’ mundo, com o ‘novo’ tempo e com poucas tensões. De acordo com RICARD
(2014, p.32)[i]
e RICCIARDI (2015)[ii],
existem três formas comuns de meditação:
- a atenção focada (ou concentração) que
visa acalmar e centrar a mente no momento presente, desenvolvendo, ao mesmo
tempo, a capacidade de permanecer vigilante para distrações; é a concentração à
inspiração e expiração para sensações positivas; e tem foco nas áreas cerebrais
responsáveis pela atenção, como córtex pré-frontal, córtex parietal superior, giro
fusiforme e substância reticular ativadora ascendente (SARA), em ambos os
hemisférios;
- a atenção plena (ou meditação de
monitoramento aberto) que procura cultivar a consciência emotiva menos reativa a
emoções, pensamentos e sensações que ocorrem no presente para impedir que eles
espiralem e fujam ao controle, criando sofrimento mental; há desligamento dos
estímulos visuais, sonoros ou outras sensações, sem se deixar levar por eles; é
uma forma benéfica à ansiedade, à autorresponsabilização, à auto-observação
antes de pensar e agir, e aos sintomas da depressão, uma vez que diminui a
atividade cerebral nas regiões do córtex insular e amígdala; há menos suscetibilidade
aos efeitos negativos da dor e, por consequência melhora do sono e do humor;
- a compaixão (e bondade amorosa) que
promove uma perspectiva altruísta em relação aos outros; amor incondicional,
aos próximos ou não, amigos ou inimigos; é preciso o desejo sincero de ajudar,
não só a si próprio, mas a todas as pessoas que encontrar; relação forte com a
empatia, e não é fácil mantê-la, mas é necessário; aqui estão ativados os
córtex somatossensorial e o insular pelo sofrimento alheio, sem tirar o
equilíbrio emocional; é a real condição de se fornecer incentivos positivos a
si e a outrem.
Estas três formas,
hoje, são amplamente praticadas em vários setores da sociedade e ao redor do
mundo. E estas vêm provocando mudanças fisiológicas no sistema cerebral cujos
resultados são reações mais rápidas aos estímulos em geral e menos propensão a
várias formas de estresse. Há um convite sendo refeito para se reencontrar
ferramentas que possam proporcionar ao ser vivo humano benefícios cognitivos e
emocionais que o façam permanecer vivendo e convivendo, mesmo com a velocidade
do tempo.
Sendo assim, há
uma necessidade de se treinar a mente, a partir do reconhecimento das próprias
potencialidades, mesmo que, para isso, seja preciso atravessar o ‘vale da
sombra da morte’ das memórias mais inconscientes e tóxicas. Paz, tranquilidade
e equilíbrio se alcançam quando transformamos nosso cérebro através da
experiência de (se) CONHECER e de SER um ser vivo humano ‘na real’ e no tempo
certo: aqui está a realeza de nossa humanidade.
Há uma regulação dos estados mentais para
se alcançar uma forma de enriquecimento interior, uma experiência que afete o funcionamento
e a estrutura física do cérebro (p.30). E cérebro, mente e corpo tem
efeitos convergentes, efeitos que colaboram entre si e que tornam a luta pela
sobrevivência emocional mais saudável e focada: é a serenidade no caos.
Nós precisamos
parar! Nós precisamos nos introjetar! Nós precisamos nos manter atentos ainda
que por dentro de uma proposta divagante ou distraída das preocupações,
responsabilidades e tensões mundanas. Boa parte do processo de meditar inclui
uma varredura nas memórias de longa duração, já que estas refletem nossas
certezas, visões de mundo e formas de agir. É sair do âmbito do córtex
pré-frontal e realinhar as infovias neuronais aos nossos sistemas mais
interiores e emocionantes, criando aspectos positivos dentro e fora do corpo e
da alma humana.
Amígdala,
hipocampo, lobo parietal e temporal, ínsula anterior e córtex cingulado detém o
poder de envolver conjuntos de neurônios a outras atividades mais subjetivas,
como divagação mental, atualização de modelos internos, regulação de sensações
percebidas e libertação da atenção de quaisquer estímulos distrativos. Logo, mesmo
se iniciante, todos sabem que o ponto nevrálgico de quaisquer tipos ou aspectos
da meditação é a RESPIRAÇÃO. Vamos
respirar e nos renovar! Vamos expandir o fluxo da consciência e ganhar
flexibilidade atitudinal real! Vamos ser pessoas melhores, melhorando nossa
experiência conosco, por princípio.
Uma amiga cantora sempre
lembra que a palavra ‘compaixão’ é fundamental para o século XXI e, de acordo
com Ricard (2014), ao respirar, é preciso ter consciência também das
necessidades de outras pessoas e experimentar “um desejo sincero e compassivo de ajudá-la ou aliviar o sofrimento
dos outros ao protegê-los de seus próprios comportamentos destrutivos”. Entende-se
que o cérebro em compaixão diminui o risco de esgotamento emocional e de ações
impulsivas. Os córtices somatossensorial secundário e insular (responsáveis
pelas reações empáticas dentre outras respostas emocionais) são ativados: é uma
ansiedade mais organizada e coerente, além de se instituir tempo para reflexões
pertinentes.
O cérebro é ‘fiel
escudeiro’, afirma a Profª. Marta Relvas, mas não tem receita e nem bula. Ele é
nosso maior aprendente e, de acordo com nossas necessidades e práticas, pode
construir redes provisórias que “integrem
as funções cognitivas e afetivas durante o aprendizado e a percepção
consciente, processo que pode resultar em mudanças duradouras em circuitos
cerebrais” (p.35).
Seja bem vinda
meditação, precisamos de alicerces como você!
Profa.
Claudia Nunes
[i]
RICARD, Matthieu; LUTZ, Antoine e DAVIDSON, Richard J. A mente (burilada) do meditador (p.28-35). Revista Scientific
American BRASIL, Editora Duetto, ano 13, nº 151, dez, 2014.
[ii]
RICCIARDI, Marcelo. Mente Brilhante
(p. 06-07). Revista O Poder da Meditação, Editora Alto Astral, ano 1 nº 01,
2015.
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