quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

EUA: mulher é condenada a 15 anos por afogar o filho autista

Uma mulher foi condenada nessa segunda-feira, nos Estados Unidos, a pelo menos 15 anos de prisão por afogar o filho autista, 4 anos, na banheira em março do ano passado. Em dezembro, Patricia Corby, 37 anos, já havia se declarado culpada pelo assassinato do filho, Daniel, segundo informações do jornal U-T San Diego.

De acordo com o diário, parentes desesperados da criança ficaram revoltados com a mãe durante o julgamento. Duane Corby, o pai, chamou a mulher de “repugnante”. Durante a audiência, Patricia soluçava alto, com a cebeça baixa, e por vezes falava “pare, pare” em meio a comentários agressivos de membros da família.

O corpo de Daniel foi encontrado molhado e enrolado em um lençol no assento traseiro do veículo usado pela mãe para se dirigir a um posto policial de San Diego, onde ela confessou o crime.

Patricia Corby disse às autoridades que não tinha vida, porque todo seu tempo era dedicado aos cuidados com o filho. Eu seu testemunho, a mãe afirmou que mergulhou o filho na banheira até que a criança morresse. Familiares se disseram arrasados durante o julgamento.

Quando tinha um ano, foi diagnosticado que Daniel tinha um alto risco para o autismo, mas a família afirmou que ele começou a fazer progressos. O menino foi morto uma semana após completar quatro anos.
A advogada de Patricia, Mel Epley, da Defensoria Pública, afirmou que a cliente estava extremamente depressiva quando afogou o filho e que tentou cometer suicídio no mesmo dia, mas não conseguiu. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Confira lista com aplicativos para tablets Android usados para a estimulação de pessoas com Síndrome de Down

As fonoaudiólogas Adriana Fernandes de Souza Aquino e Priscila Gama Martins reuniram uma lista de aplicativos para o sistema Android. Vale ressaltar que todos os aplicativos abaixo são gratuitos.

Clique no nome do aplicativo para fazer o download.

Sound Touch Lite – Oferece estimulo visual e auditivo de animais. Trabalha conceitos, vocabulário, percepção e discriminação auditiva de sons onomatopáicos.

Panda Painting – Oferece estimulo visual de cenários. Estimulação de linguagem, conceito de cores, seqüência, coordenação motora.

Lulbaby for babies –  Aplicativos com três canções de ninar, com diferentes tempos de duração. Canções que estimula percepção auditiva, que também podem ser utilizadas para acalmar o bebê.

Daily Necessities – Aplicativo que estimula diferentes conceitos relacionadas a atividades diárias.  Consiste em trabalhar a discriminação visual de pequenos objetos localizados nas cenas.

Memo training -  Jogos da memória de ordem visual, auditiva, e audi-visual. Estimula memorização, atenção/concentração, analise síntese visual e auditiva.

Animal Paradise – Aplicativo com diferentes cenas da natureza, com animais. Estimulação da linguagem: conceitos de animais, discriminação e percepção auditiva dos sons onomatopaicos, associação/pareamento. Estimulação visual.

The Magical Puppet – Consiste em vestir um dos personagens. Estimula  percepção de esquema corporal e visual. O outro personagem move as partes do corpo com o toque, estimula noção de esquema corporal  de forma dinâmica e interativa.

Baby Show – Estimulação da linguagem, trabalhando com as estações do ano: primavera, verão, outono e inverno. Consiste em vestir adequadamente o ursinho, de acordo com a estação.

Bango Magic – Estimulação auditiva e coordenação motora.

Próxima Letra – Estimulação de sequencialização de letras. Jogo que trabalha a seqüência das vogais, tanto anterior, quanto posterior.

Baby Animal Sounds – Aplicativo que trabalha conceito de animais. Estimulação visual e auditiva de animais.

Baby Learns Fruits – Aplicativo que trabalha conceito de frutas. Diversos jogos, como jogo de associação, classificação, variando o grau de dificuldade.

Baby Learns Transport – Aplicativo que trabalha conceito de meios  de transportes: terrestres, aquáticos, aéreos. Quebra-cabeça dos transportes. Estimulação interativa.

Baby Soud School (animal) – Conceito de animais e dos respectivos sons onomatopaicos. Imagem real (foto) dos animais.

Animal Sounds -  Aplicativo com vários animais e insetos. Imagem real e seus respectivos sons. Estimulação áudio-visual e de linguagem

Natural Sounds – Estimulação auditiva e visual – sons da natureza, cachoeiras.

My Little Piano -  Estimulação auditiva, interativa de instrumentos musicais e as notas musicais. Estimula atenção/concentração.

Meu Joguinho da Memória Lite – Estimulação da memorização de animais e personagens.



terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Protocolo DAN!



Protocolo DAN, cujo nome vem da sigla para Defeat Autism Now (em inglês) ou Derrote o Autismo Já (em português), é um protocolo de diversas ações para o tratamento do autismo através de métodos diferentes dos abordados pela neurologia atual, através da biomedicina. Esse movimento iniciou-se nos Estados Unidos, pelo Instituto de Pesquisas sobre Autismo (ARI, na sigla em inglês), fundado em 1967 pelo médico e cientista PhD Bernard Rimland, autoridade no assunto e pai de um garoto com autismo. Uma das principais ações é a dieta totalmente isenta de duas proteínas: glúten e caseína, esta última presente no leite animal, conhecida como Dieta SGSC (sem glúten e sem caseína).

O ARI, que é uma entidade sem fins lucrativos, publica trimestralmente, desde 1987, um boletim chamado Autism Research Review International Newsletter, com os avanços biomédicos e educacionais na pesquisa do autismo.

Há dois nomes de referência no Brasil, uma médica em São Paulo ( Simone Pires ) e outra médica no Rio de Janeiro (Geórgia Fonseca).


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A aprendizagem de crianças com deficiências múltiplas

Andreia Pereira Gil, deficiente mútipla, balançando no pátio da EMEF Doutor João Alves dos Santos. Foto: Kriz Knack 

Andreia Pereira Gil, balançando no pátio da EMEF Doutor João Alves dos Santos. 
Foto: Kriz Knack 

Sensações. É por meio delas que as pessoas com deficiência múltipla aprendem sobre as coisas que estão a sua volta. A professora Carolina Bosco, especialista nesses casos, estimula a descoberta da sensibilidade com diversos tipos de toque e movimento, como numa recente cena vista na EMEF Doutor João Alves dos Santos, em Campinas, a 90 quilômetros de São Paulo. Ela dá a mão para Andréia equilibrar-se numa mureta. A menina apóia-se no seu braço para descer e as duas vão de mãos dadas até o pátio. A aluna abraça uma árvore e passa a mão sobre a casca. O contato arranca de Andréia um raro sorriso.

