quarta-feira, 1 de junho de 2011

Redefinindo o TDAH - Funções Executivas

O TDAH foi descrito tipicamente como uma tríade que inclui hiperatividade, déficit de atenção e impulsividade. Esses três fatores, no entanto, não descrevem a totalidade dos problemas que essas pessoas experimentam. Russel Barkley (Barkley, R.A 2000 - Taking Charge of ADHD: The complete, authoritative guide for parentes. New York, Guilford Press) explica como, no TDAH, existe uma incapacidade de inibição do comportamento atual para que o passo futuro seja alcançado, devido a uma disfunção executiva.
Desta forma, a IMPULSIVIDADE acontece quando não há inibição de um estímulo interno. A DISTRAÇÃO ocorre quando não há inibição de um estímulo externo. A HIPERATIVIDADE ocorre quando, não havendo inibição, estes estímulos serão checados. Essa disfunção executiva faz parte do "pacote" do TDAH e explica uma série de outros comportamentos dessas crianças. A partir do momento em que entendemos esses mecanismos, percebemos o quanto existe além da tríade "hiperatividade, impulsividade e déficit de atenção".

E o que são funções executivas?

Imagine a manhã de um domingo. Você vai fazer um churrasco e receber os amigos. Isso exigiu que você planejasse, organizasse sua agenda, fosse flexível, ajustando as diferentes tarefas ao seu tempo livre, usasse sua memória de trabalho e consultasse nela as lições que você aprendeu ao preparar reuniões anteriores. Você também teria que ter noção de tempo, para determinar a que horas precisaria começar a cozinhar. Precisaria iniciar o trabalho no tempo determinado, e mesmo que estivesse fazendo alguma coisa muito agradável naquele momento, digamos lendo jornal, você mudaria o seu foco da atividade (de ler para cozinhar), inibindo o prazer da leitura, e, usando o seu autocontrole, começaria a trabalhar. Todas essas funções (inibição, iniciação, memória de trabalho, oraganização, noção de tempo, flexibilidade, entre outras), são chamadas FUNÇÕES EXECUTIVAS, se processam em grande parte, nos lobos frontais e pré-frontais.
É muito importante reconhecer que existe uma gama enorme de comportamentos que são afetados pela disfunção executiva e que muitas vezes dificultam a vida junto à familia, amigos, escola e outras atividades sociais. Vamos ver como essa disfunção pode se manifestar na escola e o que pode ser feito para ajudar a desenvolver essas funções executivas que são deficientes. É verdade que muito do que é sugerido aqui se aplica a todas as crianças em termos de estrutura, persistência, supervisão, lembretes. Mas crianças com TDAH precisam de MAIS estrutura, MAIS persistência, MAIS supervisão, MAIS lembretes. Cada criança tem seu conjunto de características, nem um TDAH é igual a outro. Cabe a nós identificarmos os déficits presentes e traçarmos um plano.
O plano nos dá a segurança de não sermos pegos de surpresa, de nos sentirmos no controle.
Então, mão à obra.

FALTA DE INIBIÇÃO - É uma das características chaves do TDAH. A falta de inibição de um pensamento leva à desatenção. A falta de inibição de uma reação leva à impulsividade. A não inibição de uma ação física gera a hiperatividade. A falta de inibição de um pensamento leva à desatenção.

O QUE PODE SER FEITO PARA HIPERATIVIDADE:

- Use a movimentação (ir até o corredor, se levantar e andar na classe) como uma recompensa por bom comportamento.
- Encoraje a movimentação na sala de aula.
- Permita que o aluno que não consegue permanecer sentado se levante e ande ocasionalmente durante a aula. Ensine-o a fazer isso discretamente.
ie vários cargos, com diferentes funções, para os alunos trabalharem (ver lista de empregos).
- Durante o recreio promova e estimule jogos, corridas, atividades que exijam movimentação.
- Não use como punição reter o aluno durante o recreio.

O QUE PODE SER FEITO PARA A IMPULSIVIDADE:

- Seja pró-ativo. Perceba quando o aluno está perdendo o interesse e proponha uma nova ação antes que ele se torne disruptivo.
- Para alunos sem problemas de aprendizado, permita que ele exerça uma atividade (ler livros, gibis) enquanto o restante da classe está terminando a tarefa que ele já acabou.

O QUE PODE SER FEITO PARA A DESATENÇÃO:

- Intercale atividades muito paradas com utras que permitam movimentação.
- Use instruções curtas e objetivas. Uma por vez.
- Use atividades que encorajem discussão ou uso de duplas.
- Coloque o aluno sentado ao lado de um colega que seja um modelo positivo.
- Escolha uma carteira perto da lousa ou do professor, longe de janelas e portas.
- Ensine o aluno a anotar pensamentos que estejam desviando sua atenção durante a aula, para retornar a eles no seu tempo livre.
- considere usar 2 conjuntos de material escolar (um para casa outro para escola) quando a criança se esquece com frequência trazê-lo para escola.
- Chame atenção do aluno quando for enfatizar um ponto importante ou novo da matéria.
- Tenha certeza de manter contato visual ao dar orientações.
- Permita que o aluno faça suas provas num local calmo, com poucas distrações.
- O tempo para realização das provas pode ser pequeno para essas crianças. Como o que se deseja é avaliar o conhecimento e não a rapidez, dê um tempo maior para que ele possa responder todas as questões.

