sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Definição Transtorno Processamento Sensorial (TPS)


Processamento sensorial refere-se à forma como o sistema nervoso recebe mensagens a partir dos sentidos e os transforma em respostas. 

Para aquelas crianças com transtorno de processamento sensorial, informação sensorial vai para o cérebro, mas não se organiza em respostas adequadas. 

Crianças com TPS percebem e / ou responder a informação sensorial diferente do que a maioria das outras pessoas. Ao contrário das pessoas que têm deficiência visual ou auditiva, aqueles com transtorno de processamento sensorial que detecta a informação sensorial; no entanto, a informação sensorial fica "misturados" em seu cérebro e, portanto, as respostas são inadequadas no contexto em que se encontram.
Transtorno de processamento sensorial (originalmente chamado de Disfunção Integração Sensorial) é uma desordem neurológica em que a informação sensorial que percebe os resultados individuais nas respostas anormais. Uma definição mais formal é: TPS neurofisiológicos é uma condição na qual a entrada sensorial, a partir do meio ambiente ou a partir de um corpo é fracamente detectado, modulado ou interpretado e / ou para os quais são observadas respostas atípicas.  

Sistema Tátil

O sistema tátil é responsável pelas informações processamento de toque do corpo.

O corpo envia informação táctil para o córtex somatossensorial através de vias neurais para a medula espinal, do tronco cerebral, do tálamo e. O córtex somatossensorial primário é a área receptiva primário para sensações de toque e situa-se no giro pós-central lateral, uma estrutura de destaque no lobo parietal do cérebro humano.

Devido às suas muitas ligações para outras áreas do cérebro, o córtex somatossensorial é a parte do sistema nervoso que integra toque, pressão, temperatura, e dor.

O sistema tátil é extremamente importante no TPS. Muitos indivíduos com o distúrbio tem sintomas táteis, como defensividade tátil ou sub-responsividade ao toque e dor. O sistema de toque é um dos três sistemas fundamentais utilizados no tratamento de integração sensorial.

Sistema Vestibular

O sistema vestibular contribui para equilibrar e orientação no espaço. É o principal sistema informando-nos sobre o movimento e posição da cabeça em relação à gravidade.

Nossos movimentos incluem duas posições rotações e direcionalidade linear. Assim, o sistema vestibular tem duas componentes relacionados: o sistema semicircular canal, (relacionados com a rotação de detecção) e os otólitos , (relacionados com a detecção de aceleração linear / desaceleração).

O sistema vestibular envia sinais principalmente para as partes neurais do cérebro que controlam nossos movimentos oculares, e que nos manter em pé.


Sistema  propriocepção

Propriocepção (sensação de músculos, articulações e tendões)

O sistema proprioceptivo detecta a posição, localização, orientação e movimento dos músculos e articulações do corpo. Propriocepção fornece-nos com o sentido da posição relativa de partes vizinhas do corpo e esforço usado para mover as partes do corpo.

Fonte: Johanna Cordeiro

Estimular o desenvolvimento com bambolê

Quando ouvia uma determinada música girava sem parar, e não sentia tontura. Isso foi bem no início da minha carreira profissional. Pensava comigo: como que numa aula de música posso ajudar esta criança? Tocar instrumento ou cantar, ele pedia para parar, quando colocava uma música no rádio, girava sem parar.
Até que, um dia peguei o bambolê e comecei a brincar com ele. Quando o bambolê caia no chão o movimento deveria parar. E olha que funcionou. Ao girar ele recebia o estímulo (a sensação) que buscava, mas quando o bambolê caia no chão, seu corpo finalmente conseguia perceber e se acomodar apropriadamente.
No passo seguinte, foi introduzir a bola com ritmo musical (sentar na bola, quicando dentro da marcação rítmica proposta, cantando uma canção). Isso fez com que passasse a assistir seus clipes musicais em casa, sentado na bola marcando o ritmo, parando assim, de girar em torno de si.
Abaixo seguem algumas dicas do uso de bambolê, aproveite!