A cena não chamaria tanta atenção se não fosse o jeito diferente de ser da jovem. Ela gira a cabeça, baba e vive com o braço direito levantado. O grande desafio em relação a Andréia é criar um modo de comunicação para que ela reconheça lugares e pessoas. Foi a tarefa assumida por Carolina. A menina também conta com a ajuda de Carmen Sílvia Dias, sua professora da 2ª série, onde tem 30 colegas. Ambas procuram maneiras de explicar por que ela vai à escola e o que todos fazem por lá.


Carolina formou-se em Pedagogia com ênfase em Deficiência Mental na Universidade de São Paulo e é pós-graduada em Arte em Educação Especial pela Universidade de Paris. Ela já havia trabalhado com alunos com deficiência múltipla (associação de duas ou mais deficiências, como mental e física ou auditiva, visual e física), mas Andréia é a primeira que atende em escola regular. Ali, elas cumprem um cronograma, religiosamente, toda segunda, quarta e sexta-feira. É quando Andréia mexe com sucata, aprende a escovar os dentes, caminha pelo pátio da escola, sente a vibração da música colocando as mãos sobre um rádio portátil e brinca no balanço. "É um trabalho de reorganização corporal, percepção tátil e de volume", diz Carolina. Aos poucos, a menina aprende a lidar com o próprio corpo.


Carmen foi a única professora da escola que se dispôs a acolher Andréia. A menina está com ela desde a 1ª série. "No começo, parecia que seria impossível controlá-la. Ela levantava no meio da aula e mexia em tudo", diz. "Não sabia usar o tato para se comunicar e logo se cansava de ficar na carteira apalpando o alfabeto móvel." Por isso, a união do trabalho de Carmen e Carolina fez a diferença. "Uma criança com deficiência precisa de dois professores", afirma Carolina. "O de classe, que atua na área da aprendizagem de maneira geral, e o especializado, que trabalha na dos distúrbios." Por isso, enquanto Carolina desperta o lado comunicativo de Andréia, Carmen cria atividades para integrá-la à turma. Na roda da conversa, onde as crianças desabafam até sobre o desgosto de ser banguelas, Carmen abriu um espaço para elas interagirem com a colega surdocega. Como Andréia está aprendendo a usar o toque para reconhecer as pessoas, cada um pensou num sinal só seu que ela pudesse sentir. Daiane Gomes de Lira, 8 anos, sempre conduz a mão de Andréia para seus cabelos crespos: é a marca que a identifica. A professora Carolina, por sua vez, faz a menina pegar em seu anel.


Também é pelo tato que Andréia começa a entender a rotina da escola. "Para iniciar qualquer atividade, mostra-se o ambiente onde ela está", diz Carolina. Na sala de aula, no começo do dia, fazem-na apalpar a porta, a lousa e o giz. Aos poucos, a menina demonstra mais confiança em quem a toca. "Já permite com mais facilidade que movimentem sua mão direita", conta a professora.

Tempos atrás, ela puxaria o braço em sinal de rejeição. Afinal, habituou-se desde criança a mantê-lo levantado para mexer a mão em frente ao olho direito, talvez para perceber as luzes que a pouca visão permite. "Para ela, é como se fosse uma sensação de prazer", diz Carolina. "Nosso desafio é fazê-la baixar o braço para ela recuperar o equilíbrio do corpo", afirma o professor de Educação Física Renato Horta Nunes, que faz a aluna andar de mãos dadas com os colegas durante as aulas.


Prazer maior que esse Andréia só encontra no balanço da escola. Quando está nele, embalada, chega a gargalhar (mesmo sem nunca ter visto ou ouvido alguém fazer isso). Estica-se e joga-se para a frente e para trás, segurando a corda com firmeza. "É como se ela reordenasse o equilíbrio do corpo", explica Carolina. Um ano atrás, a menina chegava à escola no colo da mãe ou do irmão, ficava descalça e perambulava pelos corredores sem destino. Com a chegada de Carolina, Andréia já usa uma colher para comer, segura o copo ao tomar água, lava as mãos e fica sentada em sua carteira durante as aulas.

Fonte: Nova Escola


 

Saiba mais sobre a Deficiência Intelectual.


Segundo a Associação Americana sobre Deficiência Intelectual e do Desenvolvimento (AAIDD), a Deficiência Intelectual é caracterizada por uma limitação significativa no funcionamento intelectual e nos comportamentos adaptativos expressa em questões conceituais, sociais e nas atividades da vida prática. Esse funcionamento se origina necessariamente antes dos 18 anos. (AAIDD - http://www.aamr.org/)



A Deficiência Intelectual é resultado, quase sempre, de uma alteração na estrutura cerebral, provocada por fatores genéticos, distúrbios na gestação, problemas do parto ou na vida pós-natal. O grande desafio para os estudiosos reside no fato de que, em grande parte dos casos estudados, essa alteração não tem sua causa conhecida ou identificada, e muitas vezes não se chega a estabelecer com clareza a causa da deficiência.
 


Geralmente, a família procura por um diagnóstico, quando detectam algumas características que diferenciam sua criança das outras, como por exemplo: o atraso no desenvolvimento neuropsicomotor (a criança demora em firmar a cabeça, sentar, andar, falar) e a dificuldade no aprendizado (dificuldade de compreensão de normas e ordens, dificuldade no desenvolvimento escolar), entre outros.

ATENÇÃO:
Um único aspecto não pode ser considerado indicativo de qualquer deficiência.

Sempre que possível o diagnóstico deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e assistentes sociais.


Fonte: Apae São Paulo 


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Juiz de Fora ganha lei para tratar dos direitos dos autistas

Andréa Moreira
Repórter
Criança

Juiz de Fora agora possui uma legislação específica que trata sobre dos direitos das pessoas autistas. A Lei nº 12.697, publicada nesta quarta-feira, 21 de novembro, no Diário Oficial do Município, de autoria do vereador José Soter de Figueirôa Neto (PMDB), trata, desde a inclusão de crianças em escolas comuns, até o estímulo da inserção no mercado de trabalho. "Esta lei é um avanço para Juiz de Fora. Acredito que poucos municípios no país tratam especificamente desta questão," avalia o vereador.

