quinta-feira, 28 de julho de 2011

TERAPIA ABA




O que é a Terapia ABA (Applied Behavioural Analysis)?
     
       O Modelo ABA - Análise Comportamental Aplicada consiste na a aplicação de métodos de análise comportamental e de dados de científicos com o objectivo de modificar comportamentos. O autismo é um das várias áreas nas quais a análise comportamental tem sido aplicada com sucesso. As teorias subjacentes a este campo são da autoria de B. F. Skinner, tendo os primeiros estudos no autismo surgido no início da década de 60 com vários investigadores entre os quais se salientam Charles Ferster, Ivar Lovaas, Montrose Wolf and Todd Risley.



Desde esta altura, centenas de investigadores têm documentado a eficácia dos princípios e métodos ABA na construção/ desenvolvimento de um grande leque de competências importantes e na redução de problemas comportamentais em indivíduos com autismo e outras doenças, em todas as idades.

       Não é uma cura mas, segundo a evidência científica actual, é a terapia com melhores resultados. A evolução de cada pessoa através de um programa ABA depende de vários factores, nomeadamente: a) das capacidades e competências do sujeito; b) das suas necessidades; e c) da forma como o modelo é implementado.

       Os autênticos programas ABA para alunos com autismo combinam vários métodos cientificamente validados que são adaptados individualmente.

       Recorre-se à observação e à avaliação (em termos de frequência, intensidade e duração) do comportamento do indivíduo, no sentido de potenciar a sua aprendizagem e promover o seu desenvolvimento e autonomia. Envolve o ensino da linguagem, o desenvolvimento cognitivo e social e competências de auto-ajuda em vários meios, dividindo estas competências em pequenas partes/tarefas que são ensinadas de forma estruturada e hierarquizada. É dada muita importância à recompensa ou reforço de comportamentos desejados/adequados, ignorando/minimizando e redireccionando/desencorajando comportamentos inadequados.

Quando se deve implementar um programa ABA?

       Este tipo de intervenção deve iniciar-se o mais precocemente possível, o que permitirá que as crianças adquiram competências básicas, ao nível social e cognitivo, e reduzam os seus comportamentos estereotipados e disruptivos antes que estes se instalem. Contudo, é sempre útil adoptar esta metodologia, mesmo na idade adulta.

       Esta intervenção intensiva permite que uma percentagem significativa dos alunos possa acompanhar os seus pares, com mais ou menos apoio, nas escolas regulares.

Em que consiste um programa ABA?


       Um programa ABA consiste numa terapia intensiva que pode ir até 40 horas semanais, por um período de aproximadamente 2 anos, em contexto escolar e/ou doméstico. Os terapeutas (normalmente três técnicos por cada aluno) trabalham com a criança na proporção de um para um, durante cinco a oito horas por dia, cinco ou sete dias por semana.
     
       Inicialmente é realizada uma avaliação cuidadosa e aprofundada para determinar as competências que o aluno possui e as que estão ausentes. Para cada aluno, as competências a ser aumentadas e os problemas a ser reduzidos são claramente definidos em termos observáveis e mensuráveis através de observação directa, com verificação independente por um segundo observador.
     
       A definição dos objectivos da terapia/intervenção é feita com base nos dados da avaliação inicial, de um currículo base e da sequência de aquisição de competências em todos os domínios (aprender a aprender, comunicativo, social, académico, auto-cuidado, motor, brincar e divertimento, etc.), os quais são decompostos em pequenos passos, sendo estes desenvolvidos sequencialmente, ou dos mais simples para os mais complexos.
     
       O objectivo final é ajudar cada aluno a desenvolver competências que lhe permitam ser o mais independente e bem sucedido na sua vida possível.

       São utilizados vários procedimentos analíticos comportamentais para reforçar competências existentes e construir as que ainda não estão desenvolvidas. Isto envolve a explícita e cuidadosa planificação das actividades para que o aluno tenha múltiplas e repetidas oportunidades de aprendizagem e de treino de competências ao longo do dia. São utilizados abundantemente reforços positivos que são identificados individualmente durante a avaliação inicial e são permanentemente actualizados.