ORGANIZAÇÃO - Algumas pessoas são muito organizadas, mas a maioria dos portadores de TDAH, por natureza, não o são. Além da dificuldade de organização dos pensamentos, há dificuldade para se criar e manter um sistema organizacional necessário para o estudante estar em dia com suas obrigações. Na prática o que acontece é que o aluno não usa um sistema de agenda, ou não anota nela as tarefas, o que deve ser levado na escola, os trabalhos a serem entregues em curto prazo. Às vezes ele faz a lição e esquece em casa. Outras vezes, não sabe qual é a lição. Esquece as datas das provas, não se lembra de estudar a matéria...

O QUE PODE SER FEITO:

- Certifique-se que o aluno está usando uma agenda, escrevendo nela a tarefa e checando a agenda antes de ir para escola no dia seguinte.
- Para trabalhos que serão entregues em datas muito distantes, fazer anotação na agenda 3 dias antes e na véspera do vencimento do prazo.
- No dia em que não houver lição, faça o aluno se certificar que escreveu que determinada matéria não tem lição.
- Ensine o aluno a anotar as orientações usando palavras-chaves. Não exija que ele escreva "resolver os problemas de matemática das páginas 11, 12 e 13 para amanhã". Aceite "matem. 11-13"
- Ensine o aluno a anotar pensamentos que estejam desviando sua atenção, para retornar a eles no seu tempo livre.
- Fornecer para o aluno e para a família as rotinas das aulas, das lições, provas e trabalhos.
- colocar na internet a lição de cada dia, bem como os calendários da semana e do mês.
- ensinar que cada objeto tem seu lugar para ser guardado, incluindo folhas avulsas que vão e voltam da escola.
- ensine a criança a organizar a mesa de trabalho, deixando nela apenas o material que será usado.
- Peça para o aluno colocar os papéis que vão da escola para casa em uma pasta de uma cor e os que vão da casa para escola em outra cor.
- Use cores diferentes para matérias ou assuntos diferentes.
- Peça para o aluno grifar com marcadores de texto coloridos os pontos importantes a serem lembrados.
- mantenha contato frequente com os pais. Assim você pode ajudar no momento real e não apenas dar uma informação negativa quando já é tarde demais.
- Ensine aos alunos se perguntarem ao final da aula: "estou levando tudo o que preciso para casa?"
CONSISTÊNCIA - quando muito motivadas, pessoas com TDAH podem executar uma tarefa perfeitamente. Na semana seguinte, quando perderam a motivação, a tarefa se arrasta infinitamente. Isso faz com que essas crianças sejam criticadas até pelo seu sucesso (O que é isso? Você fez isso ontem tão bem... Deixe de ser preguiçoso!). O mesmo princípio se aplica ao se iniciar uma tarefa (o fator novidade é um grande motivador) e no início, a criança executa bem. Após algum tempo, com a repetição, o interesse vai embora e com ele a tarefa. Você pode achar que não é justo, que todo mundo faz muito melhor quando está motivado. Mas o fato é que, realmente, é MUITO mais difícil para essas crianças fazerem as coisas sem motivação.

O QUE PODE SER FEITO:

- Veja a inconsistência com a perspectiva de limitação do TDAH e não como preguiça ou má vontade da criança.
- Mantenha o aluno motivado. É a motivação do momento que move a criança, e não o objetivo longínquo de entrar na faculade daqui a dez anos. Eles vivem apenas o "agora". Ofereça elogios e recompensas imediatas para cada etapa do trabalho.
- Seja como um video-game para o seu aluno. Ofereça sempre novos "níveis" de desafios que sejam possíveis de serem alcançados. Você já reparou como a mesma criança que tem dificuldade de ficar sentada 10 minutos assistindo aulas consegue ficar 2 horas imóvel no computador jogando?
- Julgue a qualidade do conhecimento e não o volume de trabalho ao dar notas.
DIFICULDADE PARA INICIAR E TERMINAR TAREFAS - Imagine uma cabeça com MUITAS ideias, MUITOS planos, MUITOS projetos. Para a imaginação se tornar realidade é preciso organizar as ideias, priorizá-las e dar o primeiro passo. É preciso que a criança pare o que está fazendo (inibir um comportamento) para dar esse primeiro passo. Uma vez iniciado o trabalho, é preciso persistir nele, mesmo quando a novidade tenha se esgotado e finalizá-lo, fazendo pequenos numerosos e, às vezes, aborrecidos acertos finais. Tudo isso é MUITO difícil para que tem TDAH. Por isso é tão comum para eles deixarem para depois ou abandonar o projeto no meio do caminho, quando toda a energia positiva já se esgotou.

O QUE PODE SER FEITO:

- dividir os projetos em pequenos passos.
- ter um calendário ou agenda, determinando datas e prazos para cada um dos pequenos passos.
- ter alguém checando o calendário ou agenda (a criança se esquece de consultar a agenda ou calendário).
-permita que o aluno use computador para trabalhos que exigiriam escrever um texto longo.
- solicite tarefas ou trabalhos diferentes, casando o grau de dificuldade com a capacidade do aluno.
DIFICULDADE NA EXECUÇÃO DAS TAREFAS - sim, as ideias são muitas, e, com muita motivação, a criança com TDAH começa a colocar a ideia em prática, para, bem no começo, verificar que, entre a ideia abstrata e a vida real, concreta, existe uma distância enorme a ser percorrida. Você sabe, antes de se fazer um bolo, a gente tem que ter a receita, ou ao menos a noção de quais ingredientes serão usados. Temos que rever, mentalmente o na prática, se temos em estoque tais ingredientes. Talvez tenhamos que comprar algum. Ai, finalmente, podemos colocar a mão na massa. Mas não se esqueça que existe uma ordem certa para se colocar cada ingrediente. Muitos passos, não é? Exige pesquisa ou conhecimento anterior. Precisa ler a receita, ou o manual. Quem gosta? Precisa planejamento e antecipação.
E na escola? Com tantas idéias na cabeça seria natural que essas crianças fizessem ótimas redações, não? Mas como fazer as idéias se organizarem numa sequencia lógica e interessante para o leitor? Como fazer o aluno escrever, já que ele detesta? E quem vai ler aquela letra?

