Pintar, ler, contar histórias, fazer artesanato, cantar e até fazer compras! Você sabia que essas atividades, quando feitas com a participação dos pais, ajudam o seu filho a ficar mais feliz e, ao mesmo tempo, contribui com o desenvolvimento das habilidades cognitivas e sociais? A conclusão foi apresentada por um estudo feito pelas Universidades Open e de Oxford, ambas no Reino Unido.
Ao acompanhar por quatro anos 800 casais, pais de crianças de 2 e 3 anos de idade, os pesquisadores observaram três frentes. Na primeira delas, mediram o quanto o engajamento com atividades artísticas e culturais afetavam no bem-estar mental. A segunda media que tipos de atividades eram importantes para a cognição da criança e, na terceira frente, quais elementos eram mais benéficos para o desenvolvimento social.
Entre as descobertas mais interessantes, os pesquisadores notaram que muito mais do que aplicativos ou programas de televisão ditos como educativos, tão comuns hoje em dia, as atividades que mais contribuem para a formação cognitiva são aquelas ligadas às artes plásticas. Pintura, desenho e artesanato, por exemplo, foram listados como as melhores maneiras de acelerar o desenvolvimento da coordenação motora da criança e de incentivar a criatividade.
O estudo mostrou que as crianças que tinham o hábito de cantar ou dançar com os pais eram mais desinibidas. Além disso, quanto mais contação de história e leitura em família, melhor era o desenvolvimento da fala e da conversação. “É claro que os pais não podem se envolver com seus filhos em todas essas atividades o dia inteiro, mas é encorajador saber que o tempo gasto lendo um livro junto com a eles, pintando ou cantando uma canção de ninar pode ajudar muito no desenvolvimento da criança”, escreveu no artigo de apresentação da pesquisa, Laurance Roope, um dos autores.
A neuropediatra Lara Cristina Antunes dos Santos, da UNESP de Botucatu, explica que as atividades relacionadas às artes desenvolvem tanto a parte cognitiva quanto a emocional. “A arte, no geral, se conecta às nossas emoções e pode auxiliar a entender as situações e a curar traumas, entre tantas outras coisas”, diz. De acordo com a especialista, é importante que os pais diversifiquem as atividades que oferecem aos filhos, desde que não seja uma imposição. “O tipo de atividade artística que mais desenvolve a cognição é aquele que a criança gosta mais”, diz.
A interação com os pais
Quase todas as atividades listadas acima fazem parte da grade escolar de crianças em idade pré-escolar. Porém, existe um motivo fundamental que explica por que seus benefícios são maiores quando praticadas em casa: o envolvimento dos pais. “Os pais devem ser parceiros nesse processo de aprendizagem. A participação deles nas atividades das crianças traz aproximação, melhora a comunicação da família, o engajamento, desperta a curiosidade e estimula o desafio”, diz a psicóloga e pedagoga Marta Ramos Cesaro, do Colégio Madre Alix, em São Paulo.
Compras: outra atividade importante
Além disso, apresentar coisas novas aos filhos contribui para aumentar o repertório em todos os sentidos. Quando você colocar uma música para a criança, por exemplo, em vez de simplesmente ouvi-la, você pode incentivá-la a apurar os ouvidos para escutar os diferentes instrumentos que compõem a melodia, como violão, bateria, baixo, violino. Pode também ajudá-la a entender o que aquela música está querendo dizer. De acordo com a especialista, um exercício como esses ajudam também a desenvolver a concentração e a atenção da criança.
Ao dar um livro na mão do seu filho, você percebe que ele balbucia palavras como se estivesse lendo. Se estiver na fase de alfabetização, ele o lerá de fato. Porém, nesse caso, a mediação dos pais é também fundamental, como explica Marta: “Para garantir que não seja apenas uma prática da leitura, o adulto pode ajudar a criança a entender as palavras, contextualizar a história e interpretar o texto. Quando a gente consegue trabalhar na mensagem daquele texto, o exercício fica muito mais rico e prazeroso para pai e filho”.
É a mesma coisa quando você leva seu filho ao cinema ou ao teatro. Um passeio como este por si só já é gostoso para a criança, mas você pode extrair o máximo dele tanto fazendo da preparação um momento especial – chame a criança para escolher com você o tipo de atividade cultural que deseja fazer – até a hora da saída, na qual você pode estimular a reflexão dela perguntando o que ela entendeu da história que acabou de ver e quais elementos fizeram com que ela gostasse ou não daquilo. A criança vai desenvolvendo o olhar, aprendendo a refletir e a prestar atenção nos detalhes. Pequenas conquistar como essas vão fazer uma diferença enorme lá na frente.
Você adota tática de guerrilha quando vai ao supermercado com seu filho? Pega tudo correndo e torce para que, mesmo depois de todos os combinados, ele não resolva colocar tudo no carrinho e dar um chilique porque não vai conseguir levar para a casa depois? Pode ser a hora de rever essa atitude.
A mesma pesquisa da Universidade de Oxford que fala sobre as atividades culturais, mostrou que o simples fato de levar seus filhos para fazer compras com você pode ser outro motivo para o desenvolvimento cognitivo dele. Isso porque, tanto em lojas quanto em supermercados, a criança se depara com muitos cenários diferentes (estímulos visuais, táteis e auditivos) e, ao ver os pais comprando ou negociando, tomam contato com noções de economia.
A psicopedagoga Marta reforça que isso só faz sentido se os pais se dedicarem a enriquecer a experiência da criança. “Quando o tempo está corrido e a mãe leva a criança porque não tem com quem deixar, o filho vai estar naquela função de atrapalhar. Mas, se ela dedica o tempo a explicá-lo a importância da pesquisa de preço, apresentar texturas novas e os valores nutricionais dos produtos que está comprando, por exemplo, aí é uma oportunidade para o desenvolvimento do senso crítico e da importância da escolha”, reforça.
A gente bem sabe que no mundo real, tão corrido e cheio de obrigações e trabalho, nem sempre você vai estar física e mentalmente disponível para oferecer o melhor de cada momento com as crianças. Por isso, o exercício aqui é pensar no “como”: como você gasta o tempo em casa com seu filho, como você apresenta coisas novas, como você deixa marcas na vida dele. Se as respostas não forem satisfatórias, é hora de mudar. Lembre-se de que só compreendemos as coisas que são significativas. E nunca é tarde para isso!
Fonte: Revista Crescer
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