Para que a
evolução humana siga acontecendo, linguagem, criatividade, comunicação e as
diferentes inter-relações ganham novas características e performances em cada
momento histórico. Dos períodos mais antigos à contemporaneidade, a permissão
para produção contínua de possibilidades comunicativas e criativas foi
enriquecida com variadas tecnologias. Do gesto, passando pelo papel, ao
computador e à Internet preservamos culturas e sociedades, além de múltiplos
instrumentos, responsáveis pela gestão, mediação e transformação da realidade.
Juntos se
desenvolvem o patrimônio cultural e a memória humana. Dentro de redes
associativas e novas (e outras) representações, as gerações se sucedem criando
condições de perenidade de proposições, artefatos, narrativas essenciais à sua
reflexão após seu tempo de realização / ação. E no seio do contexto social,
estas gerações convivem e convergem informação e saberes.
Contemporaneamente,
a situação não é outra. Quando se mapeia o capital teórico atual, muitas
discussões se revelam e articulam em duplos: modernidade e pós-modernidade;
certezas e incertezas nas formas de conhecer; paradigma cartesiano e outro mais
holístico; ensino linear e hipertextual; convivência analógica e digital; convívio
da oralidade e da escrita; dentre outras. Estas discussões envolvem análises
econômicas, sociais, políticas, filosóficas etc. que, no bojo deste estudo,
refletem um conflito de gerações cujas perspectivas, olhares, pensamentos foram
criados em sinergia com tempos socioculturais ímpares.
Marc Prensky
(2001)[1]
analisa as divergências entre gerações dentro de conceitos como ‘nativos e
imigrantes digitais’. O primeiro termo é identificado com aqueles que cresceram
com a rede. Já o segundo termo refere-se aqueles que ‘chegaram mais tarde’ às
tecnologias de informação e comunicação (TICs).
Marc Prensky
(2001) adota o conceito de nativos
digitais para se referir à geração de indivíduos que cresceu e cresce com a
evolução da Web e da tecnologia em geral. Os nativos digitais convivem
diariamente com computadores, videogames, música digital, celulares de última
geração etc. Não se preocupam com a leitura do manual de instruções e poucos
recorrem a técnicos especializados, ou seja, atrevem-se a descobrir por si o funcionamento
da tecnologia que têm entre as mãos. Têm uma habilidade para usar as
tecnologias virtuais e uma característica: a tecnofilia (sentem atração por
tudo que for associado às novas tecnologias).
Os nativos
digitais adoram fazer várias coisas ao mesmo tempo: são multitarefa por que
acessam e se comunicam por diferentes canais simultaneamente, apesar de
preferirem formatos gráficos de texto. Suas ações são hipertextuais, não mais
apenas lineares. Suas decisões são imediatas. Muito do seu ‘psicologismo’ está
‘linkado’ com o uso que fazem das ferramentas digitais. E conceitos como
espaço, tempo, identidade, memória dentre outros, pertencem mais a todo
ambiente high-tech no qual cresceram do que a uma sequência linear de
assimilações (e reflexões) cotidianas de valores, conceitos, regras e
comportamentos.
Em suas
atividades multitarefas, o olhar é o sentido mais usado, senão o mais
desenvolvido. No tempo de imersão tecnológica, há uma necessidade de abrir
frentes, desbravar o terreno virtual, o quanto for possível. De um lado
constroem viagens a espaços inimagináveis e adquirem um grande conjunto de
informações; mas, de outro lado, quando a ideia é a construção do conhecimento,
há certa dificuldade e mínima produtividade, há certa redução dos níveis de
atenção e concentração, além de adquirir uma atitude volúvel quanto aos
assuntos acessados. Ou seja, há a necessidade da escola, da socialização
escolar, dos desafios do ensino, das indicações do professor.
Os ‘nativos’ são
apenas mais predispostos a utilizar tecnologia na aprendizagem e a realizar
atividades de investigação oferecidas pela escola e dentro dos processos
educacionais. E segundo Monteiro (2009)[2], estão
sendo estudados como um fenômeno que está causando impactos em diferentes
setores da sociedade e representam 50% da população ativa (pessoas de até 25
anos), mas em 2020, com o crescimento demográfico, serão 80% da população.
Por conseguinte,
em entrevista para o site super Rede Boa Vontade de Rádio (2009)[3], o
consultor da Faustini, Inovação e Tecnologia (FIT), Volney Faustini afirma que “os
nativos digitais ‘têm plasticidade cerebral diferente’ justamente constituída
pela rotina de acessos, imersões e interações no ambiente digital,
principalmente relacionada aos games.”
Ao conceito de
nativos digitais, Prensky (2001) contrapõe o de imigrantes digitais, isto é, os indivíduos que não tendo nascido no
mundo digital, em determinada altura se sentiram atraídos e mostraram interesse
pelas ferramentas digitais. Os imigrantes digitais terão sempre de se adaptar
ao ambiente e acrescentar novas aprendizagens às anteriormente conseguidas,
situação contrária à dos nativos digitais cuja evolução tecnológica está
integrada ao seu desenvolvimento psicossocial.
Para
exemplificar, Prensky (2001) menciona o sotaque dos imigrantes digitais. Um
imigrante digital sente por vezes a necessidade de imprimir um documento de
texto que pretende editar ou telefona a alguém para avisar do envio de um
email. O nativo digital não o faz, edita os seus documentos no próprio processador
de texto. São pequenos aspectos que determinam a perspectiva que cada um tem da
tecnologia: um nativo abraça-a, um imigrante adapta-a e, por mais que a
utilize, haverá sempre um ligeiro sotaque na sua língua.