O QUE PODE SER FEITO:

- ensine o planejamento passo a passo. Depois, pratique, pratique e pratique. Com o tempo, o aluno incorpora esse hábito.
- organize as informações necessárias (num trabalho escrito, faça a criança escrever num rascunho 3 itens: descrever o problema, contar como as pessoas tentaram reolvê-lo e qual foi o resultado).
- Dividir o planejamento em pequenos passos.
- escrever e numerar os passos em uma lista, de forma que fique mais fácil para criança checá-los.
-permita que o aluno use computador para trabalhos que exigiriam escrever um texto longo.
- ofereça diferentes opções para que um trabalho seja apresentado ou resolvido (escrito à mão, escrito no computador, power point, apresentação oral), assim o aluno pode usar seu estilo preferido de resposta.
 PROBLEMAS NA TRANSIÇÃO DE TAREFAS - Talvez você já tenha presenciado a cena. Você anuncia uma atividade e o aluno não quer fazer. Reclama, demora, enrola, se queixa, até que finalmente, ele se engaja. E mais, ele gosta. Então, chega a hora de parar, de mudar para o próximo tópico. Aí o aluno não quer mudar, reclama, demora, enrola, num eterno ciclo vicioso. A mudança de uma atividade para outra, quando comandada por uma terceira pessoa, com outra dimensão de tempo, é muito difícil para a criança com TDAH. Muitas vezes, é causa de explosões descontroladas, que parecem descabidas.

O QUE PODE SER FEITO:

- Tenha sempre o esquema do dia escrito na lousa.Chame atenção para eventuais mudanças da agenda.
- Lembre o aluno quanto tempo falta para cada atividade.
- Use sua empatia. Ofereça para o aluno, em fantasia, o que não se pode ter no momento: "seria tão bom se a gente pudesse continuar nesse projeto de ciências o dia todo, não é?"
- estabeleça bom contato visual quando for anunciar as transições.
NOÇÃO DE TEMPO - crianças com TDAH em geral tem uma pobre noção de tempo. Quando estão muito interessadas, podem ficar uma hora em uma atividade e juram que só se passaram 15 minutos. Quando estão se arrumando para escola, ao contrário, levam uma hora para fazer o que outras crianças gastam quinze minutos. Quando estão sonhando acordadas, não percebem que o relógio continua andando e elas, se atrasando na lição, para os compromissos...

O QUE PODE SER FEITO:

- forneça dicas para os alunos (já estamos na metade do tempo estimado para essa atividade, quinze minutos para o fim da prova, faltam 10 minutos para começarmos a guardar os brinquedos)
- use um timer sonoro ou, melhor ainda, visual e sonoro (timetimer.com)
- ensine aos alunos, através de brincadeiras, a estimar o tempo.
-  crie, com o aluno, um código para lembrá-lo do tempo (uma batida na mesa dele)
- quando o aluno é lento para copiar a matéria da lousa, considere imprimir os slides de cada aula ou, caso a escola tenha um sistema como smart board, a impressão do que foi escrito.
POBRE APRENDIZADO COM EXPERIÊNCIAS E ERROS PASSADOS - sim, todos nós, seres humanos, aprendemos com nossas experiências passadas. Isso garantiu a sobrevivência de nossa espécie. Só que algumas pessoas tiram mais benefícios dos erros e experiências do que outras. É natural pensar que, uma pessoa com disfunção executiva, tenha dificuldade em avaliar adequadamente como e o porquê suas atitudes, suas escolhas, interagindo com outras pessoas em determinada situação, provocaram certo desfecho. Por exemplo, no caso de um trabalho escolar que a classe tenha 2 semanas de prazo para entregar. O que deveria ser feito em quinze dias, envolvido pesquisa, redação, ficou esquecido, muito tempo atrás, numa página da agenda. Se é que foi escrito na agenda. Você resolve que já é hora desse aluno ter responsabilidade. Não enregou o trabalho? Vai ganhar um zero! Da próxima vez ele vai aprender. Certo? Errado. Da próxima vez e da próxima e da próxima, se nada for feito, o problema se repetirá. E isso significa que não tem fim, que não tem jeito?

SIM, VEJA O QUE PODE SER FEITO:

