sexta-feira, 3 de abril de 2015

Coluna do dia: Semana da Conscientização Mundial do Autismo e a importância da Intervenção Precoce




Aproveitando que estamos na semana da Conscientização do Autismo, nada melhor do que pensarmos em divulgar a importância de uma intervenção precoce para essas crianças. Mas para isso, é preciso que as pessoas conheçam algumas fases do desenvolvimento infantil e que muitas vezes passam despercebidas por falta de conhecimento dos pais, responsáveis e/ou cuidadores.

Autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) é marcado por algumas características comuns tais como: inabilidade para interagir socialmente; dificuldade com o domínio da linguagem para se comunicar; dificuldade com jogos simbólicos (imaginativos / metafóricos); e padrão de comportamento restritivo e repetitivo; enfim, autismo é um assunto muito delicado e é preciso “aceitar” que o filho pode estar apresentando ou se desenvolvendo “fora do padrão de normalidade”.

É verdade que nenhum pai ou responsável é preparado para isso, mas precisamos saber a importância de se identificar o quanto antes os primeiros sinais apresentados pelas crianças (filhos). A identificação prévia favorece seu desenvolvimento porque pode apresentar-se de formas diferentes; desde um Asperger, que poderá apresentar mínimos comprometimentos na fala e na inteligência, mas com alteração na linguagem contextual, ou até graus mais altos de Autismo, no qual a criança é incapaz de manter contato interpessoal, não ter linguagem verbal, além de ter atitudes agressivas.

Logo, o quanto antes os pais / responsáveis saírem do processo de “negação”, mais possibilidade a criança terá de se encontrar, se entender, se desenvolver, de acordo com seus próprios limites de aprendizagem social e linguístico. É imprescindível que os pais enxerguem o que seus filhos demonstram no dia a dia em seus pequenos gestos, tentativas de fala ou comportamentos diferenciados.

Como estamos na semana da Conscientização Mundial do Autismo, pensei em tentar resumir um pouquinho do que precisamos saber sobre este assunto para poder ajudar  e conscientizar a todos o que é o Autismo. Vamos lá!

Como afirmei anteriormente, o Autismo ou Transtorno do Espectro Autista é uma disfunção global do desenvolvimento, que afeta a comunicação e integração, fazendo com que o indivíduo se torne indiferente ao contexto social em que se encontra. É um transtorno que pode ou não estar associado a um comprometimento cognitivo. Segundo Drauzio Varela[1], os estudos iniciais consideravam o transtorno resultado de dinâmica familiar problemática e de condições de ordem psicológica alteradas, hipótese que se mostrou improcedente. A tendência atual é adquirir a existência de múltiplas causas para o autismo, entre eles, fatores genéticos e biológicos.

Até o momento não há nenhuma cura comprovada, porém pesquisas têm mostrado que as crianças com autismo respondem muito bem a uma intervenção precoce intensiva antes dos 05 anos. Já a terapêutica pressupõe uma equipe multi e interdisciplinar: tratamento médico com neuropediatra, fonoaudiológico, pedagógico e terapeuta ocupacional tornam-se fundamentais.

Dentre os profissionais citados acima, e diante da dificuldade de comunicação e o desenvolvimento da linguagem, todos comprometidos, a intervenção fonoaudiológica precoce nessas crianças torna-se indispensável por ser o fonoaudiólogo, o profissional habilitado a intervir nos distúrbios da linguagem. E é a partir dos estágios de desenvolvimento de linguagem da criança, que ocorrem entre 0 a 05 anos, que podemos identificar, antes mesmo dos 03 anos, estas alterações na comunicação.

Comportamentos observados no desenvolvimento da linguagem não-verbal (pré-linguístico), precursores da linguagem verbal (linguístico),  já deveriam estar desenvolvidos e presentes tais como por exemplo: o uso do apontar intencional, onde a criança aponta aquilo que deseja ainda que não consiga falar. Aos 11 meses, esta ação (apontar) já esta presente. Aos 18 meses, a criança já consegue organizar um pensamento e falar uma frase com duas palavras, demonstrando intenção em pedir algo (Bia papa); e a ausência da atenção compartilhada, onde as crianças buscam, com muito interesse, aprender com o outro e ter novas experiências. Em uma criança autista muitas vezes tão interesse se mostra inacessível perante a tentativa de buscar o outro, comprometendo bastante a sua comunicação social.

Sinais de dificuldades na capacidade de comunicação das crianças autistas são evidentes mesmo antes do período de aquisição da linguagem verbal (fala), mas passam despercebidos por alguns pais, pois, muitas vezes, estes só se atentam com a ausência da oralidade e da fala no momento em que colocam seus filhos na escola. Os professores, na maioria das vezes, são os primeiros a perceber que algo está fora do padrão. O contato social da criança com a turma revela ineficiências e/ou incapacidades. Diante disso, conversam com os pais, alertando-os quanto às diferenças. Muitos pais pensavam que seus filhos eram apenas “tímidos” ou “quietinhos”, principalmente quando não tem a experiência da paternidade ou conhecimento das etapas do desenvolvimento infantil.

No tratamento, deveremos traçar um plano, tanto para o autista, quanto para todos que estiverem ao seu redor, a partir de uma avaliação que irá nos indicar o melhor método para cada criança, pois, cada criança exige uma compreensão específica uma vez que os problemas de comunicação das crianças autistas variam de intensidade. Algumas poderão nunca vir a falar verbalmente, enquanto outras apresentarão um desenvolvimento verbal, mas a maioria apresenta a alteração da linguagem como aspecto característico, principalmente no que se refere ao aspecto pragmático, ou seja, saber o que, como e quando falar, de forma contextualizada. Na intervenção, serão trabalhadas as habilidades necessárias, ou seja, os aspectos onde foram apresentadas dificuldades durante a avaliação.

Diante disso, o tratamento fonoaudiológico será objetivado: fazer com que a criança utilize a comunicação funcional, ou seja, se faça entendida, seja por meio da fala (verbal); ou, quando a linguagem verbal não é possível, momentânea ou permanentemente, deve-se pensar junto à família a necessidade do uso de um sistema de comunicação alternativa promovendo assim o desenvolvimento da fala.

O sucesso do tratamento fonoaudiológico é observado a partir de pequenos sucessos, como o aumento na frequência dos comportamentos comunicativos não verbais ou verbais, seja ele; uma troca de olhar, um maior interesse em atividades e jogos, gestos, pequenas vocalizações, balbucios, fala que poderemos trabalhar com modulações e conduções quando apresentam a ecolalia (repetição da fala do outro). E é importante lembrar que o desenvolvimento da criança autista, não depende apenas do empenho dos profissionais que os acompanham, como também dos estímulos feitos pelos cuidadores no ambiente familiar.

A família e os demais participantes tem um importante papel nesse processo, por isso, é importante que busquem sempre estimular seus comportamentos comunicativos em diferentes contextos e lugares, tais como: estimular a brincadeira com animais de estimação ou visitar lugares onde possam interagir com outras pessoas respeitando sempre o tempo em que são capazes de estar nestes lugares. Começando aos poucos, lembrando que precisam adaptar-se a esta situação aos poucos e tornando parte assim de sua rotina.

Portanto, médicos, terapeutas e pais, unindo-se com um só propósito que vise o melhor desenvolvimento global da criança, somados a sociedade consciente de que a criança autista possui afeto, ela apenas possui um jeito “diferente” de ser e demonstrar assim como cada uma de nós…

“Somos todos diferentes!”

Profa Maria Paula Raphael




[1] http://drauziovarella.com.br/crianca-2/autismo/

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