Prender o bambolê cheio de fitas coloridas no alto e estimulara criança a passar por ele: atividade sensorial tátil


Prender o bambolê no alto e pendurar nele circuito de lampadas de led (iguais aqueles colocados em árvore de natal): atividade sensorial (tátil e visual)


Usar o bambolê para fazer bola de sabão gigante: atividade sensorial tátil….bimanual…de cooperação…


Fazer vários furos no bambolê e acoplar ele a uma mangueira: atividade de coordenação motora fina e sensorial tátil e proprioceptiva


Prender o bambolê no alto circundado por lençol: atividade sensorial que pode ser usada para trabalhar interação e aspectos perceptos-cognitivos, além dos aspectos emocionais


Andar junto com outra pessoa por dentro do aro do bambolê: atividade de coordenação motora e de propriocepção, além de trabalhar compartilhamento


Rodar o bambolê na cintura: atividade proprioceptiva, de coordenação motora, de ritmo, de mobilidade,…


Rodar o bambolê em um dos braços: atividade proprioceptiva, de coordenação motora, ritmo e lateralidade


Rodar dois bambolês ao mesmo tempo sendo um em cada braço: atividade proprioceptiva, de coordenação, ritmo, de integração bilateral e sequenciamento,…


Pular de um pé só dentro do bambolê: atividade de coordenação, de propriocepção, de equilíbrio, de lateralidade,…


Pular com os dois pés juntos dentro do aro do bambolê: atividade proprioceptiva, de coordenação motora, de ritmo,…


Brincar de dentro e fora usando música: atividade de organização espacial


Pular com os dois pés rodando o bambolê de trás para a frente do corpo: atividade proprioceptiva, de coordenação, ritmo e de preensão e mobilidade do punho


Pular dentro do bambolê, ora com um pé e ora com os dois pés: atividade de integração bilateral e sequenciamento


Disparar água dentro do bambolê que está suspenso, respeitando as cores escolhidas ou pré-determinadas: atividade bimanual, de atenção, de coordenação, equilíbrio,…


Passar por dentro dos aros dos bambolês: atividade de coordenação motora grossa


Rolar o bambolê: atividade de coordenação, equilíbrio e integração bilateral


Confeccionar bambolês com mangueira transparente e encher elas com contas coloridas: atividade de confecção e de coordenação motora…bimanual, de atenção,…


Usar o bambolê como tear: atividade de confecção…de atenção….bimanual…de coordenação motora fina


Usar o bambolê preso na parede para  funcionar como a circunferência de um relógio: atividade de orientação temporal e de cognição….Pode ser usado também para trabalhar conceito matemático…


Usar bambolês como espaço para somatório matemático indicado no balão: atividade cognitiva


Usar os bambolês para trabalhar noção de conjuntos (intersecção, inclusive): atividade cognitiva


terça-feira, 27 de outubro de 2015

Avaliação de desenvolvimento auxilia a identificação de atrasos


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O desenvolvimento das crianças é muito mais do que seu crescimento. As crianças crescem, desenvolvem-se e aprendem desde que nascem, e esse desenvolvimento pode ser acompanhado observando a forma como brinca, aprende, fala e se comporta. Este folheto do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), disponível em português, orienta especialmente pais e cuidadores sobre as avaliações que podem ser feitas quando há suspeita de atrasos no desenvolvimento.
Como não existem análises laboratoriais ou sanguíneas que possam revelar se a criança tem algum atraso, a avaliação de desenvolvimento serve como triagem e poderá determinar se a criança deve ser levada a um especialista. Se um atraso de desenvolvimento é detectado precocemente, a criança pode receber ajuda para superar estes problemas e pode entrar na escola com uma maior capacidade para aprender.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

COLUNA DO DIA: Que tal você também se tornar um amigo do idoso?




Iniciei a semana participando como palestrante no III SEMINÁRIO DE SAÚDE E ENVELHECIMENTO DO GRUPO RENASCER, do Hospital universitário Gaffrée e Guinle, na Semana de Integração Acadêmica na UNIRIO e cujo tema abordado foi a Trajetória do Envelhecimento na cidade do Rio de Janeiro.

     Neste dia, tive a oportunidade de trocar ricas e importantes informações no que diz respeito ao envelhecimento ativo e aos projetos de qualidade realizados por empresas privadas, órgãos públicos ou associações que se preocupam com o futuro do nosso país, aumento populacional com pessoas com mais de 60 anos percebido ano a ano.