O inciso VI do artigo 2º, trata da responsabilidade do poder público quanto à informação pública relativa ao transtorno e suas implicações, que de acordo com o autor da lei, é um dos pontos primordiais para a garantia dos direitos dos autistas. "Acredito que os órgãos públicos são responsáveis por disseminar os vários serviços e informações que a sociedade dispõe, pois somente conhecendo seus direitos é que as pessoas irão buscar os benefícios que o Estado oferece," avalia, lembrando que primeiramente o município precisa traçar um diagnóstico deste público, para então fazer um planejamento, e a partir daí criar políticas púbicas que atendam as necessidades dessas pessoas.


Entre as demais diretrizes da lei, está a participação da comunidade na formulação de políticas públicas voltadas para as pessoas com este tipo de transtorno; atenção integral às necessidades de saúde destas pessoas, objetivando o diagnóstico precoce, o atendimento e o acesso a medicamentos e nutrientes; inclusão dos estudantes autistas nas classes comuns de ensino regular e a garantia de atendimento educacional especializado gratuito a esses estudantes; incentivo à formação e à capacitação de profissionais especializados no atendimento à pessoa autista, bem como a pais e responsáveis.

A lei ainda trata dos direitos dos autistas, diagnóstico, atendimento, tratamento e possíveis internações. De acordo com o texto, os recursos necessários para assegurar o atendimento apresentado na lei serão provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

Dois artigos vetados

Dos oito artigos da lei, dois foram vetados pelo prefeito Custódio Mattos (PSDB). O artigo 5º tratava sobre o horário especial concedido ao servidor público municipal que tenha sob responsabilidade e cuidados, cônjuge, filho ou dependente com autismo. Entretanto, o prefeito destaca que o artigo 15 da Lei Orgânica do Município estabelece que o servidor público, legalmente responsável por pessoa deficiente em tratamento especializado, deverá ter sua jornada de trabalho reduzida, conforme dispuser a lei. Então, Mattos entende que o horário especial proposto tem sua eficácia limitada. "Este veto me incomodou, pois acredito que as duas leis se somam e completam," explica Figuerôa.

Já o outro artigo vetado solicitava que o poder público, através da Secretaria de Saúde (SS), garantisse um centro de reabilitação e habilitação, próprio ou conveniado, com uma equipe mínima constituída de 11 profissionais. Figuerôa acata a decisão do prefeito: "como legislador, sei que não posso criar gastos para o município. Mas na verdade, quando criei este artigo, eu tinha a intenção de provocar uma discussão nos órgãos públicos sobre a criação de um centro que atenda a autistas," afirma o vereador. A lei já está em vigor desde a última terça-feira, 20.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Mãe de jovem com Down denuncia escolas que negam matrícula

Fernando Vivas | Ag. A TARDE

Menina corre o risco de não estudar em 2013

Quase três meses após A TARDE ter denunciado, em  novembro passado, as dificuldades de pais de estudantes com  deficiência em conseguir vagas em escolas particulares de Salvador, a administradora Daniela Ribeiro formalizou ontem denúncia, junto ao Ministério Público Estado da Bahia (MP-BA), contra cinco unidades de ensino que rejeitaram a matrícula da filha  Giovana, 13, que tem síndrome de Down.

Após a denúncia, um promotor da infância irá analisar o caso. Mas Daniela relatou que já procurou sete escolas e apenas duas aceitaram a matrícula de Giovana. "As outras disseram que a cota de inclusão já tinha acabado. Quero ter o direito de escolher uma escola para minha filha estudar, assim como todas as crianças. Não quero apenas poder escolher aquelas que aceitam a matrícula", desabafou a mãe da garota.

Segundo ela, uma das escolas disse estar com todas as turmas lotadas e que por isso não tinham vagas. "Outra mãe conheceu meu caso e cedeu a vaga do filho para Giovana. Mesmo assim, continuaram recusando a matrícula", completou. A promotora e coordenadora de Apoio Operacional à Educação do Ministério Público, Maria Pilar Maquieira, ressalta que a Constituição Federal, no Artigo 205, garante a educação como um direito sem distinções.

"Toda criança tem o direito de ingressar numa escola regular. As crianças devem ser ensinadas a conviver com as diferenças", reiterou. Segundo a promotora, o MP-BA realizará, até o final deste mês, uma reunião com o Sinepe, Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), secretarias estadual e municipal da educação e entidades que representam pessoas com deficiência para discutir a questão.

"É um tema muito amplo e todos terão oportunidade para opinar. A escola precisa se preparar para receber estes alunos, oferecendo uma diversidade de recursos que favoreçam o aprendizado de todos", finalizou.

A reportagem procurou o Sindicato das Escolas Particulares de Salvador (Sinepe), via telefone, para se pronunciar sobre o caso, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

Ilegalidade - A Lei 7.853, de 1989, especifica, no Artigo 8º, que recusar a inscrição de um aluno em qualquer curso, público ou privado, por motivos derivados da deficiência é crime. A lei estabelece pena de reclusão de 1 a 4 anos para o diretor ou responsável pela escola, além de multa.

Na Bahia, apenas 10,9% dos 45.853 alunos com deficiência matriculados são de escolas privadas, segundo o Censo da Educação Básica de 2011 do Ministério da Educação. No Brasil, esta porcentagem  é de  21,7%.


Venha debater conosco sobre o tema no Seminário "Inclusão e Mediação Escolar 2013 | Criando alternativas para alunos com deficiência", no dia 16 de março de 2013, no Rio de Janeiro.
 

Aumento de crianças especiais na rede pública expõe carências


Inclusive - sala de aula vazia.

De 2003 para 2011, o número de alunos com deficiência ou doenças crônicas, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação cresceu 164%. Segundo o Ministério da Educação, em 2003, 28% dos alunos que precisavam da educação especial estudavam em classes comuns e o restante, em classes especiais. Em 2007, o percentual desses alunos incluídos nas classes regulares passou para 54% e, no ano passado, para 74%, com 752 mil estudantes inscritos.

O número de escolas de educação básica com matrículas de estudantes que precisavam da educação especial cresceu 615%. Para pedagogos e especialistas, o aumento reflete a maior inclusão de grande parte desse grupo no ambiente escolar. Antes, esses estudantes viviam confinados em casa ou em escolas especiais. A chegada desses alunos na rede pública também revela as carências e preconceitos de quem lida com esse público.