       Uma das formas de facultar oportunidades de aprendizagem é o adulto apresentar uma série de exercícios/actividades ao aluno. Cada um deles tem uma pista ou uma instrução específica, constituindo uma oportunidade para o aluno responder e dependendo da resposta o adulto aplicar a consequência que será o reforço, no caso de resposta correcta. Estes exercícios são chamados "discrete trials" e são essenciais para a construção de muitas competências importantes em alunos com autismo. É adoptada uma estratégia positiva e de sucesso, ou seja, os exercícios são adequados para que o aluno consiga responder o mais correctamente possível sentindo-se motivado a trabalhar, sempre que necessário com ajuda do instrutor. Os reforços, bem como as ajudas para a concretização das tarefas, vão sendo gradualmente reduzidos e eliminados uma vez que o que se pretende é a autonomia.

       Os programas que assentem exclusivamente nestes exercícios, frequentemente chamados "discrete trial training", não são o estado da arte, principalmente quando não são individualizados.

       A investigação demonstrou que a utilização isolada destes exercícios conduz à criação de competências que não passam das situações de ensino para as da vida diária. Por este motivo, programas efectivamente ABA misturam procedimentos "discrete-trial" com uma variedade de outros métodos ABA, incluindo situações de ensino criadas pela criança (chamadas ensino acidental - "incidental teaching"), análise de tarefas e encadeamento para ensinar competências que envolvam sequências de acções ou passos. É dado muito ênfase em tornar o ensino agradável, e envolver o aluno numa interacção social positiva.

       Nos programas ABA de qualidade, os procedimentos de alteração comportamental são especificados claramente. As instruções, as pistas, os reforços, os materiais e procedimentos que são utilizados para desenvolver/criar cada competência são adaptados individualmente a cada aluno.

       Existe um programa escrito ou um conjunto de instruções para ensinar cada competência; o analista comportamental responsável pelo programa treina todas as pessoas que trabalham com o aluno para implementar estes programas consistentemente. A família tem um papel fundamental na medida em que deve promover a generalização das competências adquiridas, nas sessões de ensino, a todas as situações do dia-a-dia, incentivando a criança a adaptar-se a novos contextos.

       Os comportamentos desadaptados (tais como comportamentos estereotipados, as auto-agressões, os comportamentos agressivos ou disruptivos) são explicitamente não reforçados, é feita uma análise funcional que avalia o que os despoleta e os momentos em que isso acontece (antecedentes), bem como o benefício que traz à criança (consequentes). São ensinados e reforçados comportamentos alternativos apropriados. O objectivo é dotar a criança de um leque de comportamentos mais adequados e funcionais em substituição dos que se consideram inadequados.

       Os progressos são avaliados frequentemente, usando métodos de medição e observação directos. Ao longo das sessões, são sempre elaborados registos rigorosos e detalhados, sendo os dados colocados em gráficos para permitir uma avaliação visual da evolução de cada competência e de cada comportamento desadequado, que fazem parte dos objectivos da terapia.

       Os dados são analisados regularmente pelo responsável do programa, de forma a que os erros de aprendizagem sejam detectados precocemente e sejam ajustados os métodos de intervenção rapidamente se o progresso não for satisfatório. O analista comportamental também observa os terapeutas e dá um feedback da sua actuação.

       O programa avança de modo gradual, ensinando competências básicas ao nível da autonomia, da linguagem, da imitação verbal e não verbal, do brincar com objectos até à linguagem expressiva e abstracta e à interacção com os outros nos mais variados contextos.

       Por fim, mas não menos importante, é que os programas ABA devem ser dirigidos por profissionais com formação avançada em análise comportamental e experiência supervisionada no desenho e implementação de programas ABA para alunos com autismo.

Referências
1) Gina Green, PhD, BCBA;  Applied Behavior Analysis for Autism; San Diego State University and the University of North Texas; Board of Trustees, Cambridge Center for Behavioral Studies
2) Leaf, R. et al (1999). A work in progress: behavior management strategies and a curriculum for intensive behavioral treatment of autism. New York: DRL Books
3) Andy Bondy, Beth Sulzer-Azaroff. (2002) The Pyramid Approach to Education in Autism. Pyramid Educational Products Inc


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