- Se o problema for em atividades que exijam organização, planejamento e controle de tempo, discuta com o aluno o que aconteceu até que ele próprio consiga perceber em qual ou quais pontos ele teve dificuldade. Isso feito, elabore de modo conjunto, um plano de ação para a próxima situação em que esteja previsto o mesmo problema. Ofereça ajuda para lembrar o aluno de usar o plano.
- Se o problema for em atividades sociais, nas quais que o aluno tenha pouca habilidade, considere um treinamento em um grupo de habilidades sociais.
- Se o problema for a dificuldade em capitular as experiências positivas, com enfoque apenas nos fracassos e negatividade recebidos, tente relembrar com o aluno os seus momentos de sucesso na classe. Nomeie a sequência de atitudes positivas para que ele consiga estabelecer um novo padrão.
- Converse com o aluno sobre os problemas sempre que eles aparecerem (mas não enquanto o aluno estiver descontrolado, com raiva ou irritado). De modo empático, coloque o problema a peça que o aluno ajude a apresentar soluções.
POBRE AUTO-AVALIAÇÃO - é comum crianças com TDAH não perceberem adequadamente seu desempenho. É como se eles se olhassem naqueles espelhos de parque de diversões, nos quais ficamos muito mais altos e magros ou muito gordos e baixos. Em termos acadêmicos acham que se saíram bem na prova, quando na verdade foram mal. Julgam que aquele projeto, desenvolvido a duras penas, merece uma nota boa, quando na verdade está muito abaixo das expectativas. Em termos sociais, acham que são mais queridos pelos colegas do que o são na realidade. Com o tempo, com a enxurrada de julgamentos negativos, de reprimendas, a auto-crítica deficiente pode ser substituída por uma sensação constante de falência. É fácil perceber porque a auto-avaliação é fraca. Seria necessário estar consciente de sua fala, de sua linguagem corporal, processar o que vai ser entregue para a outra parte. Ler os diferentes tipos de linguagem recebidos. Poder dar e receber. Ser empático. Pensar antes de falar. Escutar. As crianças com TDAH têm dificuldade em tudo isso. E ao receber um comentário da outra pessoa, não prestam atenção, não conseguem perceber nenhuma pista de que não estão agradando.
Quando em sala de aula se envolvem em algum atrito, não conseguem se enxergar como parte do problema. A culpa é do outro. Não percebem o poderia ser evitado, o que desagradou a outra parte.

QUE PODE SER FEITO:

- em termos acadêmicos, tente passar para o concreto os conceitos abstratos. Esquematize, coloque por escrito, os tópicos a serem desenvolvidos nos trabalhos.
- Treine com o aluno para que ele se acostume a colocar suas idéias primeiro em tópicos, para depois desenvolver o trabalho.
- revise o trabalho e aponte as deficiências. Permita que ele as corrija.

Em termos sociais,

- descreva as falas e acontecimentos (a criança em geral não se lembra do que foi falado e em qual sequência). Faça isso em tom neutro, sem julgamento.
- mostre e nomeie os sentimentos e reações envolvidos.
- aponte opções e modelos mais adequados.
- se tiver a oportunidade de filmar, aproveite esse recurso. A criança pode aí "enxergar" sua postura, seus atos, sua atitude.
DIFICULDADE PARA TER CONVERSA INTERNA - Parte do que foi descrito anteriormente se relaciona com a inabilidade da criança ter uma conversa interna, identificando o que está pensando no momento e o que e como pode ser usado para a solução dos seus problemas. Durante a aula, a criança não reconhece o momento em que sua atenção se desviou do professor para o aluno do lado. A menina que está sonhando acordada não está pensando, naquele momento, no que está se passando na sua cabeça. O menino, na solução de um conflito, não pensa em quais as possibilidades ou recursos podem ser usados. Não está consciente das suas emoções. Portanto, não está bem preparado para agir, apenas para reagir.

O QUE PODE SER FEITO?

- treine a criança a se perguntar: em que estou pensando? Onde está minha atenção?
- pratique a resolução de conflitos por escrito.
- ensine a criança a nomear e indentificar sentimentos e emoções.
REAÇÕES DESPROPORCIONAIS - tolerância a frustrações é uma habilidade frequentemente deficiente nas crianças com TDAH. Não é incomum a criança entrar numa espiral de descontrole como resposta a algo pequeno, que nem foi notado pelas outras pessoas. Ross Greene, em The Explosive Child, diz que, se a criança soubesse fazer melhor, ela logicamente o faria. E que provavelmente, a criança que tem uma resposta desproporcional, está respondento a uma emoção também desproporcionalmente forte dentro de si. A boa notícia é que essas habilidades podem ser ensinadas ao longo do tempo.

O QUE PODE SER FEITO:

- tente perceber em que situações a intolerância se manifesta. A partir de então, interfira sempre antes que a situação se desenvolva.
- caso os problemas sejam muito frequentes, faça um diário, anotando a hora e as situações desencadeantes.
- Entre em contato com os pais. Se a criança estiver usando medicação, confirme se no dia foi dado o remédio.
- quando a criança estiver mais calma, aborde o assunto de maneira empática, defina o problema e tente, junto com ela, procurar soluções.
INFLEXIBILIDADE - entre o branco e o preto existem infinitos tons de cinza, certo? Errado. Para parte das crianças com TDAH, cinza não existe. Nem a possibilidade de mudança de planos. Ou de alteração de projetos. Ou de compromissos suspensos ou adiados. Não quando isso é imposto por outras pessoas ou situações diversas. O que poderia ser facilmente contornado se torna um grande problema, um impasse, um escândalo.

O QUE PODE SER FEITO:

- ofereça opções para que o aluno escolha entre elas.
- discuta, sempre que possível, em situações de aula, como diferentes opniões podem estar certas.

Agora que você já sabe o que são disfunções executivas e como elas se manifestam no TDAH você provavelmente já identificou várias situações familiares. Oferecer um suporte adequado para essas crianças é fundamental para que elas se tornem mais hábeis nessas funções. Assim como o míope nessecita de óculos, as técnicas acima descritas podem ser comparadas a uma prótese. Elas fazem com que a criança tenha mais sucesso na vida diária, aumentando sua confiança e reduzindo o risco de problemas secundários como depressão, ansiedade. A boa notícia é que um dia, eventualmente, essas crianças podem não mais precisar desses "óculos".

É preciso lembrar que a criação de hábitos e rotinas e sua repetição exaustiva é a maneira mais efetiva de se desenvolver as funções executivas. Mas é preciso repetir e repetir inúmeras vezes, até que se torne automático. E isso leva tempo. Vamos começar logo!