A pedagoga Glória Fonseca Pinto trabalha com crianças e adolescentes com doenças crônicas e deficientes há mais de dez anos no Rio de Janeiro. Segundo ela, para incluir esse grupo na escola não basta apenas a matrícula. ”O sistema precisa se preparar melhor para acolher essas crianças com mais qualidade. As escolas precisam entender que precisam se adaptar a essas crianças e não o contrário. Existem muitos exemplos bem sucedidos de crianças com comprometimentos que conseguem se formar e ganhar muita independência”.

Ela lamentou o fato de diversas escolas ainda recusarem esse estudantes. ”A criança especial pode e deve frequentar uma escola regular, mas infelizmente não é toda a escola que a aceita por não ter currículo, não dispor de rampa e de material humano. Mas não existe receita de bolo e as escolas precisam se predispor a aceitar essas crianças”.

No Rio de Janeiro, em um ano, esse grupo de estudantes aumentou 15% na rede estadual, de acordo com a Secretaria Estadual de Educação (Seeduc), com 3 mil alunos da educação especial no universo de 1 milhão de inscritos na rede estadual.

Para a professora Márcia Madureira, da equipe da Coordenação de Inclusão Educacional da Seeduc, o incremento na entrada dessas crianças e adolescente reflete um movimento de inclusão por parte da rede de ensino, mas traz enormes desafios. ”O aumento do fluxo é um bom sinal e são muitos os desafios, mas estamos tentando ampliar os serviços para atender a essa demanda, como transformar todas as escolas acessíveis para cadeirantes”.

Segundo a Secretaria Estadual de Educação, 3.564 alunos com deficiência ou doenças crônicas foram inscritos na rede estadual de ensino no 1º semestre de 2012. São aproximadamente 200 Salas de Recursos que oferecem Atendimento Educacional Especializado (AEE) aos alunos com necessidades especiais e cerca de 150 profissionais atuam nestas salas.

Para a coordenadora do Núcleo de Apoio a Projetos Educacionais e Culturais, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Magdalena Oliveira, as escolas do país não estão estruturadas para receber as crianças e adolescentes com deficiência. ”Com cerca de 40 alunos, é óbvio que a professora não terá estrutura para atender essa criança com deficiência. Uma escola capaz de receber uma criança com deficiências deveria ter uma fisioterapeuta motora, uma fisioterapeuta respiratória, uma fonoaudióloga, uma psicomotricista, uma terapeuta ocupacional, além de um psicólogo para poder dar apoio ao corpo docente e às crianças”.

Magdalena ressaltou que a exclusão dessas crianças e adolescentes do ambiente escolar prejudica seu desenvolvimento, pois ficam isoladas do convívio social. ”A escola é o único lugar onde a gente começa a vida tendo que dar conta de ter que conviver com os amigos, aguentar a pressão dos professores e dos amigos. Isso dá para a criança uma independência e uma maturidade emocional que a gente enquanto mãe não consegue dar”. A pedagoga lembrou que a convivência das outras crianças com esse grupo também é frutífera, pois fortalece o respeito às diferenças.

Fonte: Agência Brasil

Irmãos superdotados superam falta de recursos e incentivos no Distrito Federal


Em Ceilândia, uma das regiões com mais alto índice de violência do Distrito Federal, Sandra e Valdemir Rodrigues Barros têm um desafio diferente dos normalmente enfrentado pelos pais. Desde que o filho mais velho, Jean, nasceu, há 12 anos, tiveram de aprender a lidar com crianças curiosas, precoces e extremamente inteligentes.

Jean andou com nove meses de vida, começou a falar na mesma época e, aos 3 anos, já lia com fluência. Adorava ganhar cadernos de presente para desenhar – as folhas vazias acabavam em dois dias, repletas de belas figuras. Os pais se revezavam entre se espantar com a precocidade do menino e se orgulhar da capacidade e inteligência da criança.

Mesmo sem muitos recursos financeiros ou conhecimento especializado, os pais buscaram estimular o filho como podiam. Davam brinquedos pedagógicos, gibis e livros para colorir. “Ele sempre teve facilidade para absorver informações. Por isso, eu sempre procurei conversar muito com ele, ensinar o que eu aprendi”, conta a mãe orgulhosa.

Na segunda série da educação infantil, a professora chamou Sandra. Achava que Jean Michel não deveria estar naquela turma. “Ela disse que ele estava muito avançado em relação às outras crianças de 4 anos e me explicaram que seria melhor se ele fosse adiantado”, conta. Jean foi para a 1ª série do ensino fundamental.

O resultado foi ainda melhor. Quanto mais era estimulado, mais aprendia. Não teve problemas de adaptação com os colegas. Por recomendação da escola, Jean foi encaminhado ao serviço especializado em identificar talentos e habilidades de cada um, oferecer atividades para estimulá-las e acompanhar as famílias das crianças.

Na sala de recursos desde 2009, Jean foi diagnosticado como uma criança superdotada. Ele participa de encontros semanais junto com outras crianças que também têm altas habilidades e, desde então, já escreveu um pequeno livro, ganhou um concurso nacional de poesia e duas medalhas de bronze de diferentes edições da Olimpíada Brasileira de Astronomia.

Diagnóstico difícil
A família de Jean faz parte de uma minoria no País em todos os sentidos. Primeiro, porque poucos estudantes superdotados são identificados nas escolas brasileiras. Menos de 10 mil alunos têm superdotação de acordo com os dados do Censo Escolar. Além disso, nem todos recebem atendimento diferenciado como Jean.

Com a ajuda das psicólogas, Sandra e Valdemir puderam compreender melhor o que significava todo o talento de Jean. Conseguiram ajudar a identificar a mesma superdotação no filho caçula, Mizael, de 7 anos, que seguiu os passos do irmão. Começou a ler na mesma época que ele, pulou uma série, adora desenhar e pretende tocar bateria no futuro.

Sandra, que não trabalha fora de casa, acompanha todas as tarefas dos meninos. O pai, que é cobrador de ônibus, também. Os dois se preparam para enfrentar o desafio de ter dois superdotados em casa, já que Mizael também foi diagnosticado.

“A gente é só orgulho. Mas sempre falamos que não podem deixar a sabedoria subir à cabeça e fazer eles se sentirem melhores que os outros. Eles têm de servir de exemplo, ainda mais em um lugar tão cheio de problema como o que a gente vive”, comenta a mãe.

A pedagoga Renata Rodrigues Maia-Pinto, que acabou de concluir uma tese de doutorado sobre o tema no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), afirma que ainda é muito difícil identificar as crianças com superdotação. Os professores não estão preparados para perceber os sinais e não há psicólogos nas escolas.

