terça-feira, 6 de novembro de 2012

Estudante de SP assume cargo em associação para cegos nos EUA


Vanessa Fajardo Do G1, em São Paulo

Recém-chegado na Universidade do Estado de Michigan, nos Estados Unidos, o estudante paulistano Mauricio Peixoto de Mattos Almeida, de 18 anos, que é deficiente visual, foi eleito vice-presidente do departamento estadual estudantil da Nacional Federation of the Blind (Federação Nacional dos Cegos), em Michigan. 

Maurício Almeida, de 18 anos, é estudante da Universidade de Michigan (Foto: Vanessa Fajardo/ G1) 
Maurício Almeida, de 18 anos, é estudante da Universidade de Michigan (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)
 
Com mais de 50 mil membros, a Nacional Federation of the Blind possui filiais em todos os estados americanos. Mauricio foi escolhido e nomeado pelos integrantes do conselho. "Sempre gostei de ajudar as pessoas e acho que vai ser uma responsabilidade muito grande, mas acredito que tenho bons projetos e competência [para assumir o cargo]. Quero envolver os alunos porque este é o momento que eu vivo", afirma.

 
Na universidade, Mauricio pretende integrar os estudantes cegos com os que enxergam. Para ele, precisa haver maior proximidade entre os alunos que cursam disciplinas de educação especial e pretendem trabalhar com pessoas que possuem diversos tipos de deficiência.

A infraestrutura oferecida pela Universidade de Michigan foi um dos motivos que o levou a querer fazer graduação nos Estados Unidos. Mauricio diz que o local está muito bem equipado para estudantes cegos. "Fiquei impressionado. Tem ônibus que fala, farol que fala, as calçadas são padronizadas, e os motoristas de táxis são treinados. Faço tudo de forma independente."

O garoto mora no campus da instituição e seu colega de quarto é um estudante americano. Segundo ele, foi bem recebido por todos. "Todo mundo do prédio é bacana, as pessoas perguntam muito sobre o Brasil, as praias, as mulheres, a cultura e a alimentação." Como é deficiente visual, o estudante teve prioridade na escolha pelo piso térreo para facilitar a locomoção.

Quando fez o application (vestibular americano), Mauricio pensava em cursar ciência da computação, mas, menos de um mês depois da chegada à universidade mudou os planos: vai estudar relações internacionais. "Minha paixão pela tecnologia ainda existe, mas quero ajudar meu povo a crescer e se expandir e acho que a carreira de relações internacionais me abre mais portas."

Limitação visual ocorreu porque aos 6 meses, Maurício teve a retina descolada (Foto: Vanessa Fajardo/ G1) 
Limitação visual ocorreu porque aos 6 meses,Maurício teve a retina descolada
(Foto: Vanessa Fajardo/ G1)
 
Retina descolada
O estudante perdeu a visão aos 6 meses quando o ar da incubadora descolou sua retina. Desde então, percebe apenas contornos e cores. Se locomove com ajuda de uma bengala, e nos Estados Unidos está participando de um processo para ganhar um cão-guia. 

A limitação visual não trouxe restrições à vida de Mauricio que usa a tecnologia como aliada. Ele domina o braile, mas hoje o substituiu pelos softwares que leem textos no computador. O estudante tem uma empresa de hospedagem de sites e rádios na internet. Também coordena a criação de um site que traduz do inglês para português jogos para deficientes visuais na web.

Mauricio aprendeu inglês jogando na internet durante a infância. Mais tarde, se tornou professor voluntário na escola americana onde cursou o ensino médio, em São Paulo. Lá havia um programa para ensinar filhos de funcionários e familiares de alunos. Nunca estudou em escolas especiais. “Sou contra, acho um atraso porque eu tenho de me adaptar à sociedade, não o contrário. A sociedade tem de me dar estrutura, mas a adaptação é minha.”

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