O TDAH foi descrito tipicamente como uma tríade que inclui hiperatividade, déficit de atenção e impulsividade. Esses três fatores, no entanto, não descrevem a totalidade dos problemas que essas pessoas experimentam. Russel Barkley (Barkley, R.A 2000 - Taking Charge of ADHD: The complete, authoritative guide for parentes. New York, Guilford Press) explica como, no TDAH, existe uma incapacidade de inibição do comportamento atual para que o passo futuro seja alcançado, devido a uma disfunção executiva.

Desta forma, a IMPULSIVIDADE acontece quando não há inibição de um estímulo interno. A DISTRAÇÃO ocorre quando não há inibição de um estímulo externo. A HIPERATIVIDADE ocorre quando, não havendo inibição, estes estímulos serão checados. Essa disfunção executiva faz parte do "pacote" do TDAH e explica uma série de outros comportamentos dessas crianças. A partir do momento em que entendemos esses mecanismos, percebemos o quanto existe além da tríade "hiperatividade, impulsividade e déficit de atenção".

E o que são funções executivas?

Imagine a manhã de um domingo. Você vai fazer um churrasco e receber os amigos. Isso exigiu que você planejasse, organizasse sua agenda, fosse flexível, ajustando as diferentes tarefas ao seu tempo livre, usasse sua memória de trabalho e consultasse nela as lições que você aprendeu ao preparar reuniões anteriores. Você também teria que ter noção de tempo, para determinar a que horas precisaria começar a cozinhar. Precisaria iniciar o trabalho no tempo determinado, e mesmo que estivesse fazendo alguma coisa muito agradável naquele momento, digamos lendo jornal, você mudaria o seu foco da atividade (de ler para cozinhar), inibindo o prazer da leitura, e, usando o seu autocontrole, começaria a trabalhar. Todas essas funções (inibição, iniciação, memória de trabalho, oraganização, noção de tempo, flexibilidade, entre outras), são chamadas FUNÇÕES EXECUTIVAS, se processam em grande parte, nos lobos frontais e pré-frontais.

É muito importante reconhecer que existe uma gama enorme de comportamentos que são afetados pela disfunção executiva e que muitas vezes dificultam a vida junto à familia, amigos, escola e outras atividades sociais. Vamos ver como essa disfunção pode se manifestar na escola e o que pode ser feito para ajudar a desenvolver essas funções executivas que são deficientes. É verdade que muito do que é sugerido aqui se aplica a todas as crianças em termos de estrutura, persistência, supervisão, lembretes. Mas crianças com TDAH precisam de MAIS estrutura, MAIS persistência, MAIS supervisão, MAIS lembretes. Cada criança tem seu conjunto de características, nem um TDAH é igual a outro. Cabe a nós identificarmos os déficits presentes e traçarmos um plano. O plano nos dá a segurança de não sermos pegos de surpresa, de nos sentirmos no controle. Então, mão à obra.

FALTA DE INIBIÇÃO - É uma das características chaves do TDAH. A falta de inibição de um pensamento leva à desatenção. A falta de inibição de uma reação leva à impulsividade. A não inibição de uma ação física gera a hiperatividade. A falta de inibição de um pensamento leva à desatenção.

E PODE SER FEITO PARA HIPERATIVIDA
- Use a movimentação (ir até o corredor, se levantar e andar na classe) como uma recompensa por bom comportamento.
- Encoraje a movimentação na sala de aula.
- Permita que o aluno que não consegue permanecer sentado se levante e ande ocasionalmente durante a aula. Ensine-o a fazer isso discretamente.
- Crie vários cargos, com diferentes funções, para os alunos trabalharem (ver lista de empregos).
- Durante o recreio promova e estimule jogos, corridas, atividades que exijam movimentação.
- Não use como punição reter o aluno durante o recreio.

O QUE PODE SER FEITO PARA A IMPULSIVIDADE:

- Seja pró-ativo. Perceba quando o aluno está perdendo o interesse e proponha uma nova ação antes que ele se torne disruptivo.
- Para alunos sem problemas de aprendizado, permita que ele exerça uma atividade (ler livros, gibis) enquanto o restante da classe está terminando a tarefa que ele já acabou.

O QUE PODE SER FEITO PARA A DESATENÇÃO:

- Intercale atividades muito paradas com utras que permitam movimentação.
- Use instruções curtas e objetivas. Uma por vez.
- Use atividades que encorajem discussão ou uso de duplas.
- Coloque o aluno sentado ao lado de um colega que seja um modelo positivo.
- Escolha uma carteira perto da lousa ou do professor, longe de janelas e portas.
- Ensine o aluno a anotar pensamentos que estejam desviando sua atenção durante a aula, para retornar a eles no seu tempo livre.
- considere usar 2 conjuntos de material escolar (um para casa outro para escola) quando a criança se esquece com frequência trazê-lo para escola.
- Chame atenção do aluno quando for enfatizar um ponto importante ou novo da matéria.
- Tenha certeza de manter contato visual ao dar orientações.
- Permita que o aluno faça suas provas num local calmo, com poucas distrações.
- O tempo para realização das provas pode ser pequeno para essas crianças. Como o que se deseja é avaliar o conhecimento e não a rapidez, dê um tempo maior para que ele possa responder todas as questões.
ORGANIZAÇÃO - Algumas pessoas são muito organizadas, mas a maioria dos portadores de TDAH, por natureza, não o são. Além da dificuldade de organização dos pensamentos, há dificuldade para se criar e manter um sistema organizacional necessário para o estudante estar em dia com suas obrigações. Na prática o que acontece é que o aluno não usa um sistema de agenda, ou não anota nela as tarefas, o que deve ser levado na escola, os trabalhos a serem entregues em curto prazo. Às vezes ele faz a lição e esquece em casa. Outras vezes, não sabe qual é a lição. Esquece as datas das provas, não se lembra de estudar a matéria...