Segundo ela, algumas características são semelhantes nos superdotados. Mas nem todas as crianças apresentam todas elas e o diagnóstico pode ser de difícil conclusão. “Em geral, eles têm notas muito altas na escola, têm um interesse quase obsessivo em alguns temas, são muito criativos, têm fluência verbal e de ideias”, diz.

Jogados à própria sorte
A pesquisadora Renata Maia critica a falta de apoio do governo e da iniciativa privada aos projetos de suporte aos superdotados. “Há potencial para oferecer um bom atendimento, mas os professores são muito desassistidos, não têm apoio financeiro e nem político. Esses talentos podem se perder, desperdiçados. Essas crianças são largadas à própria sorte”, afirma.

Uma das experiências vividas por Jean exemplifica a afirmação de Renata. Na última edição da olimpíada de Astronomia, ele não conseguiu se preparar para a prova. Em casa, não tem livros sobre o tema. Também não tem internet. A escola, que também não tem obras de Astronomia na biblioteca, passou meses em greve. Com isso, os encontros foram suspensos.

“Uma semana depois que as aulas tinham voltado, a professora disse que tinha de aplicar a prova. Falou que quem quisesse podia fazer e eu fiz”, conta. Jean apostou no conhecimento que já tinha adquirido e conseguiu uma medalha de bronze na competição. “A professora ficou surpresa quando eu ganhei”, diz, tímido.

A mãe, Sandra, gostaria de poder oferecer muito mais aos filhos. Para o ano que vem, ela conseguiu uma vaga em um curso de inglês gratuito para ele. Queria poder colocá-lo em uma escola de música em que pudesse aprimorar as habilidades para tocar teclado e cantar. Além disso, sonha em poder oferecer aulas de bateria e futebol a Mizael.

“A gente gostaria de poder investir mais neles, oferecer mais. Infelizmente, tudo envolve dinheiro e aí dificulta”, desabafa a mãe. Sandra admite que, no início, não compreendeu muito bem o que o filho fazia na sala de recursos. Agora, defende o espaço, que também será frequentado por Mizael. “Lá ele consegue focar no que gosta, se estimula”, diz.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Uso da neurociência é o próximo desafio dos psiquiatras, diz médico brasileiro

Não é exagero dizer que o gaúcho Luis Augusto Rohde, 47, é o psiquiatra mais influente do Brasil. 
 
Se ainda não o é, pode passar a ser a partir de maio de 2013, quando sai a nova edição do DSM, o Manual de Diagnósticos e Estatísticas, publicação considerada a bíblia dessa especialidade médica. 


Rohde foi o único brasileiro convidado para a força-tarefa da APA (Associação Psiquiátrica Americana) que revisou os critérios de definição dos transtornos mentais. 


A transição da quarta para a quinta edição do manual, com lançamento previsto para maio, não foi nada fácil. Mudanças do DSM-4 para o DSM-5 atraíram críticas de psicólogos e familiares de pacientes e foram alvo do lobby da indústria farmacêutica. 


Sob pressão, sem tempo e com orçamento limitado, psiquiatras recuaram de algumas propostas de mudança. 


Rohde, professor titular de psiquiatria da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), atuou num dos setores mais controversos da força-tarefa: o que cuidou do "transtorno do deficit de atenção por hiperatividade", grupo acusado de inflar artificialmente a epidemia desse problema mental em crianças. 


O psiquiatra, porém, argumenta que o novo manual está mais coerente e confiável. 


Em entrevista à Folha, Rohde também explicou por que o DSM-5 ainda não traz a "mudança de paradigma" que muitos cientistas desejavam: a de tornar a psiquiatria uma especialidade médica mais baseada em biologia. 



Jefferson Bernardes/Folhapress
O psiquiatra Luis Augusto Rohde, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre
O psiquiatra Luis Augusto Rohde, no Hospital



  de Clínicas de Porto Alegre


Folha - Como um manual feito pela Associação de Psiquiatria Americana vai influenciar o atendimento à saúde mental no Brasil?

Luis Augusto Rohde - O sistema classificatório oficial no Brasil é a CID (Classificação Internacional das Doenças), da Organização Mundial da Saúde, que está na sua décima versão.

Está atualmente em processo de revisão, com a próxima versão prevista para 2015. Na prática clínica de saúde mental, então, o DSM-5 não terá impacto direto sobre o psiquiatra e o médico de família que atende casos psiquiátricos ou neurológicos.

Entretanto, em todos os serviços universitários e naqueles que trabalham com pesquisa em saúde mental no Brasil, o DSM é mais utilizado que a CID. É nesses setores que o impacto vai se dar inicialmente.

Como esses serviços são formadores de profissionais da área de saúde, os conceitos vão sendo incorporados à prática deles, embora eles tenham também que respeitar os critérios da CID. 


Existe um esforço para que a CID passe a seguir os critérios do DSM?

Sim. Existe uma decisão preliminar por parte da CID de que eles não vão mais desenvolver um manual com diretrizes clínicas ou critérios de diagnóstico para cada doença.

Eles vão, na verdade, apresentar protótipos para cada doença. São descrições para que o clínico possa ver quanto o caso que ele está atendendo se assemelha àquela diretriz.

Os critérios objetivos de diagnóstico ficam, então, restritos ao DSM. Existe inclusive um comitê de "harmonização" dentro da CID para tentar emparelhar o máximo possível os critérios dos dois sistemas. 


O DSM-5 desistiu de criar algumas novas categorias, como o "transtorno da regulação do humor e do comportamento" [que busca sintomas de depressão bipolar na infância] e a "síndrome do risco de psicose" [que busca sintomas de esquizofrenia na infância]. Os critérios para diagnosticar esses males falharam nos testes com pacientes?

Primeiro é preciso notar que houve uma mudança no processo de revisão.

No DSM-4, os testes de campo tinham buscado a validade do diagnóstico, mas no DSM-5, por questões logísticas e financeiras, os testes foram restritos a dois outros aspectos.

Um deles era avaliar a confiabilidade dos critérios para teste-e-reteste. Isso é feito para confirmar se um conjunto de critérios resulta no mesmo diagnóstico ao ser aplicado em um paciente em dois momentos diferentes.

O outro aspecto era avaliar a utilidade clínica do diagnóstico. Precisávamos saber se os critérios de diagnósticos propostos pelo comitê seriam palatáveis e clinicamente adequados nas mãos de um psiquiatra clínico com treinamento usual.

