quarta-feira, 12 de julho de 2017

Uma criança saudável é espontânea, barulhenta, inquieta, emotiva e colorida



Uma criança não nasce para estar sentada, vendo televisão ou brincando com o tablet. 

Uma criança não quer estar calada o tempo todo.

Elas precisam se mexer, explorar, encontrar novidades, criar aventuras e descobrir o mundo que as rodeia. Elas estão aprendendo, são esponjas, brincalhonas natas, caçadoras de tesouros, terremotos em potencial.

Elas são livres, almas puras que tentam voar, não ficar de canto, amarradas ou com algemas. Não as façamos escravas da vida adulta, da pressa e da escassez de imaginação dos mais velhos.

Não as apressemos ao nosso mundo de desencanto, potencializemos a sua capacidade de se surpreender. Precisamos garantir que tenham uma vida emocional, social e cognitiva rica de conteúdos, de perfumes de flores, de expressão sensorial, de alegrias e de conhecimentos.

O que se passa no cérebro de uma criança quando brinca?

A brincadeira tem benefícios para as crianças em todos os níveis (fisiológico-emocional, comportamental e cognitivo) que não são novidade. De fato, podemos falar de diversas repercussões inter-relacionadas que ela oferece:

Regula o seu estado de ânimo e a sua ansiedade.

Favorece a atenção, a aprendizagem e a memória.

Reduz a tensão dos neurônios, favorecendo a tranquilidade, o bem-estar e a felicidade.

Magnifica a sua motivação física, e graças a isto seus músculos reagem motivando-as a brincar.

Tudo isto favorece um estado ótimo para a imaginação e a criatividade, ajudando-as a aproveitar a fantasia que as rodeia.

A sociedade vem alimentando a hiperpaternalidade, ou seja, a obsessão dos pais para que seus filhos alcancem habilidades especificas que garantam uma boa profissão no futuro. E como sociedade e educadores, nos esquecemos de que as crianças não têm valor segundo a sua nota escolar, e que não abrandando o nosso empenho de priorizar os resultados,estamos descuidando das habilidades para a vida.

O valor das nossas crianças é o de pequenas pessoas que precisam ser amadas independentemente de tudo, não se definem por suas conquistas ou por seus fracassos, mas sim por elas mesmas, únicas por natureza. Como crianças não somos responsáveis pelo que recebemos na infância mas, como adultos, somos totalmente responsáveis por corrigi-lo.

Simplificar a infância da criança, educar bem

A expressão “cada pessoa é única” é algo que costumamos dizer com frequência mas que ainda temos pouco internalizado. Isto se vê em um simples fato: estabelecemos uma série de regras para educar a todas as nossas crianças.

Realmente este é um erro muito generalizado e que não é nem um pouco coerente com o que acreditamos (que cada pessoa é única). Portanto, não se estranha que a confluência dos nossos valores e das nossas atitudes sejam conflitantes na criação.

Por outro lado, como afirma Kim Payne, professor e orientador norte-americano, estamos criando nossas crianças no excesso de, exatamente, quatro pilares:

Informação demais.

Coisas demais.

Opções demais.

Velocidade demais.

Estamos impedindo-as de explorar, refletir ou se libertar das tensões que existem na vida cotidiana. Estamos empanturrando-as de tecnologia, de brinquedos e de atividades escolares e extracurriculares, estamos distorcendo a infância e, o que é mais grave, estamos impedindo-as de brincar e se desenvolver.

Atualmente, as crianças passam menos tempo ao ar livre do que as pessoas que estão em prisões. Por quê? Porque as mantemos “entretidas e ocupadas” em outras atividades que achamos mais necessárias, procurando que fiquem limpos e não se sujem de barro. Isto é inaceitável e, acima de tudo, extremamente preocupante. Analisemos algumas razões pelas quais precisamos mudar isto…

O excesso de higiene aumenta a possibilidade de que as crianças desenvolvam alergias, bem como demonstrou uma pesquisa do hospital Gotemburgo, na Suécia.

Não permitir que brinquem ao ar livre é uma tortura que enclausura o seu potencial criativo e de desenvolvimento.
Mantê-los colados à tela do celular, do tablet, do computador ou da televisão é tremendamente prejudicial a nível fisiológico, emocional, cognitivo e comportamental.

Poderíamos continuar, mas realmente, neste ponto, acredito que a maioria de nós já encontrou inúmeras razões que mostram que estamos destruindo a magia da infância.Como afirma o educador Francesco Tonucci: “A experiência das crianças deveria ser o alimento da escola: sua vida, suas surpresas e suas descobertas. Meu professor sempre pedia que esvaziássemos os bolsos na sala de aula, porque estavam cheios de testemunhas do mundo exterior: bichos, cordas, figurinhas, bolinhas… Pois atualmente deveríamos fazer o contrário, pedir as crianças que mostrem o que levam nos bolsos. Desta forma a escola se abriria para a vida, recebendo as crianças com seus conhecimentos e trabalhando ao redor delas”.

Esta, sem dúvida, é uma forma muito mais sadia de trabalhar com elas, de educá-las e de garantir o seu sucesso. Se em algum momento nos esquecermos, deveríamos ter o seguinte muito presente: “Se uma criança não precisa entrar com urgência na banheira, é porque não brincou o suficiente”. Esta é a premissa fundamental de uma boa educação.

Fonte: A mente é maravilhosa

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