Crianças percebiam quando o aluno especial ficava incomodado com alguma coisa
Foto: Wikimedia
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Educação
A
inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais no ensino
regular pode proporcionar muitos benefícios. Entre eles, efeitos
terapêuticos decorrentes diretamente da interação do aluno especial com
as outras crianças. Foi isso que constatou a professora universitária
Mônica Maria Farid Rahme em seu doutorado pela Faculdade de Educação
(FE) na USP.
A pesquisa intitulada Laço social e educação: um estudo sobre os efeitos do encontro com o outro no contexto escolar recebeu o Prêmio Capes de Teses 2011, da área de Educação, e foi realizada sob a orientação da professora da FE, Leny Magalhaes Mrech.
Mônica realizou seu estudo em uma escola pública integral de Belo Horizonte, em Minas Gerais, que tem uma proposta de trabalho diferenciada, tanto de inserção de alunos com necessidades educacionais especiais como também no que se refere ao trabalho com temas relacionados ao pertencimento étnico-racial, gênero e sexualidade.
A análise foi realizada a partir de um estudo de caso com um garoto com necessidades especiais e teve como inspiração as discussões realizadas por pesquisadores brasileiros do campo Psicanálise e Educação, como sua própria orientadora, além dos professores da USP, Cristina Kupfer (Instituto de Psicologia) e Rinaldo Voltolini (Faculdade de Educação).
O aluno especial tinha 4 anos quando começou a frequentar a escola, mas seu comportamento era de uma criança de idade ainda menor: ele não comia nem andava sozinho. "Isso acontecia porque era uma criança cujo funcionamento na época era bastante diferenciado das outras. Seu corpo era sem tônus e ele não conseguia desempenhar atividades simples, como se alimentar ou ir sozinho ao banheiro", explica.
Durante o período de um ano letivo, a pesquisadora realizou um trabalho de campo na escola com o objetivo de estudar a interação entre as crianças, tendo todas elas entre 6 a 8 anos. Além de gravar as entrevistas com as crianças, a pesquisadora também realizou algumas filmagens das interações entre o aluno especial e elas, tanto dentro da sala de aula como nos intervalos. A professora pôde acompanhar atividades que não eram necessariamente dirigidas por adultos, como jogos nas quadras, oficinas e mesmo suas conversas. As cenas das filmagens eram mostradas a todos e o aluno com necessidades educacionais especiais, apesar de não falar muito, assistia e participava das atividades, junto aos demais.
"Por meio de todas essas observações, pudemos perceber que a interação do aluno com necessidades educacionais especiais com as outras crianças tinha efeitos terapêuticos: a forma como o convidavam a participar das brincadeiras e a interagir com os outros colegas era muito importante para a educação dele. Chamamos essa interação como uma forma de expressão do laço social", afirma a pesquisadora.
Mônica constatou também que as crianças tinham uma grande capacidade de perceber quando o aluno especial se mostrava muito incomodado com alguma coisa, como quando tinha necessidade de ir ao banheiro, ou quando estava com sede, frio ou calor. "Essas percepções nem sempre ocorriam do mesmo modo por parte dos adultos", aponta a pesquisadora.
Educação inclusiva
A educação inclusiva apresenta uma proposta ampla de todas as crianças, com necessidades especiais ou não, estarem numa escola comum. O aluno considerado especial deve ser trabalhado individualmente, mas de modo articulado a todo o grupo da sala de aula.
"Mas é importante que se forneça mecanismos que possibilitem a entrada dessas crianças nas salas, pensando tanto no currículo como nas atividades que serão desenvolvidas. A aprendizagem não é um exercício apenas racional. Há todo um processo que envolve a empatia pelos professores, o convívio e a socialização com as outras pessoas. Os adultos minimizam isso, mas esses fatores ficam mais evidentes na educação das crianças especiais, que têm uma aprendizagem diferenciada", destaca.
Para a professora, as políticas públicas devem levar em conta a realidade das salas de aula. "Lidar com alunos com necessidades muito diferentes entre si exige um grande trabalho dos professores. Eles precisam negociar condições de trabalho e precisam ser ouvidos em suas demandas", aponta.
Exterior
Mônica também pesquisou como a educação inclusiva está inserida em outros países. Nos Estados Unidos, a educação inclusiva já existe, mas ainda existem também serviços especializados. Na Itália, há uma integração por meio de uma rede de apoio voltada para a inserção de crianças com necessidades especiais no ensino regular, que se iniciou desde a década de 1970. Já na França, a inclusão ocorre em menor proporção, sendo que existe uma rede importante de serviços especializados.