No final dos testes, alguns diagnósticos apresentaram confiabilidade muito baixa. Além dos dois que mencionaste, também não se qualificaram o "transtorno misto de ansiedade e depressão" e a "autoagressão não suicida".

Agora essas categorias provavelmente irão para a seção 3 do manual, designada àquelas que precisam de mais dados para que possam ser ser consideradas diagnósticos psiquiátricos.

O diagnóstico do "transtorno da regulação do humor e do comportamento" teve uma confiabilidade modesta --um grau acima da ruim--, mas será mantido, em função da qualidade de pesquisa que já existe sugerindo a validade do diagnóstico.

Isso leva em conta que existe um grupo de crianças nos EUA e em outros países que estão recebendo diagnóstico do "transtorno do humor bipolar", mesmo sem ter uma característica essencial, a episodicidade --a alternância de fases com sintomas maníacos e depressivos.

E existe hoje um grupo de crianças com outros sintomas, mas sem a episodicidade, que acabam sendo diagnosticadas como tendo transtorno bipolar "sem outra especificação" [diagnóstico feito por exclusão].

A partir de agora, essas crianças recebem um espaço dentro do sistema classificatório porque elas claramente têm um quadro psiquiátrico grave que requer atenção. 


Os critérios para diagnosticar crianças com TDAH (transtorno do déficit de atenção por hiperatividade) foram muito criticados. O receio é que eles ampliem o que seria uma falsa epidemia e que crianças saudáveis passem a ser medicadas com o estimulante ritalina. O que muda no DSM-5?

Nessa área eu tive, de fato, uma participação direta no processo. Em primeiro lugar, posso dizer que sempre que se pensou em qualquer reformulação dos critérios de diagnóstico para TDAH, houve uma preocupação com a explosão da prevalência, que foi chamada de "epidemia".

Algo que precisa ficar claro é que TDAH é um conceito dimensional na população. Não existe um divisão entre o grupo dos "atentos" e o grupo dos "desatentos".

O transtorno é um conceito gradual, como o de altura ou pressão arterial. O que fazemos com a TDAH é colocar um ponto de corte a partir do nível de intensidade em que os sintomas causam prejuízo funcional na vida do indivíduo.

Houve duas principais modificações no DSM-5 que podem impactar na prevalência do transtorno.

A primeira é com relação ao início dos sintomas. O DSM-4 exigia que prejuízos funcionais causados pelos sintomas do TDAH estivessem presentes na vida indivíduo antes dos sete anos de idade para o diagnóstico ser dado.

O que temos visto, porém, é que existe um grupo significativo de crianças --principalmente aquelas com predomínio da desatenção sobre hiperatividade e impulsividade-- nas quais os sintomas só ficam evidentes quando entram na escola, porque é na sala de aula que existe uma demanda atencional mais clara.

O que acontece é que mesmo com essas crianças tendo um quadro de TDAH com predomínio de desatenção, mesmo tendo um perfil de comorbidade similar, mesmo tendo prejuízo na vida tão grande quanto aquelas que manifestavam sintomas antes de sete anos, mesmo tendo resposta similar ao tratamento, mesmo tendo histórias de família similares, elas acabavam ficando de fora do diagnóstico do TDAH.

Além disso, quando se faz o diagnóstico em adultos, é muito difícil que um adulto de 40 anos se lembre exatamente se tinha ou não sintomas antes dos sete anos.

Em estudos como o "National Comorbidity Survey Replication", Ronald Kessler avaliou o diagnóstico do TDAH em adultos e demonstrou que em 96% das vezes o diagnóstico estava presente antes dos 12 anos.

O que o comitê fez foi deslocar a idade mínima de início dos sintomas de 7 para 12 anos.

Outro trabalho importante foi publicado no periódico da AACAP (Associação Americana de Psiquiatria da Criança e do Adolescente) por Guilherme Polanczyk, que foi meu aluno de doutorado e hoje é professor da USP.

Ele fez uma grande avaliação populacional na Inglaterra e mostrou que o deslocamento do critério de idade de início dos sintomas de 7 para 12 anos não implicava num aumento substancial da prevalência.

A afirmação de que vai haver uma explosão no número de diagnósticos não é correta.

É possível que a prevalência aumente um pouco, mas isso será produto da detecção correta de um grupo de crianças que, até então, estava excluído da possibilidade do diagnóstico mesmo tendo um quadro claro de TDAH com prejuízo funcional.

A AACAP inclusive criticou a extensão do limite para 12 anos, porque eles queriam que expandíssemos para 18 anos.

Nós tomamos uma medida conservadora, pensando na questão da explosão dos diagnósticos, e mantivemos o limite do critério em 12 anos, que era aquele mais bem sustentado por evidências.

A segunda alteração está relacionada à possiblidade prevista pelo DSM-4 de excluir o diagnóstico do TDAH quando a criança é diagnosticada também com autismo ou outros tipos de TGD (transtornos globais do desenvolvimento).

Vários trabalhos populacionais, porém, mostraram que há crianças autistas que apresentam, sim, sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade num grau causando prejuízo suficiente para merecer um diagnóstico de TDAH conjunto.

Essas crianças respondem bem às medicações e intervenções indicadas para TDAH, mas não podiam recebê-las porque o DSM-4 impedia que elas se qualificassem para o TDAH e autismo ao mesmo tempo. Isso foi corrigido agora.

Pode ser que a prevalência aumente um pouco, mas isso ocorrerá em razão da inclusão de um grupo que claramente necessita do diagnóstico para receber o atendimento adequado em países em desenvolvimento onde a indicação do tratamento está vinculada ao diagnóstico. 


Houve muita mudança nos critérios para diagnosticar o autismo? Pais temem que seus filhos não sejam mais considerados portadores de um transtorno e percam o direito a assistência médica.

Primeiramente, é preciso entender que o processo de mudança não foi feito rapidamente. Cada grupo de trabalho teve reuniões por teleconferência, quase toda semana, durante quase três anos, além de vários encontros pessoais.

Uma revisão da literatura sobre esses transtornos foi feita dentro de cada grupo de trabalho. As decisões não foram tomadas sem embasamento científico.

No autismo, a ideia foi a de que o transtorno pudesse ser compreendido mais sob uma perspectiva dimensional, assim como o TDAH. Em vez de usar categorias claramente distintas, usamos um "espectro" autista e com isso abandonamos nomenclaturas que tratavam o problema como diferentes transtornos.