Trabalhos encantadores são realizados e alguns desses programas de atenção ao idoso foram apresentados tais como; o do CEPE (Centro de Envelhecimento da Secretaria Municipal de Saúde), o da ABRAZ (Associação Brasileira de Alzheimer), o CMS (Posto de Saúde Dom Hélder Câmara) , o Grupo Renascer (do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle), além do trabalho em que participo no PROJETO VIVA MAIS (AVHA-Associação dos Veteranos do Hospital do Andaraí, localizado no anexo do Hospital do Andaraí).

   Com a expectativa de vida da população chegando aos 74 anos e 06 meses de idade, segundo dados do IBGE, com a melhora da condição de vida e as famílias tendo cada vez menos filhos, o índice de mortalidade e o de fecundidade baixou; melhorou as condições de vida do brasileiro, apesar das dificuldades ainda enfrentadas, que diferem muito daquelas da década de cinquenta, onde a grande maioria das pessoas não chegava à velhice, pois morriam antes dos 50 anos em decorrência principalmente de doenças infecciosas e parasitárias. Diante disso, gradativamente, o Brasil segue deixando ser um país jovem, tornando-se, assim como diversos países europeus, um novo país de idosos, já que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera uma população envelhecida quando a proporção de pessoas com 60 anos ou mais atinge 7% com tendência a crescer mas ainda assim, o país se depara com o desafio de melhorar a qualidade de vida destas pessoas em diferentes setores. E um dos focos é a saúde.

   Percebe-se, porém, que as políticas públicas de prevenção ainda são insuficientes e população idosa permanece sofrendo com a falta de respeito nas ruas, tanto no transporte coletivo, acessibilidade quanto no atendimento à saúde. As violações de seus direitos também ocorrem dentro de casa. Tais como maus tratos, agressão abandono, negligências, abusos financeiros e autonegligência. Ressaltando, que a negligência, conceituada como a recusa, omissão ou fracasso, é uma das formas de violência mais presentes tanto em nível doméstico quanto institucional em nosso país, dela advêm, frequentemente, lesões e traumas físicos, emocionais e sociais para a pessoa. Só no ano passado, o número de denúncias de violência contra o idoso mais do que dobrou.

   Na palestra acima referida, contei sobre minha participação como fonoaudióloga e sobre utilização da Técnica do Esparadrapo (Spiral Taping), no PROJETO VIVA MAIS da AVHA (Associação dos Veteranos do Hospital do Andaraí), localizado no Hospital Federal do Andaraí, um trabalho imensamente prazeroso a que fui convidada a realizar pela minha querida mestra Abigail Caraciki. O projeto existe a 18 anos, oportunizando, diariamente, uma media de 80 atendimentos diários, sem fins lucrativos, e é mantido pelos próprios assistidos e profissionais voluntários, com idade mínima de 60 anos. O projeto se propõe a oferecer atividades diversas, lúdicas e terapêuticas, aos idosos com diferentes necessidades.
   Em mais de dois anos de participação nas atividade do projeto, é curioso perceber que a procura por esse tipo de atendimento vem aumentando em pessoas abaixo de 60 anos é cada vez maior. Em função disso, entendemos que, mesmo em idades menos avançadas, há uma forte procura por qualidade de vida.

   Fundado por um grupo de médicos e ex-diretores do Hospital do Andaraí, atualmente presidido por Dr. Thaumaturgo Gayo (Oftamologista) e Dr. Galdino (Pediatra), e composta por uma equipe multidisciplinar com médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, educadores físicos, psicólogos, massoterapeutas, terapeutas alternativos e um professor de dança. Todos são voluntários. 

   Quando os idosos aceitam a proposta de se deslocarem alguns dias da semana a um local em busca de qualidade de vida e de uma melhora para resolver algo que os incomodam, provam que as ações do projeto tem importância e nosso trabalho vem despertando interesse pelo que se propõe a realizar. É reconhecido que o idoso precisa ser convencido da importância da manutenção da sua expectativa de vida, logo só desperta o interesse por aquilo que realmente o faça continuar vivendo com qualidade.

   A forma de aprendizado do idoso para coisas novas é diferente dos jovens, ele precisa ser convencido da importância e ter interesse naquilo a que se propõe. O idoso, por exemplo, para ter interesse em usar as mídias eletrônicas, que fazem parte do nosso cotidiano, mas não do cotidiano dele, terá que ser apresentado às mídias como importantes à sua integração social, e mais do que isso, ele precisará ser convencido a utilizá-lo, tais como aulas interativas de informática ou quem sabe até um intercâmbio com outros pessoas, amigos e familiares no computador através de redes sociais.

