quinta-feira, 7 de março de 2013

Crise ameaça a primeira Apae do país


O interventor Alexandre Ferreira tenta colocar a contabilidade em ordem Foto: Guilherme Leporace / Agência O Globo

O interventor Alexandre Ferreira tenta colocar a contabilidade em ordem  
Guilherme Leporace / Agência O Globo
A missão é nobre, e o trabalho sempre foi reconhecido como de excelência. Mas a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Rio de Janeiro (Apae-Rio), a primeira do Brasil, sediada na Tijuca, precisa de tanta ajuda quanto aqueles para a qual foi criada. Sem convênio público ou privado, a instituição, sob intervenção da Apae nacional, só conta com doações, uma receita mensal que corresponde a apenas 15% dos R$ 150 mil necessários.
Faltam recursos para manter a sede, na Rua Bom Pastor 41, e para o atendimento, que foi reduzido. A unidade de assistência a 300 usuários, em Benfica, periga fechar por falta de funcionários. E não há especialistas para montar a equipe básica.

Atividades rentáveis acabaram
Os recursos financeiros da Apae-RJ vêm minguando há pelo menos dez anos, devido à suspensão de atividades geradoras de receitas e a más administrações. Há seis meses, a situação ficou insustentável, sendo necessária a intervenção administrativa das federações nacional e estadual das Apaes.

A associação do município, que já deu assistência a 1.200 pessoas, hoje só atende 350. E esse número pode ser reduzido, pois 300 delas frequentam o Centro Integrado de Educação e Trabalho (Cinet), uma unidade para jovens e adultos que não retomou as atividades pós-férias, com volta prevista para 14 de fevereiro. Até a semana passada, não havia definição a respeito. A manutenção do espaço e a continuação do atendimento serão discutidas numa reunião marcada para hoje.

Avó de um rapaz que frequenta o Cinet, Marília Marinho da Silva está preocupada com o possível fechamento da unidade de Benfica.

— Eu nem posso imaginar isso, e tenho fé em Deus que não será fechado. Meu neto tem 21 anos, mas se comporta como uma criança de 2, e está muito ansioso para voltar. Ele se arruma todos os dias para ir à aula. É muito importante para ele — diz.

A falta de profissionais é uma das dificuldades para manter o trabalho:

— Temos três fisioterapeutas, um assistente social e um neurologista. Mas a equipe básica deve ter também fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional e psiquiatra — diz o contador e administrador Alexandre Miranda Ferreira, nomeado interventor pela Federação Nacional das Apaes, que procura reerguer a instituição. — Estamos totalmente no vermelho. Temos feito contato com órgãos públicos e com empresários, mas há muitos problemas. São mais de cem ações trabalhistas na Justiça e não temos dinheiro para negociar. Ainda temos funcionários com salários atrasados.

A escassez de dinheiro é aparente no edifício-sede, na Rua Bom Pastor. Dos sete andares, apenas os quatro primeiros são usados, pois os elevadores estão parados. No sétimo, uma quadra de esporte se deteriora sem uso.

Instituição nacional começou na Tijuca
Associação privada sem fins lucrativos, a Apae começou na Tijuca, em 1954. Hoje, são cerca de 2.200 no país. Tijucanos que conhecem a história da instituição se entristecem, mas também contribuem de alguma forma.

O casal Claudio e Cintia Maria Del Giudice transferiram a creche gratuita que mantinham na Rua Goiânia, em Vila Isabel, para o prédio da Apae na Rua Bom Pastor. Pagam aluguel e ajudam na inclusão de crianças atendidas pela instituição.

— Trabalhei na Apae por 20 anos e fui até para o exterior mostrar trabalhos que desenvolvíamos aqui. Por isso, quis trazer a creche para cá e, de alguma forma, contribuir como parceira — diz a fonoaudióloga Cintia.

A intervenção, segundo Alexandre Ferreira, está de acordo com o que estabelece o estatuto das Apaes quando são detectados problemas mais graves de gestão. O fechamento do laboratório que realizava o teste do pezinho para o SUS, em 2011, agravou a situação financeira.

— Foi a pedra derradeira, pois a Apae-Rio perdeu receita e os gastos continuaram — afirma Alexandre.

Fonte: O Globo/Tijuca

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