Aproveitando
que estamos na semana da Conscientização do Autismo, nada melhor do que
pensarmos em divulgar a importância de uma intervenção precoce para essas
crianças. Mas para isso, é preciso que as pessoas conheçam algumas fases do
desenvolvimento infantil e que muitas vezes passam despercebidas por falta de conhecimento
dos pais, responsáveis e/ou
cuidadores.
Autismo
ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) é marcado por algumas características comuns
tais como: inabilidade para interagir socialmente; dificuldade com o domínio da
linguagem para se comunicar; dificuldade com jogos simbólicos (imaginativos /
metafóricos); e padrão de comportamento restritivo e repetitivo;
enfim, autismo é um
assunto muito delicado e é preciso “aceitar” que o filho pode estar
apresentando ou se desenvolvendo “fora do padrão de normalidade”.
É
verdade que nenhum pai ou responsável é preparado para isso, mas precisamos
saber a importância de se identificar o quanto antes os primeiros sinais
apresentados pelas crianças (filhos). A identificação prévia favorece seu
desenvolvimento porque pode apresentar-se de formas diferentes; desde um
Asperger, que poderá apresentar mínimos comprometimentos na fala e na
inteligência, mas com alteração na linguagem contextual, ou até graus mais
altos de Autismo, no qual a criança é incapaz de manter contato interpessoal, não
ter linguagem verbal, além de ter atitudes agressivas.
Logo, o
quanto antes os pais / responsáveis saírem do processo de “negação”, mais
possibilidade a criança terá de se encontrar, se entender, se desenvolver, de
acordo com seus próprios limites de aprendizagem social e linguístico. É
imprescindível que os pais enxerguem o que seus filhos demonstram no dia a dia
em seus pequenos gestos, tentativas de fala ou comportamentos diferenciados.
Como
estamos na semana da Conscientização Mundial do Autismo, pensei em tentar
resumir um pouquinho do que precisamos saber sobre este assunto para poder
ajudar e conscientizar a todos o que é o
Autismo. Vamos lá!
Como
afirmei anteriormente, o Autismo ou Transtorno do Espectro Autista é uma disfunção
global do desenvolvimento, que afeta a comunicação e integração, fazendo com
que o indivíduo se torne indiferente ao contexto social em que se encontra. É
um transtorno que pode ou não estar associado a um comprometimento cognitivo.
Segundo Drauzio Varela[1],
os estudos iniciais consideravam o
transtorno resultado de dinâmica familiar problemática e de condições de ordem
psicológica alteradas, hipótese que se mostrou improcedente. A tendência atual
é adquirir a existência de múltiplas causas para o autismo, entre eles, fatores
genéticos e biológicos.
Até o
momento não há nenhuma cura comprovada, porém pesquisas têm mostrado que as
crianças com autismo respondem muito bem a uma intervenção precoce intensiva
antes dos 05 anos. Já a terapêutica pressupõe uma equipe multi e interdisciplinar:
tratamento médico com neuropediatra, fonoaudiológico, pedagógico e terapeuta
ocupacional tornam-se fundamentais.
Dentre
os profissionais citados acima, e diante da dificuldade de comunicação e o
desenvolvimento da linguagem, todos comprometidos, a intervenção
fonoaudiológica precoce nessas crianças torna-se indispensável por ser o
fonoaudiólogo, o profissional habilitado a intervir nos distúrbios da
linguagem. E é a partir dos estágios de desenvolvimento de linguagem da
criança, que ocorrem entre 0 a 05 anos, que podemos identificar, antes mesmo
dos 03 anos, estas alterações na comunicação.