A divisão era entre síndrome de Asperger, autismo, transtorno desintegrativo... Agora a nomenclatura vê "transtornos do espectro autista".

No periódico da AACAP, Fred Volkmar mostrou que algumas dessas crianças, principalmente aquelas com diagnóstico de TGD sem outra especificação, poderiam ficar fora do diagnóstico.

O impacto desse trabalho gerou muito debate, alimentado pela preocupação de pais de crianças com Asperger que temiam que seus filhos não se qualificariam mais para o diagnóstico. Mas isso não é verdade.

Um artigo do grupo de trabalho de autismo do DSM-5 mostrou que, na verdade, essa constatação não tinha amparo.

De qualquer forma, o resultado de toda a discussão foi manter a ideia do transtorno do espectro autista, mas levando em conta que aquelas crianças que já tem um diagnóstico anterior de TGD não especificado ou síndrome de Asperger pudessem ser incorporadas.

A ideia não é excluir crianças do diagnóstico, mas ter uma compreensão mais real, mais moderna, dos transtornos autistas e do seu espectro. 


O receio de que crianças com Asperger deixem de se qualificar como portadoras de um transtorno, então, não se justifica?

A ideia geral é que isso não aconteça, mas vamos precisar de mais trabalhos para ver efetivamente o desempenho dessa categoria de transtornos do espectro autista, para ver se ela está sendo tão inclusiva quanto necessário.

A razão dessa questão mais restritiva é também o diagnóstico muito frouxo de TGD que é feito em muitos locais.

Há 15 anos, nós tínhamos uma prevalência de 4 a 8 crianças autistas por 10 mil nascimentos. Hoje se fala em 1 criança com TGD a cada 200 ou 300 nascimentos.

O que o grupo de trabalho procurou fazer foi delimitar de maneira muito clara o que é o espectro autista e riscar essas fronteiras de forma adequada para evitar diagnósticos frouxos de transtorno autista, Asperger e outros TGDs, que são diagnósticos graves para se aplicar a uma criança. 


O DSM-4 levou muito tempo para ser revisado. A APA vai atualizar o DSM-5 com mais frequência?

O presidente e o vice-presidente da força-tarefa --David Kupfer e Darrel Regier-- dizem que o DSM-5 vai ser um documento "vivo", porque não faz sentido esperar 29 anos para os sistemas classificatórios passarem por revisões.

Mas, para explicar a razão dessa demora, é preciso entender uma outra coisa.

Eu e muitos outros colegas tínhamos uma crítica com relação ao processo. Quando entrei no esforço de revisão do DSM, eu tinha o desejo e a fantasia de que seria possível ter uma modificação de paradigma na forma de se fazer diagnóstico psiquiátrico.

Nós queríamos a inclusão de marcadores neurobiológicos [sinais físicos do funcionamento do cérebro e do sistema nervoso] na prática clínica.

Queríamos aproximar a psiquiatria de um estágio de desenvolvimento onde está a oncologia, por exemplo. Então, o desejo entre 2000 e 2005, quando entramos no processo, era que, em algumas situações, o diagnóstico pudesse se basear em marcadores neurobiológicos.

O que aconteceu foi que, ao revisar o que existia de evidência científica dentro da área de psiquiatria, constatamos claramente que ainda não estamos prontos para uma mudança de paradigma.

Isso gerou na comunidade científica uma certa sensação de frustração.

Mas foi possível, porém, fazer algo extremamente importante: analisar o que poderia ser melhorado nos critérios diagnósticos e revisá-los à luz da medicina baseada em evidência, para torná-los mais válidos. Isso levou em conta tudo o que foi feito de pesquisa durante esses 29 anos.

O problema é que não faz sentido esperar tudo isso para modificar um sistema classificatório. Então, é importante agora que o DSM tenha essa flexibilidade e essa agilidade maiores.

Quando houver um grupo de dados consistente, baseado em evidências, mostrando que um critério não está adequado, é importante que essa modificação não tenha de esperar pelo processo de revisão de todo o manual para ser implementada. 


Uma crítica comum de psicólogos é que a falha em usar a biologia para diagnósticos sinaliza um momento de crise na psiquiatria?

Na verdade, evoluímos bastante na compreensão dos aspectos neurobiológicos genéticos e fenotípicos [características observáveis] dos transtornos mentais.

Quando analiso um grupo de crianças com TDAH e as comparo um grupo de crianças com desenvolvimento típico, depois as comparo com um grupo com transtorno do espectro autista, consigo ver aspectos neurobiológicos, de neuroimagem, genéticos e de resposta a tratamento que são diferentes entre os grupos.

O que ainda não conseguimos fazer é a tradução dessas diferenças de grupo para um indivíduo específico, a ponto de os avanços em neurobiologia serem úteis no diagnóstico individual.

Ainda não estamos no mesmo patamar de algumas áreas da medicina como a endocrinologia, a cardiologia ou a oncologia. Esse é o desafio da psiquiatria nos próximos anos.

Isso não significa que estejamos em crise, mas significa que ainda não estamos no mesmo patamar de algumas áreas da medicina como a endocrinologia, a cardiologia ou a oncologia.

Nesses campos, o conhecimento vindo das diferenças de grupo pôde ter suficiente validade preditiva positiva e validade preditiva negativa para auxiliar uma medicina mais personalizada e um diagnóstico mais individual.

Nós estamos agora num momento em que esses dados ajudam a compreensão da neurobiologia do transtorno psiquiátrico, mas não nos ajudam no diagnóstico clínico.

O diagnóstico psiquiátrico ainda tem de ser muito baseado no exame do estado mental, na história clínica do paciente e nos dados que conseguimos com familiares.

Isso não significa que exista uma dicotomia entre psiquiatria e psicologia no manual. Enxergar uma dicotomia é ter uma visão limitada da área de saúde mental.

Muitas vezes, um grupo da psicologia social, no Brasil e no exterior, tenta se valer disso para questionar a validade do diagnóstico psiquiátrico e desencadear toda essa discussão, afirmando que existe uma "medicalização da educação" e que os diagnósticos são "usados como rótulos".

A meu ver, porém, esse grupo não representa a psicologia como um todo. Eles representam apenas uma determinada área da psicologia. 


Entidades de classe dos psicólogos reclamam que a revisão do DSM-5 foi muito restrita a psiquiatras. Eles não tem razão em reivindicar um papel maior?

É difícil avaliar isso, porque eu teria de saber qual era o tamanho da participação esperada por essas entidades. Na maioria dos grupos de trabalho houve participação de psicólogos e de outros não psiquiatras.

