sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Minoria surda que estuda sai de sala especial para regular

Isolados, os dados do Censo Escolar 2010 sobre os estudantes surdos são animadores: três quartos dos matriculados estavam incluídos em classes regulares, um aumento de 30% em relação a 2008. Quando comparados aos dados da população brasileira com deficiência auditiva como um todo, no entanto, os mesmo números mostram que os surdos estão longe de estar incluídos no sistema escolar.

A maior parte do crescimento de matrículas em escolas comuns representa uma diminuição dos estudantes em instituições especiais. Somados os dois tipos de ensino, o total de alunos surdos cresceu apenas 6% nos últimos dois anos e chegou a 70 mil (veja gráfico). 

Onde estudam os surdos


Fonte: MEC

A última contagem do IBGE conhecida sobre o assunto, do Censo 2000, mostrava que 5,7 milhões de brasileiros eram deficientes auditivos, 357 mil apenas na faixa etária de 5 a 14 anos - em que todos deveriam ser estudantes. Se o número for parecido em 2010, apenas um quinto destas crianças e adolescentes vão à escola ou são percebidos como – e recebem tratamento especial para – deficientes auditivos.

Para a professora e assessora da diretoria do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), Rita Nacajima, as escolas precisam ser mais atraentes para essa população. A instituição de mais de 150 anos de história chegou a ser contrária à inclusão por achar que os deficientes auditivos não aprenderiam em classes com alunos ouvintes, mas acabou apoiando a política na esperança de expandir o total de pessoas atendidas. “A gente entende o movimento de inclusão como necessário porque o Ines e todas as outras instituições especializadas não têm como dar conta de todos os surdos. Agora, é preciso trabalhar mais a recepção deste aluno na escola”, diz.


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Um dos dicionários de libras acessíveis pela internet acessobrasil.org.br

A barreira que separa a maioria dos surdos da vida escolar é a língua. Sem ouvir, a maioria não fala e a escrita não ganha significado. Em 2002, o Brasil oficializou a Língua Brasileira de Sinais (libras) para que estas pessoas falassem com as mãos. A língua é completa e permite a quem tem interlocutor o pleno desenvolvimento de todas as demais habilidades. Faltava quem traduzisse a linguagem oral da sala de aula para a visoespacial, que pode ser compreendida por eles.

Um decreto de 2005 estabeleceu que os "tradutores" viriam de duas formas. Pela aprovação em prova de proficiência anual em libras - aplicada a pessoas que já utilizavam a língua de sinais em outras atividades - e pela formação de educadores especializados. Segundo o Ministério da Educação, desde então já há 4.683 intérpretes de Libras atuando na educação básica, que abrange o ensino fundamental e médio.

“O problema é que não basta traduzir”, diz Rita. Como a maior parte das crianças surdas tem pais ouvintes, a Libras só é ensinada quando começam a frequentar escolas próprias. “Para aprender, as pessoas levam o mesmo tempo que para se comunicar em qualquer língua e, até então, não adianta traduzir de uma língua que eles não entendem para outra que ainda não sabem também”, explica.

As entidades reconhecem que houve algum avanço. Dados da Federação Nacional das Associações para Valorização de Pessoas com Deficiência (Fenavape) mostram que o número de surdos no ensino superior passou de mínimos 444 em 2007 para 1.895 em 2009. Muitos cursam carreiras de docência e devem se tornar professores tanto de surdos quanto de ouvintes. “O mesmo esforço que hoje um aluno que não houve faz para entender as estratégias dos ouvintes deverá ser necessário para os ouvintes entenderem o professor surdo”, calcula Rita, completando: “e isso será a outra metade da inclusão.”


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