A
seqüência de desenvolvimento da criança com Síndrome de Down geralmente
é bastante semelhante à de crianças sem a síndrome e as etapas e os
grandes marcos são atingidos, embora em um ritmo mais lento.
Esta
demora para adquirir determinadas habilidades pode prejudicar as
expectativas que a família e a sociedade tenham da pessoa com Síndrome
de Down. Durante muito tempo estas pessoas foram privadas de
experiências fundamentais para o seu desenvolvimento porque não se
acreditava que eram capazes. Todavia, atualmente já é comprovado que
crianças e jovens com Síndrome de Down podem alcançar estágios muito
mais avançados de raciocínio e de desenvolvimento.
Desenvolvimento Psicomotor
Uma
das características principais da Síndrome de Down, e que afeta
diretamente o desenvolvimento psicomotor, é a hipotonia generalizada,
presente desde o nascimento. Esta hipotonia origina-se no sistema
nervoso central, e afeta toda a musculatura e a parte ligamentar da
criança. Com o passar do tempo, a hipotonia tende a diminuir
espontaneamente, mas ela permanecerá presente por toda a vida, em graus
diferentes. O tônus é uma característica individual, por isso há uma
variação entre as crianças com esta síndrome.
A
criança que nasceu com Síndrome de Down vai controlar a cabeça, rolar,
sentar, arrastar, engatinhar, andar e correr, exceto se houver algum
comprometimento além da síndrome. Acontece freqüentemente de a
criança ter alta da fisioterapia por ocasião dos primeiros passos. Na
verdade, quando ela começa a andar, há necessidade ainda de um trabalho
específico para o equilíbrio, a postura e a coordenação de movimentos.
É
essencial que nesta fase, na qual há maior independência motora, a
criança tenha espaço para correr e brincar e possa exercitar sua
motricidade global. A brincadeira deve estar presente em qualquer
proposta de trabalho infantil, pois é a partir dela que a criança
explora e internaliza conceitos, sempre aliados inicialmente à
movimentação do corpo. O trabalho psicomotor deve enfatizar os
seguintes aspectos:
o equilíbrio · a coordenação de movimentos;
a estruturação do esquema corporal;
a orientação espacial;
o ritmo;
a sensibilidade;
os hábitos posturais;
os exercícios respiratórios.
Desenvolvimento Cognitivo
Embora a Síndrome de Down seja classificada como uma deficiência
mental, não se pode nunca predeterminar qual será o limite de
desenvolvimento do indivíduo.
Historicamente, a pessoa com
Síndrome de Down foi rotulada como deficiente mental severa e em
decorrência deste rótulo acabou sendo privada de oportunidades de
desenvolvimento. A classificação da deficiência mental nos grupos
profundos (severos), treináveis e educáveis é bastante questionada hoje
em dia. Estes diagnósticos, determinados a partir de testes de QI
(Medida do Quociente da Inteligência), nem sempre condizem com a real
capacidade intelectual do indivíduo, uma vez que os testes aplicados
foram inicialmente propostos para povos de outros países, com culturas
diferentes da nossa.
A educação da pessoa com Síndrome de Down
deve atender às suas necessidades especiais sem se desviar dos
princípios básicos da educação proposta às demais pessoas.
A
criança deve freqüentar desde cedo a escola, e esta deve valorizar,
sobretudo os acertos da criança, trabalhando sobre suas potencialidades
para vencer as dificuldades.
A educação especial, garantida por lei ao deficiente, deve atender aos seguintes objetivos:
- · Respeitar a variação intelectual de cada um, oferecendo iguais possibilidades de desenvolvimento, independente do ritmo individual.
- · Valorizar a criança ou jovem, incentivando-o em seu processo educacional.
- · Realizar planejamentos e avaliações periódicas, a fim de poder suprir todas as necessidades do grupo (gerais e individuais), com constante reavaliação do trabalho.
A aprendizagem da pessoa
com Síndrome de Down ocorre num ritmo mais lento. A criança demora mais
tempo para ler, escrever e fazer contas. No entanto, a maioria das
pessoas com esta síndrome tem condições para ser alfabetizada e realizar
operações lógico-matemáticas. A educação da pessoa com Síndrome de Down
deve ocorrer preferencialmente em uma escola que leve em conta suas
necessidades especiais. As crianças com deficiência têm o direito e
podem beneficiar-se da oportunidade de freqüentar desde cedo uma creche e
uma escola comum, desde que adequadamente preparadas para recebê-las.
O
professor deverá estar informado para respeitar o ritmo de
desenvolvimento do aluno com deficiência, como, de resto, deve respeitar
o ritmo de todos os seus alunos. O papel do professor é muito
importante, pois caberá a ele promover as ações para incluir a criança
deficiente no grupo. É preciso orientar a família da pessoa
deficiente sobre quais os recursos educacionais de boa qualidade que
estão disponíveis em sua comunidade. Para realizar tal orientação, o
profissional deve procurar conhecer melhor as opções de escola especial e
escola comum de sua cidade e região, para que o encaminhamento seja
feito com segurança e traga benefícios ao desenvolvimento global da
criança.