O QUE PODE SER FEITO:

- Certifique-se que o aluno está usando uma agenda, escrevendo nela a tarefa e checando a agenda antes de ir para escola no dia seguinte.
- Para trabalhos que serão entregues em datas muito distantes, fazer anotação na agenda 3 dias antes e na véspera do vencimento do prazo.
- No dia em que não houver lição, faça o aluno se certificar que escreveu que determinada matéria não tem lição.
- Ensine o aluno a anotar as orientações usando palavras-chaves. Não exija que ele escreva "resolver os problemas de matemática das páginas 11, 12 e 13 para amanhã". Aceite "matem. 11-13"
- Ensine o aluno a anotar pensamentos que estejam desviando sua atenção, para retornar a eles no seu tempo livre.
- Fornecer para o aluno e para a família as rotinas das aulas, das lições, provas e trabalhos
- colocar na internet a lição de cada dia, bem como os calendários da semana e do mês.
- ensinar que cada objeto tem seu lugar para ser guardado, incluindo folhas avulsas que vão e voltam da escola.
- ensine a criança a organizar a mesa de trabalho, deixando nela apenas o material que será usado.
- Peça para o aluno colocar os papéis que vão da escola para casa em uma pasta de uma cor e os que vão da casa para escola em outra cor.
- Use cores diferentes para matérias ou assuntos diferentes.
- Peça para o aluno grifar com marcadores de texto coloridos os pontos importantes a serem lembrados.
- mantenha contato frequente com os pais. Assim você pode ajudar no momento real e não apenas dar uma informação negativa quando já é tarde demais.
- Ensine aos alunos se perguntarem ao final da aula: "estou levando tudo o que preciso para casa?"
INCONSISTÊNCIA - quando muito motivadas, pessoas com TDAH podem executar uma tarefa perfeitamente. Na semana seguinte, quando perderam a motivação, a tarefa se arrasta infinitamente. Isso faz com que essas crianças sejam criticadas até pelo seu sucesso (O que é isso? Você fez isso ontem tão bem... Deixe de ser preguiçoso!). O mesmo princípio se aplica ao se iniciar uma tarefa (o fator novidade é um grande motivador) e no início, a criança executa bem. Após algum tempo, com a repetição, o interesse vai embora e com ele a tarefa. Você pode achar que não é justo, que todo mundo faz muito melhor quando está motivado. Mas o fato é que, realmente, é MUITO mais difícil para essas crianças fazerem as coisas sem motivação.

O QUE PODE SER FEITO:

- Veja a inconsistência com a perspectiva de limitação do TDAH e não como preguiça ou má vontade da criança.
- Mantenha o aluno motivado. É a motivação do momento que move a criança, e não o objetivo longínquo de entrar na faculade daqui a dez anos. Eles vivem apenas o "agora". Ofereça elogios e recompensas imediatas para cada etapa do trabalho.
- Seja como um video-game para o seu aluno. Ofereça sempre novos "níveis" de desafios que sejam possíveis de serem alcançados. Você já reparou como a mesma criança que tem dificuldade de ficar sentada 10 minutos assistindo aulas consegue ficar 2 horas imóvel no computador jogando?
- Julgue a qualidade do conhecimento e não o volume de trabalho ao dar notas.
DIFICULDADE PARA INICIAR E TERMINAR TAREFAS - Imagine uma cabeça com MUITAS ideias, MUITOS planos, MUITOS projetos. Para a imaginação se tornar realidade é preciso organizar as ideias, priorizá-las e dar o primeiro passo. É preciso que a criança pare o que está fazendo (inibir um comportamento) para dar esse primeiro passo. Uma vez iniciado o trabalho, é preciso persistir nele, mesmo quando a novidade tenha se esgotado e finalizá-lo, fazendo pequenos numerosos e, às vezes, aborrecidos acertos finais. Tudo isso é MUITO difícil para que tem TDAH. Por isso é tão comum para eles deixarem para depois ou abandonar o projeto no meio do caminho, quando toda a energia positiva já se esgotou.

O QUE PODE SER FEITO:

- dividir os projetos em pequenos passos.
- ter um calendário ou agenda, determinando datas e prazos para cada um dos pequenos passos.
- ter alguém checando o calendário ou agenda (a criança se esquece de consultar a agenda ou calendário).
-permita que o aluno use computador para trabalhos que exigiriam escrever um texto longo.
- solicite tarefas ou trabalhos diferentes, casando o grau de dificuldade com a capacidade do aluno.
DIFICULDADE NA EXECUÇÃO DAS TAREFAS - sim, as ideias são muitas, e, com muita motivação, a criança com TDAH começa a colocar a ideia em prática, para, bem no começo, verificar que, entre a ideia abstrata e a vida real, concreta, existe uma distância enorme a ser percorrida. Você sabe, antes de se fazer um bolo, a gente tem que ter a receita, ou ao menos a noção de quais ingredientes serão usados. Temos que rever, mentalmente o na prática, se temos em estoque tais ingredientes. Talvez tenhamos que comprar algum. Ai, finalmente, podemos colocar a mão na massa. Mas não se esqueça que existe uma ordem certa para se colocar cada ingrediente. Muitos passos, não é? Exige pesquisa ou conhecimento anterior. Precisa ler a receita, ou o manual. Quem gosta? Precisa planejamento e antecipação.
E na escola? Com tantas idéias na cabeça seria natural que essas crianças fizessem ótimas redações, não? Mas como fazer as idéias se organizarem numa sequencia lógica e interessante para o leitor? Como fazer o aluno escrever, já que ele detesta? E quem vai ler aquela letra?