   Chegar a terceira idade bem é uma conquista e um grande desafio. E viver mais e com qualidade demanda incorporar ao dia a dia, por exemplo: atividade física e alimentação saudável. Ser estimulado fisicamente e também cognitivamente é uma construção para um envelhecimento ativo.

   E após tantas trocas com esses profissionais dedicados em seus projetos, fecho a semana com a participação no III FÓRUM INTERNACIONAL DE LONGEVIDADE. Mais estudos, mais pesquisas, e mais conhecimentos ofertados por grandes talentos e nomes da Geriatria e Gerontologia Mundial, reunidos em prol do envelhecimento ativo. O fórum foi presidido pelo Dr. Alexandre Kalache (ILC-Brasil) que, com sua simplicidade e sorriso, recebeu a todos com muita disponibilidade.

    Neste fórum, tivemos a oportunidade de conhecer todos os representantes e membros do ILC-GA, (Global Alliance of International Longevit-Centro Internacional de Longevidade), um consórcio internacional com status consultivo junto a ONU (Organização das Nações Unidas) e representada por 17 países, a saber: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, EUA, França, Holanda, Índia, Israel, Japão, Reino Unido, República Dominicana, República Tcheca e Singapura.

    É impressionante saber que a cultura do envelhecimento bem-sucedido em outros países já é criada por comunidades sustentáveis de cuidados sociais e de saúde em cujas ações percebemos: preocupações com a saúde, padrão de vida, acessibilidade, seguridade, proteção e teleatendimentos aos idosos, promovendo assim, verdadeiras Cidades Amigas do Idoso.

    Com objetivo de manter o corpo e mente em forma, exemplos de projetos realizados foram apresentados, como centros de treinamentos e oficinas de vivência a cuidadores ou outros que mais lidem com os idosos, tais como porteiros, enfermeiros etc.; construção de áreas públicas para prática de atividades físicas, centros de convivência adaptados a idosos com demência, tornando-os assim, verdadeiros amigos dos idosos e criando uma sociedade acolhedora e melhor para todos.

   Diante disso , faço a seguinte pergunta: o Brasil está preparado para o envelhecimento de sua população?

    Se a vida não trouxer nenhum contratempo, a velhice é inevitável e se podemos tornar ela ainda melhor e feliz, por que não? Por enquanto, vamos seguindo acreditando sempre em um ideal e nas empresas privadas ou não, que continuem seguindo com seus trabalhos de reconhecimento, e qualidade de excelência propondo assim, ideias diretivas para políticas públicas e mobilização social fortalecendo a construção cada vez maior desse setor tão importante para o país.

   Abrace essa ideia, seja também um Amigo do Idoso.


Até a próxima!

CRFa 7364-RJ

Fonoaudióloga, Sociopsicomotricista Ramain-Thiers, Docente da AVM  Faculdade Integrada, cursos de pós graduação (UCAM), Eventos em Educação presencial e on-line, Supervisora na Formação em Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers, Palestrante em eventos de educação e saúde.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

“Ninguém deveria estar na escola às 7h da manhã”


Baixa performance escolar, aumento de peso, sintomas depressivos, declínio da atividade física. Efeitos nocivos como estes relacionados à privação do sono deveriam bastar para comprovar a importância de uma noite bem dormida.
Nas últimas décadas, porém, a ciência vem mostrando como um sono de qualidade é fundamental para a aprendizagem ao consolidar memórias e estimular nossa cognição.
Mas as escolas continuam ignorando estas descobertas ao praticar horários que estão muito aquém da necessidade de sono dos alunos.
É o que defende o neurocientista pós-graduado pela Harvard, Fernando Louzada. Em conversa com Carta Educação, o coordenador do Laboratório de Cronobiologia Humana da Universidade Federal do Paraná (Labcrono – UFPR) falou sobre como a reorganização do tempo pode ser mais uma contribuição para a melhora da educação como um todo.
Carta Educação: Como o sono está relacionado com a aprendizagem?