No grupo que trabalhou com TDAH, dois dos oito membros --Joel Nigg e Paul Frick-- eram psicólogos.

Não é verdade, então, que não houve participação da psicologia. Houve até participação externa de psicólogos, porque os critérios de diagnóstico ficaram abertos para escrutínio público no site da APA por um longo tempo.

Nós recebemos muitas críticas de psicólogos, e foram todas individualmente avaliadas para que fossem incorporadas às modificações, se fosse necessário.

Houve uma participação de psicólogos como nunca tinha havido. Foi um processo muito mais aberto do que o do DSM-4.

É válido discutir se a abertura foi suficiente e se a comunidade se sente confortável com ela, mas certamente foi um processo mais aberto do que qualquer outra revisão do DSM. 


Um estudo da Universidade Harvard indicou que há mais psiquiatras da força-tarefa do DSM-5 envolvidos com a indústria farmacêutica hoje do que na época da quarta edição. O conflito de interesses aumentou?

A criação do DSM-5 é um processo que é embasado em ciência, mas é um processo que sofre forças de todos os lados.

Enquanto um diagnóstico recebe crítica por ficar mais restritivo e deixar mais gente de fora, outro é criticado por ser mais inclusivo e acaba acusado de criar uma epidemia. As pressões são de todos os lados.

Não tenho uma ideia clara de qual é o tamanho da pressão da indústria farmacêutica, mas posso dizer que a APA tomou medidas claras para tentar controlar ao máximo essa pressão da indústria.

Ela determinou que a participação de pessoas no trabalho e no desenvolvimento do DSM-5 fosse dada com um limite claro de contato com a indústria. Os integrantes não poderiam receber mais de US$ 10 mil por ano da indústria nem ter mais de 5% da renda bruta vinda de qualquer relação com a indústria.

Esse limiar é o mesmo adotado por várias outras associações médicas nos EUA. Acima disso, considera-se que a influência da indústria sobre o indivíduo --clínico ou pesquisador-- passa a ser significativa.

A APA assumiu esse limite claro e avaliou cada membro, antes e durante o processo, para que esse limite no contato com a indústria fosse mantido. Isso tirou dos grupos de trabalho uma série de pessoas que tinham atuado no DSM-4 e até algumas pessoas que são consideradas experts em suas áreas.

O artigo de Harvard tem um viés claro, porque entre 1990 e 1994, quando o DSM-4 estava sendo discutido, não era obrigatório para os membros revelar potenciais conflitos de interesse.

Isso não era uma coisa discutida em detalhe pelos profissionais da área de saúde. Comparando o grau de interesses declarados feitos no DSM-5 com aqueles do DSM-4 em 1994, então, é óbvio que se enxerga um aumento, porque antes as pessoas simplesmente não eram obrigadas declarar. 


Existia uma certa insatisfação por parte dos clínicos com a forma com que o manual trata dos chamados "transtornos de personalidade" no manual. O que vai mudar agora?

É provável que se pense numa redução do número de transtornos. Existiam uns dez transtornos de personalidade listados no DSM-4, e muitos não tinham uma confiabilidade adequada para teste-e-reteste.

Por isso, era difícil que os clínicos concordassem. Uma das modificações que estão sendo propostas no DSM-5, também nessa área, é uma noção mais dimensional da questão de personalidade, para substituir os diagnósticos por categorias.

Vão continuar existindo alguns diagnósticos de transtornos de personalidade, aqueles para os quais existe base de evidência um pouco mais forte.

Dentre os quais estão o "transtorno de personalidade antissocial" e o "transtorno de personalidade borderline". A ideia é ampliar a noção de personalidade para trabalhar com constructos que sejam mais dimensionais e menos categóricos. 


A clássica figura do psicopata como portador de um problema mental continuará existindo, então?

Isso foi discutido, e o transtorno de personalidade antissocial deve continuar existindo. Existe suficiente validade de diagnóstico para isso.

Mas a questão mais discutida aqui era outra. O que debatemos é se seria possível levar o diagnóstico para a infância ou para adolescência.

No DSM-4, o diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial exige que o indivíduo tenha mais de 18 anos.

Então, foi discutido se essa trava poderia ser em uma idade mais reduzida, o que teria implicações judiciais, porque existe também uma grande discussão sobre a imputabilidade de pessoas diagnosticadas com o transtorno. [A nova versão acabou mantendo o limite de idade em 18 anos.] 


Os novos critérios do DSM vão ajudar a melhorar a tensa relação entre psiquiatras e psicólogos?

As modificações nos critérios de diagnósticos transcendem essa discussão. Elas não vão nem melhorar nem piorar essa tensão. As mudanças propostas são baseadas em evidência.

Na minha visão, não existe essa animosidade entre psiquiatras e psicólogos. A tensão que existe é entre psiquiatras e um grupo de psicólogos que tem dominado as entidades de classe.

Eles representam um grupo da psicologia social que não admite a possibilidade de diagnóstico psiquiátrico, o que não é a realidade da psicologia como um todo.

Tenho bastante convivência com a psicologia dentro de meios universitários, com o pessoal da neuropsicologia e com diversas áreas clínicas, e não sinto animosidade por parte desses outros grupos.

O que existe é um grupo específico da psicologia social que domina as entidades de classe da psicologia e, ao mesmo tempo, tenta desqualificar os diagnósticos em saúde mental.

Não vejo isso como uma dicotomia entre psicologia e psiquiatria. 


Um dos grandes críticos do DSM-5 nos EUA foi Allen Frances, psiquiatra que tinha coordenado o DSM-4. O que esses ataques partindo de alguém tão próximo representaram para a APA?

O exaustivo processo de revisão da evidência científica para o DSM-5, as análises secundárias que foram feitas dentro de cada diagnóstico com base em dados disponíveis e os testes de campo avaliando a utilidade clínica e a confiabilidade foram processos que em nada se diferenciam daqueles do DSM-4.

Se Allen Frances se sentiu magoado por não ter sido convidado para participar do processo do DSM-5 é algo que tem de ser perguntado a ele. 


O que é mais importante o público leigo entender sobre as mudanças na psiquiatria?

A mensagem é que o DSM-5 que vai aparecer em maio de 2013 é o melhor esforço possível, dado o grau de evidência científica disponível no momento, para que haja um avanço na forma de diagnosticar e de acolher os portadores de problemas de saúde mental. 

Fonte: Folha