Recém-chegado na Universidade do Estado de Michigan, nos Estados
Unidos, o estudante paulistano Mauricio Peixoto de Mattos Almeida, de 18
anos, que é deficiente visual, foi eleito vice-presidente do
departamento estadual estudantil da Nacional Federation of the Blind (Federação Nacional dos Cegos), em Michigan.
Maurício Almeida, de 18 anos, é estudante da Universidade de Michigan (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)
Com mais de 50 mil membros, a Nacional Federation of the Blind
possui filiais em todos os estados americanos. Mauricio foi escolhido e
nomeado pelos integrantes do conselho. "Sempre gostei de ajudar as
pessoas e acho que vai ser uma responsabilidade muito grande, mas
acredito que tenho bons projetos e competência [para assumir o cargo].
Quero envolver os alunos porque este é o momento que eu vivo", afirma.
Na universidade, Mauricio pretende integrar os estudantes cegos com os
que enxergam. Para ele, precisa haver maior proximidade entre os alunos
que cursam disciplinas de educação especial e pretendem trabalhar com
pessoas que possuem diversos tipos de deficiência.
A infraestrutura oferecida pela Universidade de Michigan foi um dos
motivos que o levou a querer fazer graduação nos Estados Unidos.
Mauricio diz que o local está muito bem equipado para estudantes cegos.
"Fiquei impressionado. Tem ônibus que fala, farol que fala, as calçadas
são padronizadas, e os motoristas de táxis são treinados. Faço tudo de
forma independente."
O garoto mora no campus da instituição e seu colega de quarto é um
estudante americano. Segundo ele, foi bem recebido por todos. "Todo
mundo do prédio é bacana, as pessoas perguntam muito sobre o Brasil, as
praias, as mulheres, a cultura e a alimentação." Como é deficiente
visual, o estudante teve prioridade na escolha pelo piso térreo para
facilitar a locomoção.
Quando fez o application (vestibular americano), Mauricio
pensava em cursar ciência da computação, mas, menos de um mês depois da
chegada à universidade mudou os planos: vai estudar relações
internacionais. "Minha paixão pela tecnologia ainda existe, mas quero
ajudar meu povo a crescer e se expandir e acho que a carreira de
relações internacionais me abre mais portas."
Limitação visual ocorreu porque aos 6 meses,Maurício teve a retina descolada
(Foto: Vanessa Fajardo/ G1)
(Foto: Vanessa Fajardo/ G1)
Retina descolada
O estudante perdeu a visão aos 6 meses quando o ar da incubadora descolou sua retina. Desde então, percebe apenas contornos e cores. Se locomove com ajuda de uma bengala, e nos Estados Unidos está participando de um processo para ganhar um cão-guia.
O estudante perdeu a visão aos 6 meses quando o ar da incubadora descolou sua retina. Desde então, percebe apenas contornos e cores. Se locomove com ajuda de uma bengala, e nos Estados Unidos está participando de um processo para ganhar um cão-guia.
A limitação visual não trouxe restrições à vida de Mauricio que usa a
tecnologia como aliada. Ele domina o braile, mas hoje o substituiu pelos
softwares que leem textos no computador. O estudante tem uma empresa de
hospedagem de sites e rádios na internet. Também coordena a criação de
um site que traduz do inglês para português jogos para deficientes
visuais na web.
Mauricio aprendeu inglês jogando na internet durante a infância. Mais
tarde, se tornou professor voluntário na escola americana onde cursou o
ensino médio, em São Paulo. Lá havia um programa para ensinar filhos de
funcionários e familiares de alunos. Nunca estudou em escolas especiais.
“Sou contra, acho um atraso porque eu tenho de me adaptar à sociedade,
não o contrário. A sociedade tem de me dar estrutura, mas a adaptação é
minha.”
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