Fernando Louzada: Ele é importante não só para a consolidação do aprendizado. O sono e mais particularmente os sonhos possibilitam a geração de novas ideias, a criatividade e, consequentemente, a capacidade de resolução de problemas. Trabalhos mostram que dormir ajuda a formar memórias declarativas, que é toda aquela que você consegue declarar como nome, datas, fatos, locais e também a memória procedural, ou seja, motora. Se você aprende a realizar uma tarefa motora de digitação, por exemplo, quando você dorme, o sono melhora o seu desempenho ou impede a piora. O sono também favorece o insight, a resolução de problemas. Como a gente descobriu isso? Propomos um desafio de videogame para voluntários e quando eles não conseguiam passar de certa fase, dormiam uma sesta. Comparado com outro grupo que não dormia, as pessoas que tiravam o cochilo dobravam a chance de sucesso em resolver a tarefa.

CE: Por que?

FL: A gente pode pensar no sonho como uma simulação da realidade. Tem uma área cerebral pré-frontal que é fundamental para a consciência, para o planejamento, que te situa, então se você pensar em fazer uma coisa muito maluca, ela te ajusta às regras sociais. Durante a fase que a gente chama de REM, fase do sono que sonhamos mais, essa área está inativa. Por isso, surgem associações absurdas que na hora você não acha. Nada é absurdo nos sonhos, você se permite fazer associações nos sonhos que você não se permitiria durante o dia. Então os sonhos são momentos muito mais criativos do que a vigília.

CE: Neste sentido, a soneca depois da realização de uma tarefa também é eficaz?
FL: Há estudos mostrando que episódios bem curtos de sono já são suficientes para reter aprendizados. Quando você dorme um sono de dez, quinze minutos, você não entra na fase REM. Esse sono, por falta de nome melhor, a gente chama de sono “não REM” e também é importante para a cognição. Por exemplo, este estudo que a gente fez com o videogame mostrou essa evolução no desafio após os voluntários terem dormido 1h30, na fase “não REM”.
CE: Partindo dessas descobertas, os horários das instituições de ensino estão condizentes com as necessidades de sono dos alunos?
FL: Não. A lógica que define os horários das instituições é uma lógica que desconsidera todo este conhecimento. É lógica de que é possível fazer o que quiser com o sono. Se eu quiser dormir mais cedo eu posso, se eu dormir menos também não tem problema. Por trás dessa lógica, tem a ideia de que dormir é uma perda de tempo e que acordar cedo tem mais valor na sociedade. As pessoas continuam criando concepções a partir da própria experiência. Então se você é uma pessoa que tem facilidade para acordar cedo e tem uma necessidade de sono que não é grande, você não entende o que é precisar de mais ou não conseguir acordar cedo. Mas a ciência já mostrou há algum tempo que existem diferenças individuais relacionadas à estrutura do sistema nervoso, à estrutura genética dos relógios biológicos.
CE: Então cronotipos são conceitos cientificamente embasados?

FL: Claro, já estão descritos os genes associados a isso. Se você deixar a critério de preferência, algumas pessoas vão acordar muito cedo e outras muito tarde. Se você comparar estes dois tipos nas férias escolares, encontra diferenças de 12 horas de um aluno para o outro. Aí o horário escolar traz todo mundo para o mesmo fuso. Mas ao fazer isso, não faz de uma forma intermediária, traz todo mundo para o fuso matutino e esse é o problema. Faço uma analogia com a depressão. Quem nunca teve um episódio não sabe o que é estar deprimido. As pessoas falam “não pode ser que você não consiga sair da cama, ir trabalhar”. A lógica é a mesma, quem nunca teve dificuldade para acordar cedo não consegue imaginar o que é não conseguir sair da cama de sono, acha que é preguiça.

CE: Há um preconceito com a pessoa que acorda mais tarde?

FL: Com certeza. Os próprios políticos disseminam essa ideia com o discurso do “eu sou dedicado, acordo às 4h da manhã para trabalhar” e isso se tornou um valor dominante na sociedade. Quem que é promovido: quem chega antes ou quem chega sempre atrasado no trabalho? Dentro dessa lógica, quem adquire os postos de comando e de decisão são os matutinos, a sociedade privilegia demais esse cronotipo.

CE: Qual seria a organização temporal ideal para a escola levando em consideração as diferentes necessidades de sono que o indivíduo tem ao longo da vida?