O QUE PODE SER FEITO:

- ensine o planejamento passo a passo. Depois, pratique, pratique e pratique. Com o tempo, o aluno incorpora esse hábito.
- organize as informações necessárias (num trabalho escrito, faça a criança escrever num rascunho 3 itens: descrever o problema, contar como as pessoas tentaram reolvê-lo e qual foi o resultado).
- Dividir o planejamento em pequenos passos.
- escrever e numerar os passos em uma lista, de forma que fique mais fácil para criança checá-los.
- permita que o aluno use computador para trabalhos que exigiriam escrever um texto longo.
- ofereça diferentes opções para que um trabalho seja apresentado ou resolvido (escrito à mão, escrito no computador, power point, apresentação oral), assim o aluno pode usar seu estilo preferido de resposta.
PROBLEMAS NA TRANSIÇÃO DE TAREFAS - Talvez você já tenha presenciado a cena. Você anuncia uma atividade e o aluno não quer fazer. Reclama, demora, enrola, se queixa, até que finalmente, ele se engaja. E mais, ele gosta. Então, chega a hora de parar, de mudar para o próximo tópico. Aí o aluno não quer mudar, reclama, demora, enrola, num eterno ciclo vicioso. A mudança de uma atividade para outra, quando comandada por uma terceira pessoa, com outra dimensão de tempo, é muito difícil para a criança com TDAH. Muitas vezes, é causa de explosões descontroladas, que parecem descabidas.

O QUE PODE SER FEITO:

- Tenha sempre o esquema do dia escrito na lousa.
- Chame atenção para eventuais mudanças da agenda.
- Lembre o aluno quanto tempo falta para cada atividade.
- Use sua empatia. Ofereça para o aluno, em fantasia, o que não se pode ter no momento: "seria tão bom se a gente pudesse continuar nesse projeto de ciências o dia todo, não é?"
- estabeleça bom contato visual quando for anunciar as transições.
NOÇÃO DE TEMPO - crianças com TDAH em geral tem uma pobre noção de tempo. Quando estão muito interessadas, podem ficar uma hora em uma atividade e juram que só se passaram 15 minutos. Quando estão se arrumando para escola, ao contrário, levam uma hora para fazer o que outras crianças gastam quinze minutos. Quando estão sonhando acordadas, não percebem que o relógio continua andando e elas, se atrasando na lição, para os compromissos...

O QUE PODE SER FEITO:

- forneça dicas para os alunos (já estamos na metade do tempo estimado para essa atividade, quinze minutos para o fim da prova, faltam 10 minutos para começarmos a guardar os brinquedos)
- use um timer sonoro ou, melhor ainda, visual e sonoro (timetimer.com)
- ensine aos alunos, através de brincadeiras, a estimar o tempo.
- crie, com o aluno, um código para lembrá-lo do tempo (uma batida na mesa dele)
- quando o aluno é lento para copiar a matéria da lousa, considere imprimir os slides de cada aula ou, caso a escola tenha um sistema como smart board, a impressão do que foi escrito.
POBRE APRENDIZADO COM EXPERIÊNCIAS E ERROS PASSADOS - sim, todos nós, seres humanos, aprendemos com nossas experiências passadas. Isso garantiu a sobrevivência de nossa espécie. Só que algumas pessoas tiram mais benefícios dos erros e experiências do que outras. É natural pensar que, uma pessoa com disfunção executiva, tenha dificuldade em avaliar adequadamente como e o porquê suas atitudes, suas escolhas, interagindo com outras pessoas em determinada situação, provocaram certo desfecho. Por exemplo, no caso de um trabalho escolar que a classe tenha 2 semanas de prazo para entregar. O que deveria ser feito em quinze dias, envolvido pesquisa, redação, ficou esquecido, muito tempo atrás, numa página da agenda. Se é que foi escrito na agenda. Você resolve que já é hora desse aluno ter responsabilidade. Não enregou o trabalho? Vai ganhar um zero! Da próxima vez ele vai aprender. Certo? Errado. Da próxima vez e da próxima e da próxima, se nada for feito, o problema se repetirá. E isso significa que não tem fim, que não tem jeito?

SIM, VEJA O QUE PODE SER FEITO:

- Se o problema for em atividades que exijam organização, planejamento e controle de tempo, discuta com o aluno o que aconteceu até que ele próprio consiga perceber em qual ou quais pontos ele teve dificuldade. Isso feito, elabore de modo conjunto, um plano de ação para a próxima situação em que esteja previsto o mesmo problema. Ofereça ajuda para lembrar o aluno de usar o plano.
- Se o problema for em atividades sociais, nas quais que o aluno tenha pouca habilidade, considere um treinamento em um grupo de habilidades sociais.
- Se o problema for a dificuldade em capitular as experiências positivas, com enfoque apenas nos fracassos e negatividade recebidos, tente relembrar com o aluno os seus momentos de sucesso na classe. Nomeie a sequência de atitudes positivas para que ele consiga estabelecer um novo padrão.
- Converse com o aluno sobre os problemas sempre que eles aparecerem (mas não enquanto o aluno estiver descontrolado, com raiva ou irritado). De modo empático, coloque o problema a peça que o aluno ajude a apresentar soluções.
POBRE AUTO-AVALIAÇÃO - é comum crianças com TDAH não perceberem adequadamente seu desempenho. É como se eles se olhassem naqueles espelhos de parque de diversões, nos quais ficamos muito mais altos e magros ou muito gordos e baixos. Em termos acadêmicos acham que se saíram bem na prova, quando na verdade foram mal. Julgam que aquele projeto, desenvolvido a duras penas, merece uma nota boa, quando na verdade está muito abaixo das expectativas. Em termos sociais, acham que são mais queridos pelos colegas do que o são na realidade. Com o tempo, com a enxurrada de julgamentos negativos, de reprimendas, a auto-crítica deficiente pode ser substituída por uma sensação constante de falência. É fácil perceber porque a auto-avaliação é fraca. Seria necessário estar consciente de sua fala, de sua linguagem corporal, processar o que vai ser entregue para a outra parte. Ler os diferentes tipos de linguagem recebidos. Poder dar e receber. Ser empático. Pensar antes de falar. Escutar. As crianças com TDAH têm dificuldade em tudo isso. E ao receber um comentário da outra pessoa, não prestam atenção, não conseguem perceber nenhuma pista de que não estão agradando.