Desenvolvimento da Linguagem
A linguagem representa um dos aspectos mais importantes a ser
desenvolvido por qualquer criança, para que possa se relacionar com as
demais pessoas e se integrar no seu meio social. Pessoas com maiores
habilidades na linguagem podem comunicar melhor seus sentimentos,
desejos e pensamentos.
De maneira geral, a criança, o jovem
e o adulto com Síndrome de Down possuem dificuldades variadas no
desenvolvimento da linguagem. É importante estar atento a este fato
desde o primeiro contato com a família do bebê com Síndrome de Down.
Quanto antes for criado um ambiente propício para favorecer a evolução
da linguagem melhor será o futuro.
A criança com Síndrome
de Down apresenta um atraso na aquisição e desenvolvimento da linguagem
se comparada a outra criança. Este atraso tem sido atribuído a
características físicas ou ambientais que influenciam negativamente o
processo de desenvolvimento, tais como:
- Problemas de acuidade e discriminação auditiva.
- · Freqüentes doenças respiratórias.
- · Hipotonia da musculatura orofacial.
- · Alteração no alinhamento dos dentes.
- · Palato ogival com tendência à fenda.
- · Língua grande (macroglossia) ou cavidade oral pequena.
- · Problemas de maturação dos padrões de mastigação, sucção e deglutição.
- · Baixa expectativa em relação à possibilidade de desenvolvimento da criança.
- · Dificuldades do adulto em determinar o nível de compreensão da criança para adaptar sua fala de maneira a promover o desenvolvimento.
- · Pouca disponibilidade do adulto em ouvir a criança e em se esforçar para compreendê-la.
- · Dificuldade de sintetização e problemas na estruturação sintática.
- · Atraso geral no desenvolvimento motor, cognitivo e emocional.
- · Falta de atividades sociais que façam a criança utilizar a linguagem de forma significativa.
Como ajudar o desenvolvimento da linguagem
O desenvolvimento da linguagem ocorre através da interação da criança
com o meio. Isto também é verdadeiro para crianças com Síndrome de Down.
Os pais e professores devem ser orientados pelo fonoaudiólogo que
poderá elaborar um programa específico para cada criança. Antes de
qualquer coisa, é importante sanar ou minimizar aspectos físicos que
possam prejudicar a articulação e produção vocal através de exercícios
para fortalecimento da musculatura, adaptação de próteses dentárias ou
auditivas etc. Criar um ambiente favorável e estimulador.
- · Nunca falar pela criança nem deixar que os outros falem por ela.
- · Aguardar a solicitação da criança, não antecipando suas vontades.
- · Prestar atenção quando a criança iniciar um diálogo.
- · Criar situações inesperadas que provoquem reações da criança aguardando seus comentários.
· Fornecer apoio aos pais para que possam desenvolver um relacionamento emocional saudável com a criança.
ESTIMULAÇÃO INICIAL
É importante que a criança com Síndrome de Down receba estimulação para
se desenvolver desde o nascimento. A família deve ser orientada sobre
como proceder com a criança em casa dentro da rotina familiar. Nesta
fase inicial, quando o choque da notícia sobre a síndrome ainda está
recente, os profissionais que assistem à família devem saber que muitas
vezes é ela quem necessita de ajuda, mais do que a própria criança.
Portanto, é sempre bom ter o cuidado de solicitar aos pais coisas que
eles realmente tenham condições práticas e emocionais para cumprir.
Alguns aspectos do desenvolvimento merecem atenção especial neste
período: a sucção e a deglutição da criança devem ser trabalhadas por
um fonoaudiólogo, objetivando melhores condições para alimentação e uma
melhor postura dos órgãos fono-articulatórios. A movimentação ativa, a
coordenação viso-motor e o equilíbrio para controle de cabeça e tronco
devem ser estimulados por um fisioterapeuta.
Várias técnicas podem
ser utilizadas. Massagens com o vibrador ou com as mãos ajudam a dar
maior tonicidade na musculatura oro-faciais. Brinquedos coloridos e
sonoros estimulam a visão, a audição e a coordenação de movimentos no
bebê. Exercícios específicos de equilíbrio como o uso da bola Bobath e
da prancha de equilíbrio também são importantes. As manobras realizadas
para mudanças de posição, estímulo da propriocepção ou ainda os
exercícios respiratórios constituem elementos básicos das terapias
individuais.
No entanto, o tempo que a criança passa com os
terapeutas é muito pequeno se comparado ao tempo que passa com a
família. Isto justifica a preocupação que os profissionais devem ter em
relação ao papel que desempenham para auxiliar no equilíbrio emocional
familiar e no relacionamento entre toda a família e a criança.
Antes de qualquer técnica específica de estimulação, a convivência
saudável com a criança deve ser uma das prioridades da estimulação, pois
é a partir dela que ocorre o desenvolvimento.
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