FL: Em termos ideais, estaríamos falando de uma escola em tempo integral e isso não significa entrar às 6h da manhã e sair às 6h da tarde. No Ensino Infantil, tem que ser dada a oportunidade para a criança fazer a sesta, ou seja, dormir depois do almoço. Como? Força todo mundo a deitar e dormir? Não. Você tem que ter dois ambientes. Um ambiente do sono e um ambiente das atividades lúdicas, da leitura, enfim do que a escola decidir para aqueles que permanecerem acordados. Porque não é uma obrigação dormir, é uma possibilidade. Ninguém deveria ter que entrar às 7h da manhã na escola, mas se houver a necessidade por conta de espaço físico, da escola ter que funcionar em dois turnos, entre outras coisas, quem tem mais facilidade para acordar cedo? São as crianças. Quem tem filho sabe que quem te tira da cama às 6h da manhã são os filhos de quatro, seis anos de idade, não é o filho adolescente.

CE: Mas fazemos o contrário. Conforme os alunos vão crescendo e avançando na escola, vamos adiantando o horário do início das aulas.

FL: Tudo isso está atrelado ao preconceito de que é preciso “preparar” o adolescente para o mundo do trabalho, de que a vida de adulto é dura e que ele tem que se acostumar, criar essa rotina. O que não é verdade. Ao perceber que isso tem muito a ver com a produtividade do funcionário, o mundo corporativo tende a ser muito mais flexível em relação aos horários de trabalho. Mas as escolas não, porque as escolas ainda carregam essa ideia militar, que a disciplina se dá dessa maneira.

CE: E no caso do Ensino Médio, qual seria o horário ideal?
FL: A Academia Americana de Pediatria sugere iniciar as aulas depois das 8h30. Já é um grande avanço, mas o que eu tenho proposto é um horário flexível. Ter um núcleo comum que começa às 9h e vai até o 12h e um outro núcleo com horário flexível com atividades como aula de língua, educação física, etc. Então se você entrou às 7h você sai 12h e se você entra as 9h você sai as 14h. O adolescente precisa dormir nove horas em média e durante os dias letivos está dormindo sete e meia. O argumento daqueles que são contrários é que não adianta começar a aula depois porque o adolescente vai começar a dormir mais tarde. Claro que adianta, porque uma coisa é você precisar dormir às 22h, outra é meia noite. Mostramos em uma pesquisa que independentemente do horário que o jovem tem que acordar para ir para a escola, ele dorme no mesmo horário. Por isso eu brinco que a melhor escola é aquela perto de casa porque é aquela que oferece mais tempo de sono.

CE: A tendência vespertina do adolescente é somente biológica ou há a contribuição de fatores ambientais, comportamentais, como ficar na internet, jogar videogame, entre outros?

FL: Na minha tese de doutorado, fui atrás de comunidades rurais que não tinham acesso à tecnologia para entender isso. A tendência a atrasar os horários do sono é biológica no adolescente, você encontra inclusive em comunidades que não tem acesso à energia elétrica. Só que a tecnologia exacerbou demais isso. Então nas comunidades rurais essa inclinação é pequena, mas nas comunidades urbanas é enorme.

CE: Se as escolas mantiverem os mesmos horários, há estratégias para beneficiar o sono do estudante?

FL: Sempre resisto em dar esse tipo de recomendação porque a gente acaba jogando para o indivíduo uma solução que deveria ser social. Mas, claro, isso não vai mudar de hoje para amanhã. Em alguns casos, a sesta é uma estratégia que pode ajudar, não sendo muito longa para não atrapalhar o sono noturno (1h, 1h30). Mas não é boa para pessoas que sofrem com inércia de sono, ou seja, acordam e continuam sonolentas, tem dificuldade para pegar no tranco de novo. Outra está relacionada a ajudar o relógio biológico entender os horários. Por exemplo, reduzir a estimulação luminosa a noite e aumentar de manhã.

CE: Em sua opinião, por que resistem em fazer essa mudança no horário escolar?
FL: As pessoas ainda não incorporam a ideia da importância do sono. Há um preconceito, ideias muito arraigadas na sociedade em relação a isso, desconhecimento. Acho também que tem uma questão – que eu entendo – por parte dos educadores que é “eu tenho tantos problemas mais sérios e vem esse cara falar que eu preciso mudar o horário”. Tem problemas tão graves que realmente é difícil sensibilizar, mas por outro lado acho que a tragédia educacional brasileira é tamanha que a gente tem que atuar em todas as frentes, tem que fazer de tudo para tentar melhorar.

Fonte: Carta Capital