Quando em sala de aula se envolvem em algum atrito, não conseguem se enxergar como parte do problema. A culpa é do outro. Não percebem o poderia ser evitado, o que desagradou a outra parte.

O QUE PODE SER FEITO:

- em termos acadêmicos, tente passar para o concreto os conceitos abstratos. Esquematize, coloque por escrito, os tópicos a serem desenvolvidos nos trabalhos.
- Treine com o aluno para que ele se acostume a colocar suas idéias primeiro em tópicos, para depois desenvolver o trabalho.
- Revise o trabalho e aponte as deficiências. Permita que ele as corrija.

em termos sociais,

- descreva as falas e acontecimentos (a criança em geral não se lembra do que foi falado e em qual sequência). Faça isso em tom neutro, sem julgamento.
- mostre e nomeie os sentimentos e reações envolvidos.
- aponte opções e modelos mais adequados.
- se tiver a oportunidade de filmar, aproveite esse recurso. A criança pode aí "enxergar" sua postura, seus atos, sua atitude.
DIFICULDADE PARA TER CONVERSA INTERNA - Parte do que foi descrito anteriormente se relaciona com a inabilidade da criança ter uma conversa interna, identificando o que está pensando no momento e o que e como pode ser usado para a solução dos seus problemas. Durante a aula, a criança não reconhece o momento em que sua atenção se desviou do professor para o aluno do lado. A menina que está sonhando acordada não está pensando, naquele momento, no que está se passando na sua cabeça. O menino, na solução de um conflito, não pensa em quais as possibilidades ou recursos podem ser usados. Não está consciente das suas emoções. Portanto, não está bem preparado para agir, apenas para reagir.

O QUE PODE SER FEITO?

- treine a criança a se perguntar: em que estou pensando? Onde está minha atenção?
- pratique a resolução de conflitos por escrito.
- ensine a criança a nomear e indentificar sentimentos e emoções.
REAÇÕES DESPROPORCIONAIS - tolerância a frustrações é uma habilidade frequentemente deficiente nas crianças com TDAH. Não é incomum a criança entrar numa espiral de descontrole como resposta a algo pequeno, que nem foi notado pelas outras pessoas. Ross Greene, em The Explosive Child, diz que, se a criança soubesse fazer melhor, ela logicamente o faria. E que provavelmente, a criança que tem uma resposta desproporcional, está respondento a uma emoção também desproporcionalmente forte dentro de si. A boa notícia é que essas habilidades podem ser ensinadas ao longo do tempo.

O QUE PODE SER FEITO:

- tente perceber em que situações a intolerância se manifesta. A partir de então, interfira sempre antes que a situação se desenvolva.
- caso os problemas sejam muito frequentes, faça um diário, anotando a hora e as situações desencadeantes.
- Entre em contato com os pais. Se a criança estiver usando medicação, confirme se no dia foi dado o remédio.
- quando a criança estiver mais calma, aborde o assunto de maneira empática, defina o problema e tente, junto com ela, procurar soluções.
INFLEXIBILIDADE - entre o branco e o preto existem infinitos tons de cinza, certo? Errado. Para parte das crianças com TDAH, cinza não existe. Nem a possibilidade de mudança de planos. Ou de alteração de projetos. Ou de compromissos suspensos ou adiados. Não quando isso é imposto por outras pessoas ou situações diversas. O que poderia ser facilmente contornado se torna um grande problema, um impasse, um escândalo.

O QUE PODE SER FEITO:

- ofereça opções para que o aluno escolha entre elas.
 - discuta, sempre que possível, em situações de aula, como diferentes opniões podem estar certas.
Agora que você já sabe o que são disfunções executivas e como elas se manifestam no TDAH você provavelmente já identificou várias situações familiares. Oferecer um suporte adequado para essas crianças é fundamental para que elas se tornem mais hábeis nessas funções. Assim como o míope nessecita de óculos, as técnicas acima descritas podem ser comparadas a uma prótese. Elas fazem com que a criança tenha mais sucesso na vida diária, aumentando sua confiança e reduzindo o risco de problemas secundários como depressão, ansiedade. A boa notícia é que um dia, eventualmente, essas crianças podem não mais precisar desses "óculos".
É preciso lembrar que a criação de hábitos e rotinas e sua repetição exaustiva é a maneira mais efetiva de se desenvolver as funções executivas. Mas é preciso repetir e repetir inúmeras vezes, até que se torne automático. E isso leva tempo. Vamos começar logo!


Adriana L. C. R. Dutra de Oliveira
Neurologista

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