Comportamentos
observados no desenvolvimento da linguagem não-verbal (pré-linguístico), precursores
da linguagem verbal (linguístico), já
deveriam estar desenvolvidos e presentes tais como por exemplo: o uso do
apontar intencional, onde a criança aponta aquilo que deseja ainda que não
consiga falar. Aos 11 meses, esta ação (apontar) já esta presente. Aos 18 meses,
a criança já consegue organizar um pensamento e falar uma frase com duas
palavras, demonstrando intenção em pedir algo (Bia papa); e a ausência da
atenção compartilhada, onde as crianças buscam, com muito interesse, aprender
com o outro e ter novas experiências. Em uma criança autista muitas vezes tão
interesse se mostra inacessível perante a tentativa de buscar o outro,
comprometendo bastante a sua comunicação social.
Sinais
de dificuldades na capacidade de comunicação das crianças autistas são
evidentes mesmo antes do período de aquisição da linguagem verbal (fala), mas
passam despercebidos por alguns pais, pois, muitas vezes, estes só se atentam
com a ausência da oralidade e da fala no momento em que colocam seus filhos na escola.
Os professores, na maioria das vezes, são os primeiros a perceber que algo está
fora do padrão. O contato social da criança com a turma revela ineficiências
e/ou incapacidades. Diante disso, conversam com os pais, alertando-os quanto às
diferenças. Muitos pais pensavam que seus filhos eram apenas “tímidos” ou
“quietinhos”, principalmente quando não tem a experiência da paternidade ou conhecimento
das etapas do desenvolvimento infantil.
No
tratamento, deveremos traçar um plano, tanto para o autista, quanto para todos
que estiverem ao seu redor, a partir de uma avaliação que irá nos indicar o
melhor método para cada criança, pois, cada criança exige uma compreensão
específica uma vez que os problemas de comunicação das crianças autistas variam
de intensidade. Algumas poderão nunca vir a falar verbalmente, enquanto outras
apresentarão um desenvolvimento verbal, mas a maioria apresenta a alteração da
linguagem como aspecto característico, principalmente no que se refere ao
aspecto pragmático, ou seja, saber o que, como e quando falar, de forma
contextualizada. Na intervenção, serão trabalhadas as habilidades necessárias,
ou seja, os aspectos onde foram apresentadas dificuldades durante a avaliação.
Diante
disso, o tratamento fonoaudiológico
será objetivado: fazer com que a criança utilize a comunicação funcional, ou
seja, se faça entendida, seja por meio da fala (verbal); ou, quando a linguagem
verbal não é possível, momentânea ou permanentemente, deve-se pensar junto à
família a necessidade do uso de um sistema de comunicação alternativa promovendo
assim o desenvolvimento da fala.
O
sucesso do tratamento fonoaudiológico é observado a partir de pequenos
sucessos, como o aumento na frequência dos comportamentos comunicativos não
verbais ou verbais, seja ele; uma troca de olhar, um maior interesse em
atividades e jogos, gestos, pequenas vocalizações, balbucios, fala que
poderemos trabalhar com modulações e conduções quando apresentam a ecolalia
(repetição da fala do outro). E é importante lembrar que o desenvolvimento da
criança autista, não depende apenas do empenho dos profissionais que os
acompanham, como também dos estímulos feitos pelos cuidadores no ambiente
familiar.
A
família e os demais participantes tem um importante papel nesse processo, por
isso, é importante que busquem sempre estimular seus comportamentos comunicativos em
diferentes contextos e lugares, tais como: estimular a brincadeira com animais de estimação ou visitar lugares
onde possam interagir com outras pessoas respeitando sempre o tempo em que são capazes
de estar nestes lugares. Começando aos poucos, lembrando que precisam adaptar-se
a esta situação aos poucos e tornando parte assim de sua rotina.
Portanto,
médicos, terapeutas e pais, unindo-se com um só propósito que vise o melhor
desenvolvimento global da criança, somados a sociedade consciente de que a
criança autista possui afeto, ela apenas possui um jeito “diferente” de ser e
demonstrar assim como cada uma de nós…
“Somos todos diferentes!”
Profa
Maria Paula Raphael
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