Reunir pessoas para um banquete é sempre especial. Já pensou reunir pessoas para brincar de comidinha feita de terra e outros elementos da natureza?!
Assim é a oficina Cozinha da Floresta, que realizamos periodicamente. E apreciamos ainda mais quando essa brincadeira acontece em local de natureza abundante. É nesse cenário que nós e as famílias – muitas crianças! – podemos coletar ingredientes frescos e variados para “nossos pratos”. E, enquanto a coleta acontece, as crianças observam o entorno, descobrem detalhes, pesquisam texturas para propor consistências, cores e formas que vão adornar seus menus.
Mas, na verdade, a brincadeira pode acontecer em qualquer lugar. Mesmo que não seja rico em ingredientes – sementes, frutos, flores e folhas – podemos fazer uma coleta antecipada. De qualquer forma, o que não podemos esquecer é que cada época do ano oferece tipos diferentes de ingredientes. E esse olhar para a diversidade também é faz parte do aprendizado e da brincadeira.
Com o espaço preparado, as crianças e suas famílias são convidadas a participar da Cozinha. Sao convidadas a brincar. E, por mais que já tenhamos feito esses encontros muitas vezes, sempre nos surpreendemos com as relações que surgem durante a atividade.
Os pequenos sempre chegam muito curiosos. Já pegam um potinho e uma colher de pau, enchem de terra, e começam a fazer misturas. Encanta-nos observar os gestos e a qualidade dos movimentos enquanto a criança está inteira e presente em sua ação.
Os maiores chegam, geralmente, recusando entrar na brincadeira. “Já sou grande para isso!”, dizem e se distanciam, mas observando a brincadeira. Aos poucos – e, às vezes, sem perceber -, se aproximam. Ajudam numa mexidinha aqui, colocam um ingrediente ali. Quando menos esperamos elas estão em meio a brincadeira, inteiras e experimentando tudo. “Passe aquela semente, por favor?!”. “Gostaria de um pouco mais dessa flor”.
E os adultos? Quando damos início à brincadeira e os convidamos todos para participar – “Vamos brincar?!” -, são eles que imediatamente levantam as mãos e dizem “SIM!”. Mas claro que existem aqueles que não se entregam logo no começo: observam, ficam por perto, vez ou outra pegam um ingrediente, o oferecem, ajudam a mistura-lo…
Por outro lado, há adultos que são coletores profissionais. Saem para explorar o entorno e voltam cheios de ingredientes. Começam fazendo isso para ajudar os filhos, mas logo estão contribuindo com os demais grupos.
Brincar de comidinha é um ato que, quase de forma uníssona, perpassa a cultura da Infância. Difícil encontrar quem, nesse período da vida, não brincou assim, não tenha se reunido com outras crianças para fazer banquetes de natureza e imaginação.
É incrível como essa também é uma atividade que desenvolve o senso estético pois, em geral, os pratos preparados são sempre bem decorados, explorando padrões e características de diferentes elementos, buscando uma beleza orgânica.
Preparar o alimento talvez tenha sido a principal atividade coletiva que deu origem à formação dos grupos humanos, quando estávamos aprendendo a ser Homo sapiens, há mais de 200 mil anos. Por isso que, brincar de fazer comida, juntos, em família, com amigos, permite às crianças vivenciar algo essencial de nossa experiência ancestral.
Fotos: Ana Carol Thomé
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