No panorama
contemporâneo, os imigrantes digitais estão num processo de migração estimulado
pela influência das novas tecnologias no cotidiano. Dessa migração e
adaptações, a convergência não se dá sem conflitos. Estes conflitos que vão
além das diferenças de objetos que formam a memória e a identidade de cada um,
são conflitos vinculados à velocidade com as quais os indivíduos em geral lidam
com as informações e às formas de apropriação dos meios digitais.
Dos meios
‘analógicos’ comuns à geração anterior, os nativos digitais só conhecem todos
quase sempre de ‘ouvir falar’ ou por fotos, ou seja, muitos deles nunca
chegaram a usar. Seus meios e formas de interação são outros e estão promovendo
o redimensionamento destes mesmos meios e formas. Do analógico ao digital,
muitas diferenças.
Segundo Volney Faustini
(2009 apud MONTEIRO, 2009) “é possível um imigrante digital conviver em
harmonia com a nova geração, mas este nunca vai perder o ‘sotaque’”. Mas o que
seria ‘sotaque’? “O nativo fala a linguagem digital com naturalidade e
pertinência. Ele sabe inclusive ler na tela do computador. Já o imigrante não
tem a mesma desenvoltura, a mesma fluência. Não é à toa que este ainda imprime
e-mails para ler”. (FAUSTINI, 2009 apud MONTEIRO, 2009). Ambos convivem bem,
mas sempre haverá diferenças.
Imigrantes
digitais são nativos analógicos. Nada impossibilita sua transição para o
‘digital’ quando se encantam pelas possibilidades da tecnologia digital, mesmo
sendo linear e seqüencial. De novo, a questão do tempo. Mesmo encantado, faz
uma coisa de cada vez. Precisa de tempo para reflexão, de adaptação e de
adequação.
Em seu blog na
página do site TERRA, Silvio Meira (2009)[4]
afirma que “a questão não é de idade ou de percepção, e sim de entender [e
acompanhar] a mudança de cenário”. A tecnologia é rápida demais e o problema é
‘correr na frente’: “a cada 18 meses dobra a capacidade de processamento dos
micros; a cada 12 meses, a de armazenamento; já a velocidade de transmissão de
dados dobra a cada nove meses, enquanto o preço de tudo permanece o mesmo”
(MEIRA, 2009).
Diante disso,
propor desafios, criar estratégias, reconfigurar saberes adquiridos, remexer no
‘baú de ossos’ da cognição, agir em proximidade, afetar a atenção, minimizar
indisciplinas, demanda o uso diferenciado de todos os recursos disponíveis no
contexto educacional ou não como estímulos sedutores à autoformação e
interformação pessoal. Sem isso não há como agenciar a curiosidade, a
criatividade, a atenção, a emoção e, principalmente, o comprometimento a uma
transformação atitudinal aprendentes.
Segundo Spyer
(2007), toda participação dependerá da motivação / estímulos que podem levar os
aprendentes a acreditar e participar do projeto. Mas para isso, em resumo, é
preciso: (...) reciprocidade (uma
pessoa fornece informações relevante para um grupo na expectativa de que será
recompensada recebendo ajuda e informações úteis ao futuro), [...] prestígio (para ser respeitado e
reconhecido dentro de um determinado grupo, um indivíduo pode oferecer
informações de qualidade, fartura de detalhes técnicos nas respostas, apresentar
disposição para ajudar os outros e redação elegante), [...] incentivo social (o vínculo a um
determinado grupo leva pessoas a oferecerem voluntariamente ajuda e
informações), [...] e incentivo moral
(o prazer associado à prática de boas ações estimula pessoas a doarem seu tempo
e esforço). (SPYER, 2007, p.36).
Profª Ma Claudia Nunes
Referencias:
PRENSKY, Marc. Digital Natives. Digital Immigrants. On the Horizon (MCB University Press, vol. 09, nº 05) October, 2001. Disponível em: http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/2470/Digital_NativesDigital_Immigrants.pdf. Acesso em: 20
março 2009.
SPYER, Juliano. Conectado: o que a internet fez com você e o que você pode fazer
com ela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
[1] PRENSKY,
Marc. Digital Natives. Digital
Immigrants. On the Horizon (MCB University Press, vol. 09, nº 05) October, 2001. Disponível em:
http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/2470/Digital_NativesDigital_Immigrants.pdf.
Acesso em: 20 março 2009
[2]
MONTEIRO, Elias. As diferenças entre nativos e imigrantes digitais. Caderno
Digital,
jornal O Globo. Disponível em: http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2009/05/18/as-diferencas-entre-nativos-imigrantes-digitais-755911443.asp Acesso em: 18 maio 2009.
jornal O Globo. Disponível em: http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2009/05/18/as-diferencas-entre-nativos-imigrantes-digitais-755911443.asp Acesso em: 18 maio 2009.
[3]
FAUSTINI, Volney. Entrevista cedida ao site
Super Rede Boa Vontade de Rádio, em 05 de junho de 2009. Disponível em: http://radio.boavontade.com/sp/inc/interno.php?cm=77248&ci=1&cs=10.
Acesso em 20 julho 2009.
[4]
MEIRA, Silvio. Dia a dia, bit a bit. Robôs [3]: campeões do mundo? De futebol?
Artigo publicado no Blog na página do provedor TERRA em 29 julho 2009.
Disponível em: http://smeira.blog.terra.com.br/tag/limites.
Acesso em: 01/08/09
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