No Brasil, há muitas escolas em que a educação inclusiva já é uma realidade. Mas isso varia muito em cada região brasileira. "O que sabemos é que, atualmente, o número de crianças consideradas especiais no ensino comum é bem maior do que na década de 1980", finaliza a pesquisadora.
Fonte: Agência USP de Notícias
A pesquisa intitulada Laço social e educação: um estudo sobre os efeitos do encontro com o outro no contexto escolar recebeu o Prêmio Capes de Teses 2011, da área de Educação, e foi realizada sob a orientação da professora da FE, Leny Magalhaes Mrech.
Mônica realizou seu estudo em uma escola pública integral de Belo Horizonte, em Minas Gerais, que tem uma proposta de trabalho diferenciada, tanto de inserção de alunos com necessidades educacionais especiais como também no que se refere ao trabalho com temas relacionados ao pertencimento étnico-racial, gênero e sexualidade.
A análise foi realizada a partir de um estudo de caso com um garoto com necessidades especiais e teve como inspiração as discussões realizadas por pesquisadores brasileiros do campo Psicanálise e Educação, como sua própria orientadora, além dos professores da USP, Cristina Kupfer (Instituto de Psicologia) e Rinaldo Voltolini (Faculdade de Educação).
O aluno especial tinha 4 anos quando começou a frequentar a escola, mas seu comportamento era de uma criança de idade ainda menor: ele não comia nem andava sozinho. "Isso acontecia porque era uma criança cujo funcionamento na época era bastante diferenciado das outras. Seu corpo era sem tônus e ele não conseguia desempenhar atividades simples, como se alimentar ou ir sozinho ao banheiro", explica.
Durante o período de um ano letivo, a pesquisadora realizou um trabalho de campo na escola com o objetivo de estudar a interação entre as crianças, tendo todas elas entre 6 a 8 anos. Além de gravar as entrevistas com as crianças, a pesquisadora também realizou algumas filmagens das interações entre o aluno especial e elas, tanto dentro da sala de aula como nos intervalos. A professora pôde acompanhar atividades que não eram necessariamente dirigidas por adultos, como jogos nas quadras, oficinas e mesmo suas conversas. As cenas das filmagens eram mostradas a todos e o aluno com necessidades educacionais especiais, apesar de não falar muito, assistia e participava das atividades, junto aos demais.
"Por meio de todas essas observações, pudemos perceber que a interação do aluno com necessidades educacionais especiais com as outras crianças tinha efeitos terapêuticos: a forma como o convidavam a participar das brincadeiras e a interagir com os outros colegas era muito importante para a educação dele. Chamamos essa interação como uma forma de expressão do laço social", afirma a pesquisadora.
Mônica constatou também que as crianças tinham uma grande capacidade de perceber quando o aluno especial se mostrava muito incomodado com alguma coisa, como quando tinha necessidade de ir ao banheiro, ou quando estava com sede, frio ou calor. "Essas percepções nem sempre ocorriam do mesmo modo por parte dos adultos", aponta a pesquisadora.
Educação inclusiva
A educação inclusiva apresenta uma proposta ampla de todas as crianças, com necessidades especiais ou não, estarem numa escola comum. O aluno considerado especial deve ser trabalhado individualmente, mas de modo articulado a todo o grupo da sala de aula.
"Mas é importante que se forneça mecanismos que possibilitem a entrada dessas crianças nas salas, pensando tanto no currículo como nas atividades que serão desenvolvidas. A aprendizagem não é um exercício apenas racional. Há todo um processo que envolve a empatia pelos professores, o convívio e a socialização com as outras pessoas. Os adultos minimizam isso, mas esses fatores ficam mais evidentes na educação das crianças especiais, que têm uma aprendizagem diferenciada", destaca.
Para a professora, as políticas públicas devem levar em conta a realidade das salas de aula. "Lidar com alunos com necessidades muito diferentes entre si exige um grande trabalho dos professores. Eles precisam negociar condições de trabalho e precisam ser ouvidos em suas demandas", aponta.
Exterior
Mônica também pesquisou como a educação inclusiva está inserida em outros países. Nos Estados Unidos, a educação inclusiva já existe, mas ainda existem também serviços especializados. Na Itália, há uma integração por meio de uma rede de apoio voltada para a inserção de crianças com necessidades especiais no ensino regular, que se iniciou desde a década de 1970. Já na França, a inclusão ocorre em menor proporção, sendo que existe uma rede importante de serviços especializados.
No Brasil, há muitas escolas em que a educação inclusiva já é uma realidade. Mas isso varia muito em cada região brasileira. "O que sabemos é que, atualmente, o número de crianças consideradas especiais no ensino comum é bem maior do que na década de 1980", finaliza a pesquisadora.
Fonte: Agência USP de Notícias
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